sábado, julho 15, 2006

cultura e desenvolvimento económico

“Se aprendemos alguma coisa através da história do desenvolvimento económico, é o facto de a cultura ser a principal geradora das suas diferenças. (Max Weber estava certo quanto a isso.) (…) No entanto, a cultura, na acepção das atitudes e valores interiores que guiam uma população, assusta os especialistas. Tem um odor sulfúrico de raça e herança, um ar de imutabilidade. Em momentos de reflexão, economistas e cientistas sociais reconhecem que isso não é verdade e, de facto, saúdam os exemplos de mudança cultural para melhor, enquanto deploram as mudanças para pior. Mas aplaudir ou deplorar subentende a passividade do observador – a incapacidade de usar o conhecimento para moldar pessoas e coisas. Os técnicos são mais propensos a fazê-lo: mudam taxas de juro e de câmbio, libertam o comércio, alteram instituições políticas, administram e gerem. Além disso, as críticas à cultura afectam o ego, comprometem a identidade e a auto-estima. Vindas de estranhos, tais advertências, por mais discretas e indirectas que sejam, cheiram a condescendência. Os que benevolamente trabalham por melhorias aprenderam a dirigir de forma clara e transparente. (…)

Aliás, se a cultura é tão importante, porque não actua de maneira sistemática? Um amigo economista, mestre de terapias político-económicas, resolve esse paradoxo negando a existência de qualquer ligação. Eu discordo. Poder-se-ia ter previsto o sucesso económico do pós-guerra no Japão e na Alemanha tomando em consideração a cultura. O mesmo com a Coreia do Sul em contraste com a Turquia, ou a Indonésia em contraste com a Nigéria.
Por outro lado a cultura não se encontra sozinha. (…) As explicações monocausais não funcionarão. Os mesmos valores contrariados por um “mau governo” no país podem encontrar a sua oportunidade noutro lugar. Daí o êxito especial do espírito empreendedor emigrante. (…)
Entretanto, como a cultura e desempenho económico estão ligados, as mudanças numa repercutem-se na outra. (…)”, pp.584-585.

David S. Landes resume assim a sua tese através da qual visa explicar como as nações se tornam ricas ou ficam pobres: a cultura é condicionante da prática social e económica dos povos, e a prática social e económica é condicionante da cultura. E o que sobressairá na cultura que fará a diferença? O conhecimento, a aprendizagem, e o espírito crítico.

Landes cita Garcia da Orta (séc. xvi) quando este escrevia: “pode-se obter agora num só dia mais conhecimento pelos Portugueses do que era possível conhecer em cem anos através dos Romanos”.p. 224.

As teses de Landes, quanto a mim, pecam por não darem mais ênfase à capacidade de teorias (que não só as práticas dos economista) alterarem os comportamentos sociais, não só pelas revoluções, mas, sobretudo, pela maturação e adesão voluntária ou gregária dos espíritos que por elas são persuadidas. Por exemplo, sobre a identidade nacional, para Portugal, temos um artigo on-line, interessante, de V. Cabral, que vai mais longe do que as explicações de Landes para explicar a experiência de Portugal no mundo.

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