segunda-feira, junho 26, 2006

Bandeira portuguesa

Tal como o excesso da sua presença não me incomoda, a sua ausência também não me levantava problemas. E lembro-me até de como ainda há uns anos nos Açores (provavelmente devido aos hábitos dos emigrantes do arquipélago provenientes na sua maioria dos EUA e do Canadá), eu sorria sempre que vislumbrava uma bandeira portuguesa hasteada, pela novidade da prática e pelo desafio que representava os açorianos quererem afirmar-se no mundo como portugueses. Nada de admirar para quem lhes conhece a história social e política, de admirar para quem os soube praticamente abandonados à sua pouca sorte, no que a um desenvolvimento económico diz respeito, durante quase todo o século XX.
Leitora casual da imprensa portuguesa do pós-guerra é-me frequente encontrar bandeiras portuguesas nas fotografias que acompanham as acções governativas, sociais e culturais do Estado Novo. O culto pela nacionalidade é evidente. Julgo que terá sido contra esse excesso, e o que ele representava no cerceamento de liberdades que se sabia existirem noutras comunidades, e pelo preenchimento do espaço que se deixara vazio, o espaço do estrangeiro, dos outros Estado distintos do nosso, que a revolução do 25 de Abril trouxe novas bandeiras que vieram ocupar o lugar da bandeira de Portugal. Havia as bandeiras partidárias, as sindicais, as dos clubes de futebol e as das autarquias e guardava-se a bandeira portuguesa para as sessões solenes ou para os jogos olímpicos dos nossos desejos.
Bom, agora, sem preconceitos nem revivalismo político, vejo-a como sinal de consentida identificação de um povo e da sua ligação à terra. Se foi através do futebol que isso aconteceu importa-me pouco, pois mais vale ser o futebol a levar as bandeiras às janelas do que uma reacção xenófoba colectiva, ou como reacção de medo aos outros, ou de arrogância nacionalista. Prefiro mais ouvir as buzinas a tocar do que os tambores a rufar.

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