O senhor Brigadeiro das forças australianas a operar em Díli falou hoje na Antena 1 para explicar que aquela descoordenação de acções entre a GNR e os militares australianos, que estavam a controlar o centro de dentenções, se deveu ao facto de os militares pensarem uma coisa e dizerem outra, sendo que a confusão, pela deficiente capacidade de comunicação, se estabelecera. Todos os filósofos sabem bem o problema que isto representa.
Teve o cuidado também de acrescentar o senhor brigadeiro, o que em termos de Relações Públicas é um ponto a favor da acção de política da comunicação do exército australiano, que os soldados portugueses falavam melhor inglês do que os australianos falavam português. Só lhe ficou bem sublinhar esse facto. Ainda que isso só seja relevante à escala dos que entendem as múltiplas susceptibilidades de um povo e de como não custa nada, a quem pode, manifestar-lhes estas considerações.
Num livro extremamente interessante de Paul Watzlawick, A realidade é real?, editado pela relógio d`agua em 1991 com trad. de Maria V. Moreira, é-nos explicado, numa linguagem simples, como a desinformação pode ocorrer de forma não intencional em qualquer registo discursivo. Escreve ele o seguinte: "As pessoas persistem na inconsciência das suas visões discrepantes e inocentemente assumem que só há uma realidade e uma perspectiva correcta dessa realidade (normalmente a sua própria perspectiva), por isso qualquer pessoa que veja as coisas de uma forma diferente tem de ser louca ou má. Mas existem provas evidentes que na interacção entre os organismos há um padrão circular: uma causa produz um efeito e o efeito tem influência na causa, transformando-se ele próprio numa causa. O resultado é parecido com uma situação em que duas pessoas tentam comunicar embora falem duas línguas diferentes, ou dois jogadores que tentam jogar um jogo com dois conjuntos diferentes de regras. (...) Faz parte da natureza destes problemas de desinformação que as partes envolvidas não os consigam resolver porque, como Wittgenstein afirmou uma vez:"O que não podemos conceber, não podemos conceber; por isso não podemos dizer o que é que não podemos conceber" - ou como Ronald D. Laing observa:"Se eu não souber que sei, penso que não sei.", pp. 62 e 63.
Mas se as partes envolvidas têm dificuldade em resolver a situação, as partes interessadas mas mais afastadas desse problema têm a obrigação de tratar o assunto com ponderação.
E já agora ficamos muito satisfeitos ao saber que logo que chegarem as viaturas, quando?, os elementos da GNR já podem finalmente sair do "quartel" e patrulhar as ruas todas da cidade de Díli. Céus!
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