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Qual destas três imagens os EUA utilizaram para dizer a si próprios, e ao mundo, como reagiam eles perante a adversidade?
A questão é: foram os media que criaram essa reacção do povo, ou só a confirmaram? Continuo a perguntar-me, os media reflectem a acção/vontade geral da sua comunidade, ou criam-na?
Os engenheiros sociais tendem a pensar muito na segunda hipótese. Eu acho que nenhuma das respostas me satisfaz, mas também não sei dar outra resposta.
“Os jornalistas anglo-saxões, educados no respeito pelos factos e na rigorosa distinção técnica entre a informação e o comentário, são pouco propensos a discutir a noção de objectividade – o que não significa, de modo nenhum, que ela seja banida como problema! O mesmo não acontece com o jornalismo latino, especialmente o de tradição francesa. (…)
“A objectividade não existe”, decretava Hubert Beuve-Méry, que acrescentava: “A honestidade, sim!” (…) Tudo isso parece remeter para o cantinho do bom senso essa recusa da objectividade, que dá muitas vezes lugar a brilhantes filípicas. A questão nem por isso fica liquidada, nem que seja pelo apego de outras tradições jornalísticas a esta noção. Parece inconveniente, (…), considerá-la simplesmente, mesmo sob o aspecto problemático da “objectividade pura”, uma “ingenuidade anglo-saxónica”. Continua ligada a toda a discussão sobre a ética da informação.”
Daniel Cornu (1994), Jornalismo e Verdade, trad. Armando P. Silva, Lisboa, Piaget, 1999, pp.327-328.
Katleen Hall Jamieson e Paul Waldman, no livro The Press Effect, contam-nos que, em Outubro de 2001, os executivos de topo da cadeia de notícias CNN fizeram circular uma nota por entre os seus jornalistas. Nesse nota pedia-se aos repórteres para que estes nunca se esquecessem de ter presentes as imagens do desmoronamento das Torres Gémeas, sempre que sentissem vontade de publicar notícias desfavoráveis à política de defesa e e à política externa dos EUA, notícias tais como, por exemplo, as que dessem conta da existência de baixas civis na guerra com o Afeganistão.
“A objectividade não existe”, decretava Hubert Beuve-Méry, que acrescentava: “A honestidade, sim!” (…) Tudo isso parece remeter para o cantinho do bom senso essa recusa da objectividade, que dá muitas vezes lugar a brilhantes filípicas. A questão nem por isso fica liquidada, nem que seja pelo apego de outras tradições jornalísticas a esta noção. Parece inconveniente, (…), considerá-la simplesmente, mesmo sob o aspecto problemático da “objectividade pura”, uma “ingenuidade anglo-saxónica”. Continua ligada a toda a discussão sobre a ética da informação.”
Daniel Cornu (1994), Jornalismo e Verdade, trad. Armando P. Silva, Lisboa, Piaget, 1999, pp.327-328.
Katleen Hall Jamieson e Paul Waldman, no livro The Press Effect, contam-nos que, em Outubro de 2001, os executivos de topo da cadeia de notícias CNN fizeram circular uma nota por entre os seus jornalistas. Nesse nota pedia-se aos repórteres para que estes nunca se esquecessem de ter presentes as imagens do desmoronamento das Torres Gémeas, sempre que sentissem vontade de publicar notícias desfavoráveis à política de defesa e e à política externa dos EUA, notícias tais como, por exemplo, as que dessem conta da existência de baixas civis na guerra com o Afeganistão.
Os autores estudaram a transformação operada na imprensa Norte Americana durante os sete meses após o ataque a Nova Iorque e Washington, para concluírem que a imprensa se tornou refém de uma ideia de representação que projectou para si própria, e que consistia em mostrar-se capaz de dirigir e de fazer convergir as vontades da nação, em prol da defesa e promoção dos valores democráticos.
A imprensa tornou-se o discurso do poder. Não havendo um discurso político poderoso por parte do representante máximo da política nacional americana nesse tempo de crise, os jornalistas tomaram essa tarefa para si.
O presidente faz uma primeira comunicação pouco tempo depois do atentado, que é recebida com muita frustração, e como nada na sua comunicação pôde servir de imagem galvanizadora, como uma imagem que pudesse ser utilizada como uma evidência de que a partir de então as forças de poder institucionalizadas, devidamente orientadas pelo seu responsável máximo, estariam preparadas para fazer os americanos sentirem-se seguros e protegidos, a imprensa chegou-se à frente e utilizou o seu poder informativo e comunicativo para dar um sentido ao acontecimento e orientar a emoção nacional. Ao fazê-lo tornou-se actora política, e perdeu a noção de recuo em relação às figuras, instituições e acontecimentos, passando a estar prisioneira da sua própria boa vontade de não contribuir para a instabilidade nacional. Passou-se a dar notícias enquadradas com as das agendas políticas.
Até que um dia...
Apontamento de política nacional: Então os funcionários do Ministério da Educação andam preocupados em saber se houve abuso na recolha de imagens dos menores no programa sobre Educação? Que ridícula ausência de poder discursivo político por parte do Ministério. Ao invés de procurar identificar problemas e dar-lhes solução, como seria necesário e premente em todos os casos relacionados com a indisciplina generalizada nas escolas públicas portuguesas, vai procurar atacar quem deu notícia do deplorável estado das coisas. Agora já percebi porque tinham os professores a cara tapada. Tinham medo das represálias por parte do Ministério. E eu a pensar que era por causa da vergonha que sentiam pela impotência de lutarem contra aquela desordem!
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