terça-feira, setembro 12, 2006

A crítica ao imperialismo, no discurso antigo da crítica às acções injustas


Difícil é pensarmos como criticar um estado de coisas ou alguém, sem que isso signifique que queiramos o seu aniquilamento. É uma das questões que o pensamento grego nos legou: como ser fiel à verdade dos acontecimentos sem trair a sua cidade que acolhe igualmente os que os autorizaram ou praticaram com o sentido da justiça ou os que buscaram satisfazer interesses pessoais ou de classes, escondendo dos outros a má acção praticada? Pior: Como perscrutar incansavelmente pela verdade sem parecer-se culpado de traição para com aqueles que julgam ser os defensores da cidade e guardiães da virtude?

Na antiguidade, a história teve o desfecho trágico que todos conhecemos: se buscas a verdade e perdes de vista a lisonja para com os poderosos, e a paciência em condescenderes com as opiniões dos altaneiros néscios, então poderás ser condenado à morte. Se o fores, sendo-o injustamente, o que fazer?
Sócrates respondeu ficando e aceitando a sentença de morte para as falsas acusações que lhe foram feitas. Ele podia perfeitamente ter partido para o exílio, mas como responder perante as leis de cidades estrangeiras que ele considerava infinitamente menos justas que as da cidade de Atenas, sendo que mesmo assim estas contemplavam o suficiente grau de injustiça, no modo como processualmente decorriam os julgamentos, para permitirem a condenação de um homem inocente?
Sócrates morre por compromisso com as leis da sua cidade, porque como cidadão aceitara contratualmente as consequências desta ligação do indivíduo com o Estado, do indivíduo que vive sob as leis do Estado que escolheu para viver, e cumpre-as até ao fim. Mesmo sabendo que os homens que formavam esse estado legislavam de forma injusta. Não morre calado, nem subjugado, morre porque escolhe viver até ao fim como proclamou: respondendo à injustiça com a justiça.

Criticar o Estado, o nosso ou o dos outros que sob o nosso exercem uma esfera alargada de influência, é tarefa, para não utilizar um termo com conotação ética mais forte, o dever, de todos os que têm que considerar se as acções praticadas, por si, ou por outrem em seu nome, são justas ou injustas. Saber dar as respostas é que é difícil, porque estas fazem-nos cair nos quadros de explicações culturais, sociais ou políticas em que estamos socializados de ordinário. Que método de análise, para que tipo de prova da argumentação, com que tipo de fundamento para a conclusão, eis uma questão.
Platão, Críton.
Pela liberdade de expressão.

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