Ontem à noite fiquei a ouvir Pepetela no programa "conversa afiada" e por isso não assisti à entrevista de Pulido Valente. Sabia que hoje o podia fazer.
Pese embora o tom e a pose que aos meus ouvidos e aos meus oolhos são percepcionados como atitude de condescendência para com os restantes mortais pouco esclarecidos, o que me provoca alguma exasperação e é obstáculo à admiração plena, não posso negar que Pulido Valente pensa muito bem. E pensa bem mesmo havendo da sua parte uma identificação clara e excessiva para um pensador, demasiado excessiva para a forma como eu entendo dever ser a relação pensador/partidos políticos, aos temas e figuras representativas de um determinado partido.
Há nas análises de Pulido Valente uma ideia de história de Portugal, algo que é sempre aliciante tendo por contraste as “desabitadas” representações intelectuais com que somos confrontados diariamente nas análises políticas.
Parece-me que o historiador compreende algumas regras que regem a sociedade portuguesa de modo curioso, mas tenho pena que não tivesse conseguido responder, ou não tivesse querido responder, à objecção do director do Público quando este lhe perguntou algo deste género, cito de memória: "Sendo que os problemas de Portugal têm duzentos anos, tal como Pulido Valente estava a dizer (Estado gigantesco, deficit interno, etc), e se na realidade só durante o tempo de Salazar o problema das contas de Portugal esteve saldado, será então que a solução para Portugal ao nível financeiro só pode passar pela existência de um governo autoritário, não democrático?"
Pois a democracia em Portugal tem tido este preço. Há que reformá-la, mas a alternativa não é sequer ponderável. A alternativa das contas certas mas de um presente e de um futuro cívico e ético hipotecado.
Sim, e eu sei que ter boas contas é importante para assegurar a democracia. Mas não é de todo suficiente. Nem estou a admitir que Pulido Valente o considere suficiente, mas também não explicou que tipo de regime proporia, limitando-se a falar de como seria fácil cortar na presença gigantesca do Estado em Portugal, o qual está a financiar a classe média, que ele próprio criou, numa sustentação social difícil, quando devia ter sido a própria economia a produzir essa classe. Mas isto é uma questão de arranjos ou de reorganização de meios sociais, quando eu gostaria de ver discutidos era os fins propostos para a sociedade. São coisas diferentes.
Pese embora o tom e a pose que aos meus ouvidos e aos meus oolhos são percepcionados como atitude de condescendência para com os restantes mortais pouco esclarecidos, o que me provoca alguma exasperação e é obstáculo à admiração plena, não posso negar que Pulido Valente pensa muito bem. E pensa bem mesmo havendo da sua parte uma identificação clara e excessiva para um pensador, demasiado excessiva para a forma como eu entendo dever ser a relação pensador/partidos políticos, aos temas e figuras representativas de um determinado partido.
Há nas análises de Pulido Valente uma ideia de história de Portugal, algo que é sempre aliciante tendo por contraste as “desabitadas” representações intelectuais com que somos confrontados diariamente nas análises políticas.
Parece-me que o historiador compreende algumas regras que regem a sociedade portuguesa de modo curioso, mas tenho pena que não tivesse conseguido responder, ou não tivesse querido responder, à objecção do director do Público quando este lhe perguntou algo deste género, cito de memória: "Sendo que os problemas de Portugal têm duzentos anos, tal como Pulido Valente estava a dizer (Estado gigantesco, deficit interno, etc), e se na realidade só durante o tempo de Salazar o problema das contas de Portugal esteve saldado, será então que a solução para Portugal ao nível financeiro só pode passar pela existência de um governo autoritário, não democrático?"
Pois a democracia em Portugal tem tido este preço. Há que reformá-la, mas a alternativa não é sequer ponderável. A alternativa das contas certas mas de um presente e de um futuro cívico e ético hipotecado.
Sim, e eu sei que ter boas contas é importante para assegurar a democracia. Mas não é de todo suficiente. Nem estou a admitir que Pulido Valente o considere suficiente, mas também não explicou que tipo de regime proporia, limitando-se a falar de como seria fácil cortar na presença gigantesca do Estado em Portugal, o qual está a financiar a classe média, que ele próprio criou, numa sustentação social difícil, quando devia ter sido a própria economia a produzir essa classe. Mas isto é uma questão de arranjos ou de reorganização de meios sociais, quando eu gostaria de ver discutidos era os fins propostos para a sociedade. São coisas diferentes.
A segunda exige pensamento, a primeira qualquer técnico especializado está a habilitado para o fazer.
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