Acabei de ler o livro que reúne a correspondência que Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena trocaram entre si durante os anos de 1959 e 1978. É um livro editado recentemente pela editora Guerra & Paz e que me foi oferecido na sexta-feira, de surpresa. Encantada comecei logo a lê-lo e fiz um intervalo na muito interessada leitura da biografia sobre Mao (não, ainda não acabei de ler o livro, e sim já tive tempo de sobra para o ter feito).
Da leitura do livro agora editado com a correspondência dos dois poetas destaco a sua relevância para o estudo e a compreensão de uma época e o conhecimento permitido, pelo que escreve cada um nas missivas que trocam, acerca da existência e da obra de duas pessoas singulares. Mais frequentes as cartas da poetisa, entregues por Mécia de Sena, já que as de Jorge de Sena ou se extraviaram nos arquivos da PIDE ou não foram guardadas por Mello Breyner.
Gosto de os conhecer e não me surpreendo com as emoções reveladas em relação às pessoas do meio político, literário e académico com quem se cruzavam. As histórias de mal-estar provocadas pela maledicência e inveja, pela mesquinhez ou pela prepotência, pela cupidez ou pelo sabujice dos que com eles privaram, são transversais ao tempo e à cultura. Não, nem sequer é uma característica portuguesa. De todo. Somos é um país pequeno e as manifestações desse mal parecem mais generalizadas. Mas é uma questão de proporção. O que não deixa de ser um sintoma de uma sociedade estratificada que se amodorra na autocracia de alguns tantos.
Desgosta-me o que me desgosta em outras edições de correspondência, ou de biografias portuguesas: o uso corrente ao corte de parágrafos ou a utilização de abreviaturas para não dar a ler na íntegra os sentimentos mais sarcásticos ou mais virulentos sobre determinadas pessoas. Não sendo uma “voyeur”, ou julgando eu não o ser, o que é diferente apesar de tudo, fico porém constrangida com este tipo de recurso frequentemente adoptado nas edições portuguesas do género.
Sei da importância inquestionável que a discrição e o direito à expressão privada têm, mas penso que assim que se decide publicar alguma coisa não há nenhum interesse social, literário ou científico que justifique ocultar o que quer que seja sobre quem quer que seja. As pessoas sabem que as outras pessoas falam de si, e que muitas das vezes essa avaliação é negativa, é um processo mais que reconhecido em qualquer tipo de socialização. Claro que pode magoar e é claro que pode fazer sofrer os próprios ou seus descendentes, mas se as pessoas escreveram o que escreveram, no contexto e no tempo em que o fizeram, deve manter-se o texto. Se há uma edição deve publicar-se na íntegra o que o autor escreveu, desde que este não dê indicações explícitas de reserva. Com tudo, até com os erros, os exageros, as falsidades inclusive, que na altura faziam sentido e constituíam prova de sentimentos vividos pelos correspondentes.
Acho mesmo que é pedagogicamente contraproducente a ocultação, porque nos continua a habituar ao secretismo dos julgamentos e das avaliações de figuras pública por figuras públicas, à ideia de que temos que nos calar porque senão…há qualquer coisa que perdemos, e não parece que essa coisa seja a do medo que se perca o respeito pelas pessoas.
Da leitura do livro agora editado com a correspondência dos dois poetas destaco a sua relevância para o estudo e a compreensão de uma época e o conhecimento permitido, pelo que escreve cada um nas missivas que trocam, acerca da existência e da obra de duas pessoas singulares. Mais frequentes as cartas da poetisa, entregues por Mécia de Sena, já que as de Jorge de Sena ou se extraviaram nos arquivos da PIDE ou não foram guardadas por Mello Breyner.
Gosto de os conhecer e não me surpreendo com as emoções reveladas em relação às pessoas do meio político, literário e académico com quem se cruzavam. As histórias de mal-estar provocadas pela maledicência e inveja, pela mesquinhez ou pela prepotência, pela cupidez ou pelo sabujice dos que com eles privaram, são transversais ao tempo e à cultura. Não, nem sequer é uma característica portuguesa. De todo. Somos é um país pequeno e as manifestações desse mal parecem mais generalizadas. Mas é uma questão de proporção. O que não deixa de ser um sintoma de uma sociedade estratificada que se amodorra na autocracia de alguns tantos.
Desgosta-me o que me desgosta em outras edições de correspondência, ou de biografias portuguesas: o uso corrente ao corte de parágrafos ou a utilização de abreviaturas para não dar a ler na íntegra os sentimentos mais sarcásticos ou mais virulentos sobre determinadas pessoas. Não sendo uma “voyeur”, ou julgando eu não o ser, o que é diferente apesar de tudo, fico porém constrangida com este tipo de recurso frequentemente adoptado nas edições portuguesas do género.
Sei da importância inquestionável que a discrição e o direito à expressão privada têm, mas penso que assim que se decide publicar alguma coisa não há nenhum interesse social, literário ou científico que justifique ocultar o que quer que seja sobre quem quer que seja. As pessoas sabem que as outras pessoas falam de si, e que muitas das vezes essa avaliação é negativa, é um processo mais que reconhecido em qualquer tipo de socialização. Claro que pode magoar e é claro que pode fazer sofrer os próprios ou seus descendentes, mas se as pessoas escreveram o que escreveram, no contexto e no tempo em que o fizeram, deve manter-se o texto. Se há uma edição deve publicar-se na íntegra o que o autor escreveu, desde que este não dê indicações explícitas de reserva. Com tudo, até com os erros, os exageros, as falsidades inclusive, que na altura faziam sentido e constituíam prova de sentimentos vividos pelos correspondentes.
Acho mesmo que é pedagogicamente contraproducente a ocultação, porque nos continua a habituar ao secretismo dos julgamentos e das avaliações de figuras pública por figuras públicas, à ideia de que temos que nos calar porque senão…há qualquer coisa que perdemos, e não parece que essa coisa seja a do medo que se perca o respeito pelas pessoas.
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