Temos tendência a pensar que só existem uma ou duas teorias fortes sobre o efeito dos media nas decisões dos governantes, ou sobre o papel dos media na formação da opinião pública. Possuímos propensão para considerar que das duas uma: Ou os media têm um peso efectivo em dar continuidade, em fiscalizar ou suspender políticas no quadro dos interesses dos cidadãos, e por contraponto ao poder de Estado, ou, pelo contrário, que os políticos são, na verdade, mais ou menos indiferentes a essas manifestações, excepto se puderem servir-se dos meios de comunicação para fazerem passar a sua mensagem. Mas olhe-se só para a quantidade de teorias inventariadas por Eric Louw, e exclusivamente no que diz respeito ao tema do efeito dos media sobre a política externa dos países.
Eric Louw, no livro The Media and Political Process, publicado em Londres pela Sage em 2005, apresenta as oito teorias que, de acordo com as suas leituras, abrangem no total as investigações que se fizeram acerca da relação do poder dos media com o Estado, no que toca à sua influência sobre as decisões políticas que envolvam assuntos internacionais:
1. Os media como “manufactoras de consentimento” (“consent manufacturers”). Desde que as elites políticas e governativas estejam suficientemente coesas e com objectivos definidos no que à política externa diz respeito, os media serão sobretudos instrumentos de difusão desse plano; se as elites manifestarem desacordo ou dissenção, os media divulgarão e amplificarão essas controvérsias, reflectir-se-á sobre elas, sem que no entanto possuam o poder de influenciar na tomada decisões de política externa.
Nesta perspectiva, os media são analisados, sobretudo, como instrumentos usados para “produzirem consentimento” público acerca das políticas. São duas as causas apontadas: a). Ou os media fazem parte do mesmo bloco de interesses do poder político, económico e cultural, sendo que os seus proprietários e directores tendem a partilhar as mesmas visões que as elites governativas; b). Ou pode-se entender que o investimento cada vez maior em especialistas de Relações Públicas por parte dos ministérios dá os seus resultados quando se cria um sistema uniformizado e poderoso de desinformação, sistema criado para orientar os jornalistas na interpretação da realidade, o qual se impõe, sem crítica, como realidade definitiva nos discursos da maioria[1];
2. Os media como instrumentos ao serviço da classe dirigente (media como “lapdogs”). Teoria que assenta no pressuposto marxista de que cada época tem uma ideologia dominante que é imposta pela classe predominante, usando, para o efeito, as indústrias culturais (impressa, televisão, rádio, cinema, livros, música, pintura, etc.) que asseguram a sua reprodução nos diferentes estratos da sociedade[2];
3. Os media entendidos como agentes aptos a fiscalizar o poder político e económico, capazes de fazer chegar ao poder as opiniões críticas do público (media como “watchdogs”). Os defensores desta teoria entendem que um dos efeitos provocados pelos media é o de fazerem com que os políticos dêem atenção aos assuntos de interesse público que habitualmente ignoram. Relativamente aos assuntos de política externa, um dos exemplos de media que se vê como capaz de dar uma visão alargada dos assuntos que interessam ao mundo é a CNN. Esta estação, antes de 11 de Setembro, procurou contratar profissionais do mundo inteiro para contribuírem com uma visão mais individualizada dos problemas mundiais, na defesa da ideia de respeito pela multiplicidade de perspectivas. Presidia a concepção de com estes jornalistas se poderia defender outras visões que não as que eram exclusivamente adoptadas pelos jornalistas e decisores nacionais[3];
4. Os media como mediadores diplomáticos (media como “diplomatic Channels”). A televisão global teria trazido a possibilidade de se manterem as trocas de informação entre povos cujos Estados tivessem cortado relações diplomáticas, permitindo assim a continuidade de negociações paralelas e não oficiais que contribuiriam para a resolução de crises.
No que os críticos à teoria dizem ser uma missão impossível, dada a natureza negocial (“horse-trading) e de exigência permanente no estabelecimento de compromissos, inerente à função e actividade do diplomata, que não se compadece com esses exercícios estratégicos de relações internacionais mediatizados;[4]
5. Os media como agentes influentes na formulação da política externa ao serem capazes de mobilizar, através da indignação moral (“moral outcries”), o público e os seus líderes (media como “morality play”). Por esta teoria defende-se que os media têm um impacto substancial no tipo de políticas elaboradas para a política externa, quer pelo facto de os decisores políticos serem pessoalmente influenciados por estórias emotivas, quer pelos media serem capazes de modificar a opinião pública em geral.
Os críticos consideram no entanto que esse efeito só acontece se os políticos considerarem que alguns benefícios retirarão ao aceitarem essa apresentação da estória tal como os media a apresentam, e também no caso dos políticos se encontrarem divididos ou indecisos quanto à opção a tomar relativamente ao problema em apresentação. Neste caso tenderão a escutar e a deliberar a partir das mensagens que lhes chegam através dos media;[5]
6. Os media controlam as relações externas no sentido em que são capazes de criar estórias sobre assuntos internacionais que o público ache excitante (media como “hipe”), logo que condiciona a atenção de governados que pressionariam os seus governantes. Mas isso não passa de ilusão, dizem os críticos, porque não se pode admitir que o público que lê ou visiona notícias relacionadas com aspectos mais espectaculares da política internacional (exploração infantil. confrontos, guerras, estórias pessoais de violência ou de sexo) seja um público que se interessa pelo tema de relações externas, e que se quer ver esclarecido em assuntos públicos internacionais[6];
7. Teoria oposta à anterior e que defende que os media não têm nenhum efeito sobre a formulação nas políticas externas (media como “powerless”). Provas há que os “gritos de indignação moral” a que a CNN, por exemplo, possa ter dado extensa cobertura, não provocaram nenhuma atenção especial, ou orientação coordenada para esse tema, por parte da administração americana.
Nesta perspectiva, os media são analisados, sobretudo, como instrumentos usados para “produzirem consentimento” público acerca das políticas. São duas as causas apontadas: a). Ou os media fazem parte do mesmo bloco de interesses do poder político, económico e cultural, sendo que os seus proprietários e directores tendem a partilhar as mesmas visões que as elites governativas; b). Ou pode-se entender que o investimento cada vez maior em especialistas de Relações Públicas por parte dos ministérios dá os seus resultados quando se cria um sistema uniformizado e poderoso de desinformação, sistema criado para orientar os jornalistas na interpretação da realidade, o qual se impõe, sem crítica, como realidade definitiva nos discursos da maioria[1];
2. Os media como instrumentos ao serviço da classe dirigente (media como “lapdogs”). Teoria que assenta no pressuposto marxista de que cada época tem uma ideologia dominante que é imposta pela classe predominante, usando, para o efeito, as indústrias culturais (impressa, televisão, rádio, cinema, livros, música, pintura, etc.) que asseguram a sua reprodução nos diferentes estratos da sociedade[2];
3. Os media entendidos como agentes aptos a fiscalizar o poder político e económico, capazes de fazer chegar ao poder as opiniões críticas do público (media como “watchdogs”). Os defensores desta teoria entendem que um dos efeitos provocados pelos media é o de fazerem com que os políticos dêem atenção aos assuntos de interesse público que habitualmente ignoram. Relativamente aos assuntos de política externa, um dos exemplos de media que se vê como capaz de dar uma visão alargada dos assuntos que interessam ao mundo é a CNN. Esta estação, antes de 11 de Setembro, procurou contratar profissionais do mundo inteiro para contribuírem com uma visão mais individualizada dos problemas mundiais, na defesa da ideia de respeito pela multiplicidade de perspectivas. Presidia a concepção de com estes jornalistas se poderia defender outras visões que não as que eram exclusivamente adoptadas pelos jornalistas e decisores nacionais[3];
4. Os media como mediadores diplomáticos (media como “diplomatic Channels”). A televisão global teria trazido a possibilidade de se manterem as trocas de informação entre povos cujos Estados tivessem cortado relações diplomáticas, permitindo assim a continuidade de negociações paralelas e não oficiais que contribuiriam para a resolução de crises.
No que os críticos à teoria dizem ser uma missão impossível, dada a natureza negocial (“horse-trading) e de exigência permanente no estabelecimento de compromissos, inerente à função e actividade do diplomata, que não se compadece com esses exercícios estratégicos de relações internacionais mediatizados;[4]
5. Os media como agentes influentes na formulação da política externa ao serem capazes de mobilizar, através da indignação moral (“moral outcries”), o público e os seus líderes (media como “morality play”). Por esta teoria defende-se que os media têm um impacto substancial no tipo de políticas elaboradas para a política externa, quer pelo facto de os decisores políticos serem pessoalmente influenciados por estórias emotivas, quer pelos media serem capazes de modificar a opinião pública em geral.
Os críticos consideram no entanto que esse efeito só acontece se os políticos considerarem que alguns benefícios retirarão ao aceitarem essa apresentação da estória tal como os media a apresentam, e também no caso dos políticos se encontrarem divididos ou indecisos quanto à opção a tomar relativamente ao problema em apresentação. Neste caso tenderão a escutar e a deliberar a partir das mensagens que lhes chegam através dos media;[5]
6. Os media controlam as relações externas no sentido em que são capazes de criar estórias sobre assuntos internacionais que o público ache excitante (media como “hipe”), logo que condiciona a atenção de governados que pressionariam os seus governantes. Mas isso não passa de ilusão, dizem os críticos, porque não se pode admitir que o público que lê ou visiona notícias relacionadas com aspectos mais espectaculares da política internacional (exploração infantil. confrontos, guerras, estórias pessoais de violência ou de sexo) seja um público que se interessa pelo tema de relações externas, e que se quer ver esclarecido em assuntos públicos internacionais[6];
7. Teoria oposta à anterior e que defende que os media não têm nenhum efeito sobre a formulação nas políticas externas (media como “powerless”). Provas há que os “gritos de indignação moral” a que a CNN, por exemplo, possa ter dado extensa cobertura, não provocaram nenhuma atenção especial, ou orientação coordenada para esse tema, por parte da administração americana.
Geralmente os políticos só tenderão a defender a existência de um poder de influência dos media quando os podem acusar de serem eles as causa das suas desventuras, ocultando dessa forma os seus erros. Veja-se o caso do Vietname para os EUA. Ainda hoje há uma facção de líderes militares e políticos que consideram que perderam a guerra pela forma como esta foi televisionada[7];
8. Os media entendidos como fazendo parte do hegemónico jogo do poder (media como “enmeshed in power struggles”). Sendo que há estudos que apresentam os media como instrumentos utilizados para divulgar as agendas pelos mais diversos grupos de interesse, no sentido de se vir a influenciar directamente os decisores políticos, ou no sentido de vir a influenciar a opinião pública geral para que esta venha a influenciar, por sua vez, os decisores políticos.[8]
8. Os media entendidos como fazendo parte do hegemónico jogo do poder (media como “enmeshed in power struggles”). Sendo que há estudos que apresentam os media como instrumentos utilizados para divulgar as agendas pelos mais diversos grupos de interesse, no sentido de se vir a influenciar directamente os decisores políticos, ou no sentido de vir a influenciar a opinião pública geral para que esta venha a influenciar, por sua vez, os decisores políticos.[8]
A sociologia permite-nos apresentar provas para cada uma das teorias que eu brevemente delineei a partir da obra de Louw, mas dá especial realce aos aspectos negativos do poder dos media na sua relação com o público e com os políticos. A nós, leitores ou espectadores, caber-nos-á ficar atentos e exigir um jornalismo ao serviço da informação e do esclarecimento, não ao serviço do público ou dos políticos, porque ambos, como vimos, podem condicionar de forma perversa a própria função de informar. Mas eu estou no domínio das ideias, na prática não será tudo tão linear. Mesmo assim é uma realidade perfeitamente alcançável.
[1] Eric Louw, The Media and Political Process, London, Sage, 2005, p. 259-260.
[2] Ibidem, pp.260.
[3] Ibidem, p. 261.
[4] Ibidem, p. p. 261-262.
[5] Ibidem, pp. 262-264
[6] Ibidem, p.p. 264-265
[7] Ibidem, p.p. 265-266
[8] Ibidem, p.266.
[1] Eric Louw, The Media and Political Process, London, Sage, 2005, p. 259-260.
[2] Ibidem, pp.260.
[3] Ibidem, p. 261.
[4] Ibidem, p. p. 261-262.
[5] Ibidem, pp. 262-264
[6] Ibidem, p.p. 264-265
[7] Ibidem, p.p. 265-266
[8] Ibidem, p.266.
Sem comentários:
Enviar um comentário