quarta-feira, junho 28, 2006

E no entanto...

"Campo de concentração de Buchenwald. Fotografia tirada no dia da libertação do campo pelas tropas aliadas em Abril de 1945. No segundo beliche, o sétimo a contar da esquerda é Elie Wiesel." In Wikipedia


Jornalistas, intelectuais, Estado Novo e censura. Bailam à frente dos meus olhos nomes, referências e ideias (então Ruy Belo pertenceu à Sedes?). E no entanto não consigo esquecer as palavras ditas de mansinho que escutei há horas a Elie Wiesel. Falava Wiesel, e ouçam-no mesmo a falar, sobre o mal, a destruição e a humilhação com que é possivel uma pessoa subjugar outra de forma a aniquilá-la. E na sua incompreensão relativamente ao significado desses actos, ao sentido dessa experiência. Onde está a resposta que ajude a compreender uma política que ponha em acto fazer primeiro com que se perca a nacionalidade, depois o bairro, o gheto, a rua, o grupo, a família, o nome, o número, e finalmente a vida?

"And yet...", diz ele que é sua expressão preferida.

E no entanto..., cá estamos. Nós que afinal só temos que sobreviver a esta vidinha dividida entre a burocracia estatal e os sobressaltos da inteligência e da emoção que ainda conseguimos sentir.

Oh as casas as casas as casas, de Ruy Belo

Um dos poemas mais amados de um dos poetas mais amados.



Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
respirei - ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
Ruy Belo, Todos os poemas, Lisboa, Assírio e Alvim, 2000, p.212.

Lei das rendas

As nossas cidades conseguem ser de uma beleza rara e de um horror insustentável, ao mesmo tempo e na mesma rua. Lisboa, vista ao longe, do degradado mas lindo cais do Ginjal, por exemplo, é a cidade mágica do mediterrâneo. O Porto, visto ao longe, do cais de Vila Nova de Gaia, é uma sucessão de fortalezas com pormenores de renda de bilros nas suas moradas. Outras cidades, imersas na luz ou no verde, surgem-nos galantes, mas depois... percorridas as suas ruas, há muitas vezes o sentimento de que se nos cola a alma ao degradado dos edifícios, à miséria que adivinhamos em alguns lares, à pobreza de alguns restauros.
Agora aí está a nova lei das rendas que é esperada há anos. Será que vai pôr fim à ganância de alguns senhorios e de alguns inquilinos? Que vai reequilibrar o mercado, mas sobretudo, reequilibrar o urbanismo nas cidades?
O que eu sei de inquilinos que andam a tentar extorquir dinheiro aos seus senhorios, depois de terem vivido toda uma vida nessas casas e de nelas já não habitarem há tempos porque foram gozar a sua reforma para fora de Lisboa, e o que eu sei sobre senhorios que deixam degradar propositadamente a sua propriedade para obrigar os inquilinos, muitos deles fragilizados economicamente, a sair, já dava um opúsculo. Mas deixo isso para quem sabe melhor.

comunicação política no seu melhor

O presidente da Câmara Municipal de Viseu e presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Fernando Ruas, fez, mais uma vez, um discurso do mais fino recorte em retórica política. Desta vez ouvimo-lo dizer durante uma reunião com autarcas que estes deviam "correr à pedrada os fiscais do ambiente", já que estes estariam a ser um empecilho ao desenvolvimento das regiões, garantindo depois que sabia muito bem o que estava a dizer. Ora num país que peca por excesso de reformas na maior parte das áreas dos serviços públicos que depois nunca são fiscalizadas, logo nunca são acompanhadas na sua implementação e desenvolvimento, e num país que desbarata o seu meio ambiente, isto cai que nem mosca na sopa.
O que pensará disto a recém criada comissão da Unesco para a Educação do Desenvolvimento Sustentado? Comissão que tem, aliás, o documento aberto para discussão pública no blogue "Desenvolvimento sustentável".

terça-feira, junho 27, 2006

ONU - 1948

Escrevia Pinheiro Torres no diário "A voz", no dia 1 de Nov. de 1948, p. 1: "(...) um parlamento, cuja instalação custou cerca de 900 milhões de francos, e onde há de tudo, inclusivamente uma enfermaria completa, preparada para os casos de urgência, até de um parto imprevisto.
Para os 58 ministros dos Negócios Estrangeiros, que estão reunidos em Paris, são necessárias mil e quinhentas secretárias, além de muitos milhares de delegados e jornalistas.
A isto chama-se Organização das Nações Unidas, no seio da qual reina a maior desunião, verificando-se dia a dia a existência de dois blocos, que não podem entender-se.
Ninguém acredita na ONU, ninguém espera nada dela. (...)".

Escrevia José Augusto no "Diário Popular" a 11 de Dezembro de 1948, p. 4: "A Sexta Comissão, estabelecendo as bases jurídicas do Genocídio, terá bem merecido da Humanidade inteira. Não era, pois, justo que sobre os seus trabalhos se tivesse tecido um silêncio tão grande - silêncio feito de descrença e cepticismo... (...)
A máquina da ONU é cara, (os Estados Unidos que o digam), mas a guerra que se faz, custa bem mais caro do que a Paz que não se alcança."

Em 1948 estavam em guerra a Palestina, a Grécia, a China, a Indonésia, a Indochina (sudoeste asiático), a Índia com o Paquistão.

Acompanhar o seguinte blogue de José Adelino Maltez, História do Presente:1945

segunda-feira, junho 26, 2006

Austrália/ Portugal

Os esquerdistas portugueses querem a manutenção do caos em Timor? Sem a pressão da Austrália sobre o presidente da Indonésia, Timor, "esse acidente histórico", não se teria tornado uma nação independente? A Austrália, muito solidariamente, até celebrou um acordo petrolífero vantajoso para Timor? O senhor Alkatiri é um marxista à solta num Estado de direito? Ena, ficamos todos mais esclarecidos com este editorial.

Bandeira portuguesa

Tal como o excesso da sua presença não me incomoda, a sua ausência também não me levantava problemas. E lembro-me até de como ainda há uns anos nos Açores (provavelmente devido aos hábitos dos emigrantes do arquipélago provenientes na sua maioria dos EUA e do Canadá), eu sorria sempre que vislumbrava uma bandeira portuguesa hasteada, pela novidade da prática e pelo desafio que representava os açorianos quererem afirmar-se no mundo como portugueses. Nada de admirar para quem lhes conhece a história social e política, de admirar para quem os soube praticamente abandonados à sua pouca sorte, no que a um desenvolvimento económico diz respeito, durante quase todo o século XX.
Leitora casual da imprensa portuguesa do pós-guerra é-me frequente encontrar bandeiras portuguesas nas fotografias que acompanham as acções governativas, sociais e culturais do Estado Novo. O culto pela nacionalidade é evidente. Julgo que terá sido contra esse excesso, e o que ele representava no cerceamento de liberdades que se sabia existirem noutras comunidades, e pelo preenchimento do espaço que se deixara vazio, o espaço do estrangeiro, dos outros Estado distintos do nosso, que a revolução do 25 de Abril trouxe novas bandeiras que vieram ocupar o lugar da bandeira de Portugal. Havia as bandeiras partidárias, as sindicais, as dos clubes de futebol e as das autarquias e guardava-se a bandeira portuguesa para as sessões solenes ou para os jogos olímpicos dos nossos desejos.
Bom, agora, sem preconceitos nem revivalismo político, vejo-a como sinal de consentida identificação de um povo e da sua ligação à terra. Se foi através do futebol que isso aconteceu importa-me pouco, pois mais vale ser o futebol a levar as bandeiras às janelas do que uma reacção xenófoba colectiva, ou como reacção de medo aos outros, ou de arrogância nacionalista. Prefiro mais ouvir as buzinas a tocar do que os tambores a rufar.

sexta-feira, junho 23, 2006

Timor

As palavras do General Alfredo Assunção . Mas também não me consegue convencer totalmente quanto à autoria da criação do "facto" político em Timor, porquê?

Timor

Sim, obrigada, andarilho. Vou seguir o que escreve sobre Timor.
Seguirei também o que escreve Ana Gomes, Tiphon e Paulo Gorjão, entre outros, para poder ter discursos variados que procurarei depois fazer cruzar. Espero que me dêem mais factos do que opiniões, porque essas consigo formar eu. E opiniões sem sólidas informações a sustentarem-nas não são exemplo para nada.
No post anterior também me enganei ao dizer que sobrevalorizei a influência da ordem externa sobre Timor, na realidade subvalorizeia-a desde o início, circunscrevendo-a à manifestação de interesses legítimos por parte da Austrália em querer assegurar estabilidade social e política na região. Terei que estar atenta.

quinta-feira, junho 22, 2006

As desventuras de um senhor inglês em Bruxelas


Que haja muitos carros com bandeiras portuguesas a apitar no Domingo à noite. Oops, sorry David!

Football is not my sport
Posted by David Rennie at 22 Jun 06 20:59

Football is not my sport, to put it politely, so I had expected to spend the World Cup in a state of near-total ignorance, with no idea about day-to-day results. I underestimated the effects of living in a melting pot like Brussels, where nearly half the inhabitants are non-native.International residents in Berlin also show their colours I always knew I was one of many foreigners in my commune – scruffy, lovable Saint-Gilles. But in the last few days of football madness, flags of all nations have sprouted on shop fronts. More flags hang from the art nouveau balconies of the crumbling mansions that line each boulevard. Suddenly, the nationalities of my neighbours have been magically revealed. Looking up at a large apartment block, it is as if someone has waved a wand, or pulled aside a curtain – oh, there’s a Turkish family, next to Brazilians, and Italians on the other side. And look at all those Portuguese. I knew this had once been a Portuguese and Spanish area, but thought they had moved on, replaced by the North Africans and Poles I meet each morning on the streets. I had no idea how many remained. Cycling to the next-door commune of Anderlecht, I began idly counting Portuguese flags, and gave up after I reached 30. And that is how I have been learning the results of matches, too. Whenever I hear cars whizzing up and down the main streets, tooting their horns in triumph, I just check the flags. Tonight, giant Italian flags are flapping from car windows, beneath my office windows. So I assume Italy won a match this afternoon. If you are not following the World Cup closely either, I can post more results tomorrow… if you can wait a few hours for me to check the flags, and you don’t mind not knowing the losing team.
Posted by David Rennie at 22 Jun 06 20:59

Timor

Bom, vejo agora que a minha penúltima interpretação sobre a situação em Timor, assente nas informações que a diplomata timorense tinha exposto, revela um nível de ingenuidade arrepiante quer quanto à minha sobrevalorização dos interesses e das influências externas sobre Timor, quer sobre movimentações políticas internas relacionadas com a conquista do poder. Mas há quem esteja hoje a representar Timor na mais alta esfera política a quem também não faltou ingenuidade, ou visão política, o que é, isso sim, preocupante. Ontem.
E hoje, o voluntarista presidente timorense, estará a agir, "lui-même", com ponderação?
Cabe-nos também perguntar como é que o pessoal da ONU se relaciona com as populações para onde são enviados em missões de paz? Não há regras que lhes ensime a discrição e a contenção no relacionamento em público e no poder?
"Il n’y a pas eu d’affrontements entre le personnel de l’Autorité transitoire des Nations unies pour le Timor-Oriental (Untaet) et le peuple du Timor-Leste parce que nous avons agi de telle sorte que cela ne puisse pas se produire. Mais la tension était permanente. J’ai été obligé d’aller moi-même demander aux autorités onusiennes de partir immédiatement après la déclaration d’indépendance parce que je pressentais, à la fin de la mission, que le pire pouvait arriver d’un moment à l’autre. Il y avait beaucoup de frustrations, de malentendus, le choc culturel était évident. Par exemple, nombreux étaient ceux qui venaient me voir pour se plaindre du fait que le personnel de l’ONU disposait de nombreuses voitures, dépensait beaucoup d’argent dans les restaurants et les bars de Dili, occupait les meilleurs postes administratifs ou techniques. Les Timorais en étaient écartés, ils n’avaient pas d’emplois. Mes compatriotes étaient en fait les spectateurs d’une mise en scène financée par l’argent que les donateurs avaient voulu nous donner."
Xanana Gusmão

triste realidade: crianças desaparecidas

Para pensar e procurar agir: JN
Para apoiar: site do dia no portal Sapo

Onde estão as outras crianças desaparecidas em 2005 e que até agora não foram encontradas?

Realidade

Acompanhar as notícias sobre os acontecimentos, destacá-los de entre todas as realidades que percepcionamos diariamente, é uma tarefa para uma alma como a de Sísifo. No entanto, sem que eu tenha a energia ou a concentração na luta contra a mortalidade que aquele rei revelou, e sem esquecer que já aqui neste blogue comentei as relações entre israelitas e palestinianos, tenho que lamentar, mais uma vez, a displicência com que os Estados lidam com a vida de civis. Desta feita crítico Israel, porque tal como não comprendo os atentados contra a nação israelita, também não compreendo, nem é aceitável à luz do direito internacional, os raides que Israel tem direccionado contra a Palestina. Neste caso, a impotência da intervenção da ONU, por responsabilidade directa dos Estados Unidos, é bem visível nos últimos 50 anos. Um argumento de peso para todos os que defendem que o sistema polítco internacional depende em primeira instância dos interesses económicos, políticos e geo-estratégicos de cada nação em cada momento histórico, assim bem como do poder manifesto por cada potência involvida ao impôr esses interesses.

quarta-feira, junho 21, 2006

Solstício de verão

Ou como se consegue passar um dia inteiro quase sem o sentir, imersa nos acontecimentos políticos do mês de Dezembro do ano de 1948.
Como já então era visível na imprensa o alinhamento teórico dos defensores de uma leitura mais realista da acção política, pela análise das relações de poder das potências em jogo, contra os ideais dos universalistas, aqueles que James E. Dougherty e Robert L. Pfaltzgraff, jr, denominam de neoliberais.
Em Portugal podemos identificar, ainda que eu o vá fazer agora de forma simplista, argumentos de um lado e do outro, na forma como se atacou ou defendeu o papel das Nações Unidas no mundo. Diziam os realistas que se estava a gastar muito dinheiro numa organização excessivamente submetida ao poder soviético e sem autoridade, pois nem sequer conseguia fazer cumprir as suas resoluções para o Médio Oriente, isto em jornais como "A voz". Diziam os mais idealistas que há que continuar a fazer cumprir os princípios internacionais que regem a relação entre os estados de molde a manter a paz e evitar os crimes contra a humanidade, mensagens passíveis de serem lidas no jornal "República".
Devia desenvolver mais sobre este debate entre realistas e neoliberias no que a relações internacionais diz respeito. E no entanto..., o solstício lembra-me Deméter, Deméter lembra-me Mary Renault, Mary Renault lembra-me o cavalo de Alexandre, o cavalo lembra-me uma certa égua, uma égua lembra-me uma salamandra e uma salamandra lembra-me Stonehenge e Stonehenge lembra-me Marion Zimmer Bradley. É o que dá não apanhar sol.

terça-feira, junho 20, 2006

Política: relação meios-fins. Exemplos.

Tomem-se os seguintes exemplos de políticas que estão relacionados com fins: Nova lei das finanças locais. Leia-se, para se perceber qual é a finalidade desta lei e o que ela poderá trazer de novo às relações políticas entre cidadãos e o Estado, o editorial de Martim Avillez Figueiredo no Diário Económico de hoje, à tarde já deverá poder ser lido online, ou o editorial de Helena Garrido no DN Online. A nível internacional, uma decisão política relacionada com fins é a decisão do governo espanhol em permitir o referendo na Catalunha relativo ao novo estatuto para a região. Como se compreenderá, cada uma destas medidas, diferentes nos seus propósitos, têm como finalidade uma alteração radical do modo como as sociedades portuguesas ou espanholas, e mais especificamente os catalãs, entendem a sua relação com o Estado. Para o bem ou para o mal altera a concepção de Estado que temos todos. Cada uma à sua maneira são políticas que visam um fim: maior autonomia e responsabilidade dos cidadãos pelo seu destino político.

Políticas relacionadas com meios, logo problemas a exigir uma intervenção mais técnica do que ideológica: Em Portugal o relatório do Observatório dos Sistemas de Saúde, considera "atabalhoadas" as medidas que o Ministro da saúde adoptou relativamente ao caso do encerramento de maternidades. Meios mal explicados, adaptados e implementados. Eu, que sou contra o encerramento de maternidades, nomeadamente a de Elvas, e compreendendo que devo respeitar as decisões técnicas em geral mas sem me coibir de exigir mais e melhores serviços, nem vou argumentar com os casos de dor que aqueles pais estão a viver, e também porque foram obrigados a sair de Elvas para terem os seus bebés.
O senhor "ministro" diz que não comenta as críticas do relatório porque são juízos de valor. Mas os juízos de valor são muito objectivos, senhor Ministro, não os subestime, porque eles avaliam os meios (mal) aplicados.
Em Espanha enfraquece-se o poder da ETA ao deter-se os elementos do grupo que estariam relacionados com a manutenção do aparelho financeiro da organização separatista Basca. O que o governo espanhol concede em termos de finalidade política, não concede aos meios para-militares que visam obter qualquer fim político pela violência.

conhecimento

Não estarão a confundir a realidade com o preconceito sobre a realidade do pensamento filosófico, amigos meus que acham que não há influência na prática da teoria filosófica? Pois eu digo-vos que não conheço nenhuma teoria filosófica, nenhuma, que não tivesse uma influência determinante sobre a realidade, sobre as nossas formas de vida. É por isso que a distinção pouco realista entre juízos de facto e juízos de valor só interessa para efeitos de sistematização do pensamento, é por isso que me preocupa a pouca atenção dada pelos nossos governantes às ciências humanas e às humanidades em geral, porque não há tecnologia que sustente a força de uma ideologia. E sobre esta força é preciso ponderar.

segunda-feira, junho 19, 2006

Monty Python - International Philosophy

FM enviou-me esta referência. O mais divertido e fantástico de todos os jogos de futebol. É uma delícia.

Pensar a política

Ontem à noite fiquei a ouvir Pepetela no programa "conversa afiada" e por isso não assisti à entrevista de Pulido Valente. Sabia que hoje o podia fazer.
Pese embora o tom e a pose que aos meus ouvidos e aos meus oolhos são percepcionados como atitude de condescendência para com os restantes mortais pouco esclarecidos, o que me provoca alguma exasperação e é obstáculo à admiração plena, não posso negar que Pulido Valente pensa muito bem. E pensa bem mesmo havendo da sua parte uma identificação clara e excessiva para um pensador, demasiado excessiva para a forma como eu entendo dever ser a relação pensador/partidos políticos, aos temas e figuras representativas de um determinado partido.
Há nas análises de Pulido Valente uma ideia de história de Portugal, algo que é sempre aliciante tendo por contraste as “desabitadas” representações intelectuais com que somos confrontados diariamente nas análises políticas.
Parece-me que o historiador compreende algumas regras que regem a sociedade portuguesa de modo curioso, mas tenho pena que não tivesse conseguido responder, ou não tivesse querido responder, à objecção do director do Público quando este lhe perguntou algo deste género, cito de memória: "Sendo que os problemas de Portugal têm duzentos anos, tal como Pulido Valente estava a dizer (Estado gigantesco, deficit interno, etc), e se na realidade só durante o tempo de Salazar o problema das contas de Portugal esteve saldado, será então que a solução para Portugal ao nível financeiro só pode passar pela existência de um governo autoritário, não democrático?"

Pois a democracia em Portugal tem tido este preço. Há que reformá-la, mas a alternativa não é sequer ponderável. A alternativa das contas certas mas de um presente e de um futuro cívico e ético hipotecado.
Sim, e eu sei que ter boas contas é importante para assegurar a democracia. Mas não é de todo suficiente. Nem estou a admitir que Pulido Valente o considere suficiente, mas também não explicou que tipo de regime proporia, limitando-se a falar de como seria fácil cortar na presença gigantesca do Estado em Portugal, o qual está a financiar a classe média, que ele próprio criou, numa sustentação social difícil, quando devia ter sido a própria economia a produzir essa classe. Mas isto é uma questão de arranjos ou de reorganização de meios sociais, quando eu gostaria de ver discutidos era os fins propostos para a sociedade. São coisas diferentes.
A segunda exige pensamento, a primeira qualquer técnico especializado está a habilitado para o fazer.

blogues

Paulo Gorjão, no seu post 880, pergunta por que razão as pessoas não citam mais outros blogues. Eu, por exemplo, tenho duas razões para não o fazer: 1. Por vergonha. É uma razão risível, mas é esta. A mesma razão que me leva a não deixar nenhum comentário onde quer que seja, conheça ou não os autores dos blogues; 2. Por considerar que a minha lista de favoritos indica os blogues que eu leio, e admiro, com mais frequência, logo todos eles passíveis de citação. Não são razões muito pertinentes, mas são as que me justificam.

Ciência e investigação

Um roteiro pela ciência.
Esquecem-se as Ciências Humanas, uma vez mais, porquê?

domingo, junho 18, 2006

Portugal/Brasil

Ora aí está um texto descomplexado e lúcido de Luís Filipe Castro Mendes sobre as relações, sobretudo as que se dão ao nível do imaginário, entre Portugal e o Brasil. Pode ser lido no blogue Abrupto, o que não deixa de ser louvável tendo em conta a linha adoptada por JPP, que, ainda há poucos dias, escrevia um texto num estilo flagelador para o tipo de colononização e posterior presença de Portugal no mundo. Estilo este para o qual há já uma saturação intelectual, quando não irritação pela superficialidade das análises históricas.

sexta-feira, junho 16, 2006

Discurso político

Havendo consistência no discurso político não há grandes peças de jornalismo de investigação política, mas haverá um aumento de confiança entre governantes e governados.
O que acontece é que o trabalho bem feito do jornalismo equivale muitas vezes em política ao trabalho mal feito dos políticos. Vem isto a propósito de uma reportagem que o jornal da noite da TVI ontem passou sobre o hospital de Braga em geral e da sua maternidade em particular. O jornalista (cujo nome não memorizei e a cuja informação não tenho facilidade de acesso a partir deste computador) fez uma reportagem irrepreensível sobre as graves deficiências logísticas da maternidade de Braga, para onde o Ministro da Saúde quer enviar todas as parturientes de Barcelos.
Sem pôr em causa as conclusões científicas que advogam a necessidade de concentrar serviços de maternidade para aumentar a segurança do acto clínico, o jornalista referenciou os erros grosseiros por que uma grávida que tenha as suas crianças no Hospital de Braga será sujeita (como o facto de ter que percorrer um longo corredor e ser levada em elevador por dois andares onde passam todas as pessoas que circulam no hospital, tudo isto na companhia do seu recém nascido), já que o bloco de partos fica longíssimo da enfermaria. Acrescentou a informação de que só a partir de agora as parturientes vão ter um/a anestesista que lhes possa administrar a epidural. Tudo coisas que estão garantidíssimas no hospital de Barcelos que ainda no ano de 2002 fez obras de remodelação.
A propósito de obras, foi noticiada a pressa do Ministro em fazer obras no Hospital de Braga cuja empreitada não foi sujeita a concurso público. Fui eu que percebi mal ou o empreiteiro é o irmão do presidente da câmara?


As peças que nos são enviadas do Irão sobre a recepção dos iranianos ao encontro de futebol da sua selecção com Portugal são, ao mesmo tempo, perturbadoras, já que a carga discursiva e imagética que nos chega como notícias daquela região têm sido exclusivamente de cariz político e militar fortemente negativas, e reconfortantes, pois podemos ter um jornalista enquadrado com a cidade ao fundo a falar de coisas como um jogo de futebol e não de bombardeamentos ou de revoluções tirânicas.
Tudo isto tem um ar de normalidade comezinha, de tranquilidade na relação entre povos, facto que a diplomacia alemã não parece vislumbrar, tendo em conta a presença da equipa persa no seu território. Dá vontade de rir. O que é bom.

As análises de forma/fundo continuam a fazer sentido nas análises em comunicação política. É por isso que se pode questionar o tipo de apoio do presidente à Ministra de Educação e o “apoio” ao Ministro da Agricultura, quando o presidente falou desse membro do governo estando ao lado dos membros da associação de agricultores. Questionar significa surpresa e querer compreender esses discursos.

quinta-feira, junho 15, 2006

optimismo/pessismo

Há estados de coisas que deploro e que devia enunciar. Mas hoje não.

"O optimismo educado, de olhos abertos, compensa; o pessimismo só pode oferecer a consolação vazia de estar certo.
A única lição que se destaca é a necessidde de continuar sempre tentando. Nada de milagres. Nada de perfeição. Nenhum milénio. Nenhum apoclipse. Devemos cultivar uma fé céptica, evitar dogmas, ouvir e observar bem, procurar esclarecer e definir metas, os melhores que escolham os meios.

/.../ coloco diante de ti a vida e a morte, a felicidade e a maldição. Escolhe a vida ...

Deuteronómio "

David S. landes, A Riqueza e a Pobreza das Nações, Lisboa, gradiva, p.593.

quarta-feira, junho 14, 2006

O ideal republicano


Diz-nos David S. Landes no seu livro A Riqueza e a Pobreza das Nações:

"Na sua forma final, o mundo mediterrânico clássico acabou por se assemelhar politicamente às civilizações orientais: uma pequena e poderosa elite rodeada de clientes, servos e escravos e chefiada por um autocrata. Mas era apenas uma semelhança. Os dissidentes sabiam que isso estava errado, denunciaram e escreveram; e sofreram pelo seu inconformismo. O ideal republicano teimou em não morrer.", p.34.

Astérix e os Normandos


A adaptação do livro René Goscinny et Albert Uderzo "Astérix e os Normandos" ao cinema parece-se com uma versão em banda desenhada dos “Morangos com açúcar”. Aos destemidos normandos junta-se agora a jovem Abba, a filha do chefe Àchapadaf, que irá protagonizar com o jovem Atrevidex, o par romântico que os produtores devem achar necessário para levar as adolescentes a ver o filme.
Eu continuo a preferir o livro, sem a engraçada Abba, e sem o mago e seu filho que procuravam usurpar o poder pelo casamento com a filha do chefe, assente num contrato cujos termos foram falsificados.
Continuo a achar que o livro trata com humor a procura do sentimento do medo por quem o provoca aos outros sem inibições, é um bom princípio de solidariedade. E pelo livro ficamos a saber que os gauleses, mas sobretudo os romanos, devem ter ficado profundamente agradecidos ao bardo Cacofonix que, com a suas formidáveis canções, lhes ensinou finalmente o que era ter medo, “facto” que terá ajudado em muito a que os Vikings se tivessem mantido afastados e só tivessem voltado a ter vontade de invadir e saquear a Europa central e do sul cinco séculos depois desta sua ventura por terras gaulesas em 50 aC. O tempo que levou a estabelecer, ampliar e terminar com um império. Ao mesmo tempo que terminava uma forma de vida: a do mundo antigo.

O filme é agradável de ver e a dobragem está muito bem feita.

terça-feira, junho 13, 2006

O caminho que escolhemos

Όδός˙ `άνω κάτω μία καì ωύτή.

Chemin: vers le haut et vers le bas, un et même.


Caminho: para cima ou para baixo, um e o mesmo.

Heraclito


Sim, é verdade na vida dos sábios, não na vida de crianças e adultos maltratados. Não na vida dos povos, logo, não na política.
Nas mãos de tiranos esta ideia é uma arma poderosa, na mão dos submetidos também. Só que nesse tempo que medeia entre o tempo de submissão e o tempo de insubmissão, há aniquilação, vilania e sofrimento. E isso tem um valor demasiado elevado para que nos sintamos recompensados com as voltas que a vida dá. É um fraco substituto do sabermo-nos em paz.

segunda-feira, junho 12, 2006

domingo, junho 11, 2006

Portugal-Angola

Pergunta o repórter a um cidadão angolano que, com uma garrafa de champagne na mão, festejava em Monsanto no fim do jogo de Portugal com Angola: "Então o senhor, está a festejar o quê?" - "Olhe, estou a festejar à língua portuguesa."

sábado, junho 10, 2006

Portugal

Universalista. Europeísta. Patriota.
Portugal, meu amor.

sexta-feira, junho 09, 2006

Media e política internacional


Temos tendência a pensar que só existem uma ou duas teorias fortes sobre o efeito dos media nas decisões dos governantes, ou sobre o papel dos media na formação da opinião pública. Possuímos propensão para considerar que das duas uma: Ou os media têm um peso efectivo em dar continuidade, em fiscalizar ou suspender políticas no quadro dos interesses dos cidadãos, e por contraponto ao poder de Estado, ou, pelo contrário, que os políticos são, na verdade, mais ou menos indiferentes a essas manifestações, excepto se puderem servir-se dos meios de comunicação para fazerem passar a sua mensagem. Mas olhe-se só para a quantidade de teorias inventariadas por Eric Louw, e exclusivamente no que diz respeito ao tema do efeito dos media sobre a política externa dos países.

Eric Louw, no livro The Media and Political Process, publicado em Londres pela Sage em 2005, apresenta as oito teorias que, de acordo com as suas leituras, abrangem no total as investigações que se fizeram acerca da relação do poder dos media com o Estado, no que toca à sua influência sobre as decisões políticas que envolvam assuntos internacionais:
1. Os media como “manufactoras de consentimento” (“consent manufacturers”). Desde que as elites políticas e governativas estejam suficientemente coesas e com objectivos definidos no que à política externa diz respeito, os media serão sobretudos instrumentos de difusão desse plano; se as elites manifestarem desacordo ou dissenção, os media divulgarão e amplificarão essas controvérsias, reflectir-se-á sobre elas, sem que no entanto possuam o poder de influenciar na tomada decisões de política externa.
Nesta perspectiva, os media são analisados, sobretudo, como instrumentos usados para “produzirem consentimento” público acerca das políticas. São duas as causas apontadas: a). Ou os media fazem parte do mesmo bloco de interesses do poder político, económico e cultural, sendo que os seus proprietários e directores tendem a partilhar as mesmas visões que as elites governativas; b). Ou pode-se entender que o investimento cada vez maior em especialistas de Relações Públicas por parte dos ministérios dá os seus resultados quando se cria um sistema uniformizado e poderoso de desinformação, sistema criado para orientar os jornalistas na interpretação da realidade, o qual se impõe, sem crítica, como realidade definitiva nos discursos da maioria[1];
2. Os media como instrumentos ao serviço da classe dirigente (media como “lapdogs”). Teoria que assenta no pressuposto marxista de que cada época tem uma ideologia dominante que é imposta pela classe predominante, usando, para o efeito, as indústrias culturais (impressa, televisão, rádio, cinema, livros, música, pintura, etc.) que asseguram a sua reprodução nos diferentes estratos da sociedade[2];
3. Os media entendidos como agentes aptos a fiscalizar o poder político e económico, capazes de fazer chegar ao poder as opiniões críticas do público (media como “watchdogs”). Os defensores desta teoria entendem que um dos efeitos provocados pelos media é o de fazerem com que os políticos dêem atenção aos assuntos de interesse público que habitualmente ignoram. Relativamente aos assuntos de política externa, um dos exemplos de media que se vê como capaz de dar uma visão alargada dos assuntos que interessam ao mundo é a CNN. Esta estação, antes de 11 de Setembro, procurou contratar profissionais do mundo inteiro para contribuírem com uma visão mais individualizada dos problemas mundiais, na defesa da ideia de respeito pela multiplicidade de perspectivas. Presidia a concepção de com estes jornalistas se poderia defender outras visões que não as que eram exclusivamente adoptadas pelos jornalistas e decisores nacionais[3];
4. Os media como mediadores diplomáticos (media como “diplomatic Channels”). A televisão global teria trazido a possibilidade de se manterem as trocas de informação entre povos cujos Estados tivessem cortado relações diplomáticas, permitindo assim a continuidade de negociações paralelas e não oficiais que contribuiriam para a resolução de crises.
No que os críticos à teoria dizem ser uma missão impossível, dada a natureza negocial (“horse-trading) e de exigência permanente no estabelecimento de compromissos, inerente à função e actividade do diplomata, que não se compadece com esses exercícios estratégicos de relações internacionais mediatizados;[4]
5. Os media como agentes influentes na formulação da política externa ao serem capazes de mobilizar, através da indignação moral (“moral outcries”), o público e os seus líderes (media como “morality play”). Por esta teoria defende-se que os media têm um impacto substancial no tipo de políticas elaboradas para a política externa, quer pelo facto de os decisores políticos serem pessoalmente influenciados por estórias emotivas, quer pelos media serem capazes de modificar a opinião pública em geral.
Os críticos consideram no entanto que esse efeito só acontece se os políticos considerarem que alguns benefícios retirarão ao aceitarem essa apresentação da estória tal como os media a apresentam, e também no caso dos políticos se encontrarem divididos ou indecisos quanto à opção a tomar relativamente ao problema em apresentação. Neste caso tenderão a escutar e a deliberar a partir das mensagens que lhes chegam através dos media;[5]
6. Os media controlam as relações externas no sentido em que são capazes de criar estórias sobre assuntos internacionais que o público ache excitante (media como “hipe”), logo que condiciona a atenção de governados que pressionariam os seus governantes. Mas isso não passa de ilusão, dizem os críticos, porque não se pode admitir que o público que lê ou visiona notícias relacionadas com aspectos mais espectaculares da política internacional (exploração infantil. confrontos, guerras, estórias pessoais de violência ou de sexo) seja um público que se interessa pelo tema de relações externas, e que se quer ver esclarecido em assuntos públicos internacionais[6];
7. Teoria oposta à anterior e que defende que os media não têm nenhum efeito sobre a formulação nas políticas externas (media como “powerless”). Provas há que os “gritos de indignação moral” a que a CNN, por exemplo, possa ter dado extensa cobertura, não provocaram nenhuma atenção especial, ou orientação coordenada para esse tema, por parte da administração americana.
Geralmente os políticos só tenderão a defender a existência de um poder de influência dos media quando os podem acusar de serem eles as causa das suas desventuras, ocultando dessa forma os seus erros. Veja-se o caso do Vietname para os EUA. Ainda hoje há uma facção de líderes militares e políticos que consideram que perderam a guerra pela forma como esta foi televisionada[7];
8. Os media entendidos como fazendo parte do hegemónico jogo do poder (media como “enmeshed in power struggles”). Sendo que há estudos que apresentam os media como instrumentos utilizados para divulgar as agendas pelos mais diversos grupos de interesse, no sentido de se vir a influenciar directamente os decisores políticos, ou no sentido de vir a influenciar a opinião pública geral para que esta venha a influenciar, por sua vez, os decisores políticos.[8]
A sociologia permite-nos apresentar provas para cada uma das teorias que eu brevemente delineei a partir da obra de Louw, mas dá especial realce aos aspectos negativos do poder dos media na sua relação com o público e com os políticos. A nós, leitores ou espectadores, caber-nos-á ficar atentos e exigir um jornalismo ao serviço da informação e do esclarecimento, não ao serviço do público ou dos políticos, porque ambos, como vimos, podem condicionar de forma perversa a própria função de informar. Mas eu estou no domínio das ideias, na prática não será tudo tão linear. Mesmo assim é uma realidade perfeitamente alcançável.

[1] Eric Louw, The Media and Political Process, London, Sage, 2005, p. 259-260.
[2] Ibidem, pp.260.
[3] Ibidem, p. 261.
[4] Ibidem, p. p. 261-262.
[5] Ibidem, pp. 262-264
[6] Ibidem, p.p. 264-265
[7] Ibidem, p.p. 265-266
[8] Ibidem, p.266.

Eu também gostava de saber quem é que me representa no parlamento em Portugal, e, já agora, quem é o meu representante no parlamento europeu.

Porque a democracia também é assim como D. Rubenstein nos faz perceber. E em Portugal, e na Europa, escrevemos para quem?

"Later today (ontem) the House of Representatives will vote on whether or not to provide critical funding for humanitarian aid in Darfur. In a country where a state-sponsored genocide has already claimed over 400,000 lives and left millions more homeless and starving, this funding could literally mean the difference between life and death.
Last month, the United Nations was forced to cut daily food rations in half - well below survival level - due to lack of funds. We need your help today to make sure that this doesn’t happen again.
Please call your Representative today and ask that he or she vote for the Obey/Hyde/Lantos amendment which would add $50 million in humanitarian aid in Darfur. We have provided a call script below for you to use.
Just one minute of your time could have a tremendous impact for the millions of innocent men, women, and children in Darfur who live every day in fear of murder, starvation, and rape.
You can find contact information for your Representative here, http://www.house.gov, or if you know who your Representative is you can simply call the Capitol Switchboard at (202) 224-3121 and ask to be connected. We have included a sample call script below.
Thank you once again for your commitment to helping the people of Darfur.
Sincerely,
David Rubenstein Save Darfur Coalition"

quinta-feira, junho 08, 2006

Um problema de filosofia e psicologia da comunicação vivido pela nossa GNR em Timor

O senhor Brigadeiro das forças australianas a operar em Díli falou hoje na Antena 1 para explicar que aquela descoordenação de acções entre a GNR e os militares australianos, que estavam a controlar o centro de dentenções, se deveu ao facto de os militares pensarem uma coisa e dizerem outra, sendo que a confusão, pela deficiente capacidade de comunicação, se estabelecera. Todos os filósofos sabem bem o problema que isto representa.
Teve o cuidado também de acrescentar o senhor brigadeiro, o que em termos de Relações Públicas é um ponto a favor da acção de política da comunicação do exército australiano, que os soldados portugueses falavam melhor inglês do que os australianos falavam português. Só lhe ficou bem sublinhar esse facto. Ainda que isso só seja relevante à escala dos que entendem as múltiplas susceptibilidades de um povo e de como não custa nada, a quem pode, manifestar-lhes estas considerações.

Num livro extremamente interessante de Paul Watzlawick, A realidade é real?, editado pela relógio d`agua em 1991 com trad. de Maria V. Moreira, é-nos explicado, numa linguagem simples, como a desinformação pode ocorrer de forma não intencional em qualquer registo discursivo. Escreve ele o seguinte: "As pessoas persistem na inconsciência das suas visões discrepantes e inocentemente assumem que só há uma realidade e uma perspectiva correcta dessa realidade (normalmente a sua própria perspectiva), por isso qualquer pessoa que veja as coisas de uma forma diferente tem de ser louca ou má. Mas existem provas evidentes que na interacção entre os organismos há um padrão circular: uma causa produz um efeito e o efeito tem influência na causa, transformando-se ele próprio numa causa. O resultado é parecido com uma situação em que duas pessoas tentam comunicar embora falem duas línguas diferentes, ou dois jogadores que tentam jogar um jogo com dois conjuntos diferentes de regras. (...) Faz parte da natureza destes problemas de desinformação que as partes envolvidas não os consigam resolver porque, como Wittgenstein afirmou uma vez:"O que não podemos conceber, não podemos conceber; por isso não podemos dizer o que é que não podemos conceber" - ou como Ronald D. Laing observa:"Se eu não souber que sei, penso que não sei.", pp. 62 e 63.
Mas se as partes envolvidas têm dificuldade em resolver a situação, as partes interessadas mas mais afastadas desse problema têm a obrigação de tratar o assunto com ponderação.
E já agora ficamos muito satisfeitos ao saber que logo que chegarem as viaturas, quando?, os elementos da GNR já podem finalmente sair do "quartel" e patrulhar as ruas todas da cidade de Díli. Céus!

Al-Zarqawi morto no Iraque

Pois eu preferia ter ouvido: Al-Zarqawi detido e presente a tribunal no Iraque.
Dir-me-ão que essa missão era impossível pelos riscos de fuga, e/ou pela reacção violenta das forças que protegiam o próprio e que adoptariam sempre uma acção de confronto cujo desfecho seria baseado em violência extrema. Não concordo em absoluto. Parece-me que há demasiada vontade de satisfazer o princípio do presidente Bush que falou em capturas de terroristas "vivos ou mortos" ao invés de falar em prosseguir detenções e apresentação dos indivíduos perante a justiça. A justiça faz-se em tribunais.
Não, não me congratulo pela morte do terrorista. E pesei o uso desta palavra.

bichos-da-seda

Sim, o mundo também é um lugar de simpatia.
Há um mês M. perguntou-me se o meu filho não gostaria de ter uns bichinhos-da-seda, porque as filhas estavam a fazer criação e podiam oferecer uns quantos. Encantada, aceitei por ele, sem dizer nada para lhe fazermos uma surpresa. Tinhamos que esperar pelo nosso próximo encontro, visto que M. e família vivem em Évora.

Mais ou menos oito dias depois, J. C. C. , num e-mail, faz referência à criação de bichos-da-seda, perguntando-me se o meu filho não gostaria de fazer criação também.
Ontem, na feira do livro, três meninos encantadores, entre os 8 a 11 anos, propuseram-nos a compra de 10 bichos-da-seda, numa caixa, por 1 euro. Dissemos que sim, e tivemos direito a uma aula sobre a criação destes animais por três educados e simpáticos rapazes, que explicaram tudo ao mais novo e futuro criador. Este estava fascinado a olhá-los e a ouvi-los. Eles explicaram o ciclo, fizeram recomendações e deram conselhos. Tudo por 1 euro. Não podiamos ter melhor tratamento em lugar nenhum.

Hoje o pequeno criador resolveu levar a sua caixa para mostrar aos amigos da escola, não antes de ter telefonado aos avós a contar a novidade e a perguntar se sabiam onde havia folhas de amoreira. Pelo caminho encontramos vizinhos, colegas e auxiliares, todos se debruçaram sobre a caixa e todos, sem excepção, recordaram a sua própria criação de bichos-da-seda, com carinho.
O meu marido encontrou este texto de João Céu e Silva na internet e enviou-mo. E, enquanto eu escrevia este post, recebi dois telefonemas de pessoas amigas que me queriam dar indicações sobre locais possíveis onde encontrar amoreiras em Lisboa.
Voltámos todos a reviver esse tempo da nossa infância.
O mundo é um lugar de empatia.

quarta-feira, junho 07, 2006

Lei da paridade

Em conversa com uma especialista em ciências políticas fiquei com uma outra perspectiva sobre o problema do veto presidencial à “lei da paridade”. Deu-me ela uma lista de argumentos, que incluía exemplos do que se fez no Norte da Europa. Contou-me como o factor "quotas" introduziu normalidade no acesso das mulheres aos cargos políticos, por efeito de alteração de formas de sociabilidade nas reuniões políticas (nos horários das mesmas, na sua duração, na forma de comunicação pública, etc.).
Confesso que resisto à ideia de quotas onde quer que seja, porque fundamentalmente acredito na formação da vontade e da opinião que depois fará pressão para se manifestar onde cada indivíduo entender, mas…
Dizia-me essa colega para eu pensar nos modelos sociais estabelecidos no nosso país, e reflectir de quantos anos mais as mulheres vão ter que necessitar para ultrapassarem obstáculos criados, não para lhes impedir o acesso, já que não foram organizados para o efeito, mas para lhes dificultar a vida ao máximo por essa entrada na política. Sobretudo durante o tempo em que elas têm filhos pequenos.

Eu sei, por experiência própria na academia portuguesa, que a relação de uma mulher com as figuras masculinas do poder instituído é necessariamente diferente daquela que os rapazes desenvolvem. Uma rapariga, se para isso tiver feitio e disponibilidade, se acompanhar o seu orientador tanto quanto o seu colega rapaz, se estiver presente a seu lado em situações formais ou informais tanto quanto o seu colega rapaz, se mostrar tanto apreço pela companhia do seu director tanto quanto o seu colega rapaz, não verá, nessas circunstâncias, apenas ser-lhe atribuído o nome de “O delfim”, tal como ao seu colega rapaz.

Acredito que em política esta questão se agudize ainda mais, e que uma mulher ao manifestar um comportamento que a faça recuar na sua exposição junto do grupo, este facilmente a possa julgar como estando menos motivada, interessada ou capaz de assumir funções que exijam uma presença certa. Daí até ser depois “empurrada” para a margem da participação política é um instante, podem começar por não lhe participar as horas de reunião, não lhe darem toda a informação, exclui-la das decisões que envolvam actividades de grupo, já que lhe é mais difícil criar os laços de solidariedade que levam os pares entre si a conhecerem-se, a confiarem e a apoiarem-se na disputa pelos lugares públicos. Laços criados em reuniões infindáveis, em almoços bem-humorados, em conversas que muitas vezes roçam a linguagem de caserna em rituais masculinos de confraternização.

Eu continuo a pensar que não é a lei das quotas que resolverá o problema da paridade, mas também acho que o chumbo à lei também não o resolve, por si. Por isso considero que a prestação do presidente da República devia ter sido muito bem explicada à nação, reconhecendo-se, sem margens para dúvidas, o seu interesse em resolver a situação, real, de desigualdade de oportunidades.

terça-feira, junho 06, 2006

Timor


No programa "Sociedade das Nações" esteve hoje a embaixadora de Timor, Pascoela Barreto, e o embaixador da Indonésia, Lopes da Cruz. Em meia-hora conseguiram os entrevistadores que os seus convidados dessem uma visão clara acerca da sua percepção do que se passava em Timor.
A embaixadora prestou um serviço ao esclarecer o que a maioria dos nossos comentadores tinham obstinadamente obscurecido sobre a realidade timorense: 1. O que começou por ser uma questão de defesa de interesses profissionais do exército, acabou por ser tomado como pretexto por outros grupos que se opõem às políticas do primeiro-ministro; 2. Que o caso de o Estado não conseguir chamar a si o dever de assegurar a defesa da população se deve ao facto de as forças militares e policiais não estarem ainda suficientemente estabelecidas, tendo em conta que ainda há sete anos a maioria dos seus operacionais eram guerrilheiros. Houve uma adaptação acelerada à vida militar regular, com regras, procedimentos e comportamentos muito distintos dos que tinham já sido socialiazados, o que faz com que leve o seu tempo a serem incorporados na instituição e pela instituição. Incorporação que terá sido mal acompanhada e compreendida pelo poder político, e pelas organizações internacionais. Pediram pois a intervenção militar de alguns países da região, e a Portugal, que prontamente acederam, estando estas forças sob o comando dos altos representantes do Estado de Timor. E pronto.
Há interesses externos a Timor que estão a actuar? Com certeza. Não duvido que cada país envolvido com a questão de Timor está a procurar assegurar os seus interesses, no presente, com a estabilidade da região, ou no futuro, com quaisquer outras contrapartidas. Mas tal já acontecia antes de se colocar este cenário de crise governamental. E não nos obriga a construir um filme de caos social, de falência estatal, de conspiração internacional.

segunda-feira, junho 05, 2006

Televisão

Futebolistas portugueses/ portugueses/Anastacia/ Anjos

A minha grelha de programação ontem à noite, logo que fiz um assalto bem sucedido pela tomada do “comando”, foi a seguinte: 1. Anastacia (Sic Mulher). Fiquei a ouvi-la e a pensar, pois estava demasiado inerte para me pôr a dançar, enquanto a cantora, segura e profissional, acarinhava a bandeira nacional, e se dirigia ao público com atencioso humor. E pus-me a pensar.

Pensei que os futebolistas portugueses são como algumas pessoas das elites portuguesas, por mais que o povo vista a roupa bonita que sabe e pode vestir, por mais festa e celebração que intente fazer para dar de si a imagem de um povo com energia e empreendedor, por mais que espere reconhecimento amigo pelas iniciativas de celebração das imagens e das figuras pátrias e ainda que demande mundo a aprofundar o mundo de Portugal, será sempre tratado com altaneiros modos, com reservas no agrado.
somos um povo mal amado pelos nossos “heróis”. Será que a selecção não percebe que é uma ideia de Portugal? Não são o Figo, ou o Ricardo carvalho, ou o Pauleta, que também são, mas são, sobretudo, a selecção portuguesa, à qual eles têm a honra de pertencer.

Pensei também que afinal a resposta à pergunta se são os media que configuram o imaginário dos cidadãos, ou o contrário, já foi dada, eu conheço-a e concordo com as conclusões, só não tive discernimento para me lembrar dela: os media confirmam sobretudo as imagens que o povo tem de si. É por isso que a fotografia que os americanos escolheram dar de si, é a imagem que eles têm de si em situações difíceis: o de um povo que não desiste.
Os media funcionaram ali na linha do reforço positivo de comportamento almejado.


Pensei ainda que já só se ouve falar de anjos, sobretudo de anjos da guarda, nas canções e no cinema. Os sites brasileiros a este respeito não contam, porque baralham qualquer mortal com as idiossincrasias religiosas e simbólicas.
Porque será que a igreja não acarinha este imaginário? Demasiado pagão? Mas no novo testamento aparecem, pelo menos, dois anjos. Mas que sei eu? Será por estes serem mensageiros e não guardadores de corpos e almas? Será que se subentende que não há anjos da guarda? Hum…


A Europa e Teresa de Sousa
Logo que Anastacia acabou de cantar “saltei” para o canal ao “lado”, a “sic Notícias”, vislumbrei a outra convidada da noite de Maria João Avillez, era Teresa de Sousa. Aguardei para ouvi-la, porque espero sempre para ouvir Teresa de Sousa. Na altura falava um senhor numa pose de menino amuado com o mundo e em especial com a Europa. Tendia a dizer duas ou três frases bombásticas em estilo rezingão e depois não as explicava muito. Confesso que levei muitos segundos a tentar compreender o que queria o especialista dizer com: “A Europa já saiu da História”. Lá percebi que estaria a fazer alusão ao conceito de Fukuyama sobre o fim da história, e que a Europa tenderia a pensar que eliminando a guerra e não querendo participar nos conflitos teria resolvido o seu lugar na história. Pois…
Disse também que a Europa nada fez para que a guerra fria terminasse, porque o regime comunista é que se suicidou na ex União Soviética. Pois…

A ministra da educação

Já tinha estado a ver quem era o convidado/a do programa “Diga lá excelência”, da RTp2, e confesso que a razão me dizia que era minha obrigação ouvir a senhora ministra, mas… bom, logo que terminou o programa de Avillez, acabei por ir ouvi-la.

Compreendi que a ministra é calma, acessível, que tem uma missão definida. Que tem razão nos diagnósticos e que tem razão na solução, que passa por ter uma noção de escola na qual haja mais cooperação entre todos os professores.
Penso que a ministra falha completamente no modo como não requer simpatia para a suas causas, como parece uma comandante pronta a criticar as suas forças sem conseguir uni-las sobre o espírito de uma causa comum, e falha no modo como essa causa comum é apresentada. Não tem um discurso político de conjugação de esforços, tem um discurso de reprimenda, injusto para com a maioria dos professores, relativamente ao seu desempenho, sobretudo quando as deficiências advêm da falta de orientação central que foram feitas ao sabor da alegria não se sabe bem de quem.
Não tem completamente razão a ministra quando diz que o problema da indisciplina não se pode misturar com o da violência. Pode. Porque é uma violência para qualquer professor passar o tempo a dizer nas suas aulas, enquanto discorre sobre os assuntos programados, coisas como: “Maria, vire-se para a frente se faz favor”, “Manuel, desligue o telemóvel e esteja com atenção”, “Maria, tem alguma coisa a partilhar com a turma ao invés de estar só a fazê-lo com o Manuel?”Etc, etc, etc. Isto desgasta até o mais disciplinador e atento professor.
Claro que não é tão profundamente grave como no caso do professor ser agredido fisicamente, mas é extensivamente revelador da perda de autoridade não do professor x ou y, mas do Professor, qualquer que ele seja. À noite, por exemplo, no Secundário, isso nunca acontece. Nunca. Porquê? Se o professor às vezes até é o mesmo?
Dentro da sala de aula não está só um professor e os seus alunos, está, por detrás dele, ou contra ele, uma escola, um ministério da educação e os pais. O ME deve decidir se está com as suas forças, explicando-lhes respeitosamente os pontos que têm que ser alterados, ouvindo-as e correspondendo às boas iniciativas, ou contra eles, visando só o seu afastamento do ensino, para reduzir o número de funcionários públicos e para congelar progressões na carreira.

O “sexo na cidade”


Fazendo tempo entre o fim do programa “Diga lá excelência” e à espera da nova série de “Sexo na Cidade”, fiquei a ouvir Sting. Finalmente o filme. Finalmente um humor elegante e inteligente. Finalmente descansada e sentindo-me chegada a casa.
Não pensei nada, estive entre amigas, a conversar de coisas que as amigas conversam.

sexta-feira, junho 02, 2006

Factos e acontecimentos 2

http://ciberjornalismo.com/arquivo/2001/20011008.htm
http://www.bbc.co.uk




Qual destas três imagens os EUA utilizaram para dizer a si próprios, e ao mundo, como reagiam eles perante a adversidade?
A questão é: foram os media que criaram essa reacção do povo, ou só a confirmaram? Continuo a perguntar-me, os media reflectem a acção/vontade geral da sua comunidade, ou criam-na?
Os engenheiros sociais tendem a pensar muito na segunda hipótese. Eu acho que nenhuma das respostas me satisfaz, mas também não sei dar outra resposta.
“Os jornalistas anglo-saxões, educados no respeito pelos factos e na rigorosa distinção técnica entre a informação e o comentário, são pouco propensos a discutir a noção de objectividade – o que não significa, de modo nenhum, que ela seja banida como problema! O mesmo não acontece com o jornalismo latino, especialmente o de tradição francesa. (…)
“A objectividade não existe”, decretava Hubert Beuve-Méry, que acrescentava: “A honestidade, sim!” (…) Tudo isso parece remeter para o cantinho do bom senso essa recusa da objectividade, que dá muitas vezes lugar a brilhantes filípicas. A questão nem por isso fica liquidada, nem que seja pelo apego de outras tradições jornalísticas a esta noção. Parece inconveniente, (…), considerá-la simplesmente, mesmo sob o aspecto problemático da “objectividade pura”, uma “ingenuidade anglo-saxónica”. Continua ligada a toda a discussão sobre a ética da informação.”

Daniel Cornu (1994), Jornalismo e Verdade, trad. Armando P. Silva, Lisboa, Piaget, 1999, pp.327-328.



Katleen Hall Jamieson e Paul Waldman, no livro The Press Effect, contam-nos que, em Outubro de 2001, os executivos de topo da cadeia de notícias CNN fizeram circular uma nota por entre os seus jornalistas. Nesse nota pedia-se aos repórteres para que estes nunca se esquecessem de ter presentes as imagens do desmoronamento das Torres Gémeas, sempre que sentissem vontade de publicar notícias desfavoráveis à política de defesa e e à política externa dos EUA, notícias tais como, por exemplo, as que dessem conta da existência de baixas civis na guerra com o Afeganistão.
Os autores estudaram a transformação operada na imprensa Norte Americana durante os sete meses após o ataque a Nova Iorque e Washington, para concluírem que a imprensa se tornou refém de uma ideia de representação que projectou para si própria, e que consistia em mostrar-se capaz de dirigir e de fazer convergir as vontades da nação, em prol da defesa e promoção dos valores democráticos.
A imprensa tornou-se o discurso do poder. Não havendo um discurso político poderoso por parte do representante máximo da política nacional americana nesse tempo de crise, os jornalistas tomaram essa tarefa para si.
O presidente faz uma primeira comunicação pouco tempo depois do atentado, que é recebida com muita frustração, e como nada na sua comunicação pôde servir de imagem galvanizadora, como uma imagem que pudesse ser utilizada como uma evidência de que a partir de então as forças de poder institucionalizadas, devidamente orientadas pelo seu responsável máximo, estariam preparadas para fazer os americanos sentirem-se seguros e protegidos, a imprensa chegou-se à frente e utilizou o seu poder informativo e comunicativo para dar um sentido ao acontecimento e orientar a emoção nacional. Ao fazê-lo tornou-se actora política, e perdeu a noção de recuo em relação às figuras, instituições e acontecimentos, passando a estar prisioneira da sua própria boa vontade de não contribuir para a instabilidade nacional. Passou-se a dar notícias enquadradas com as das agendas políticas.
Até que um dia...

Apontamento de política nacional: Então os funcionários do Ministério da Educação andam preocupados em saber se houve abuso na recolha de imagens dos menores no programa sobre Educação? Que ridícula ausência de poder discursivo político por parte do Ministério. Ao invés de procurar identificar problemas e dar-lhes solução, como seria necesário e premente em todos os casos relacionados com a indisciplina generalizada nas escolas públicas portuguesas, vai procurar atacar quem deu notícia do deplorável estado das coisas. Agora já percebi porque tinham os professores a cara tapada. Tinham medo das represálias por parte do Ministério. E eu a pensar que era por causa da vergonha que sentiam pela impotência de lutarem contra aquela desordem!