segunda-feira, setembro 18, 2006

Entre a apanha das uvas e o lavar dos cestos

A vinha é pequena mas dá trabalho. Coisa pouca, de castas misturadas, para consumo familiar. Os meus amigos entendidos enrugam-se todos.
Fazer vinho é um hino de louvor à ideia de imortalidade do meu pai que envelheceu em seis meses o que a vida não conseguira fazer envelhecer em 75 anos.

Deixámos de discutir as nossas diferenças ideológicas no dia em que começamos a discutir a necessidade de aplicação de químicos nos pomares e a poda das árvores. Eu chamava para minha defesa os autores que eram contra as podas, e evocava o grau de dividendos que no futuro a agricultura biológica daria, dando exemplos práticos. O meu pai chamava os velhotes da aldeia que me ouviam entre um sorriso distraído e outro condescendente para concluírem: “Ò filha, isso são tudo lérias de quem nunca plantou coisa nenhuma. Não é possível haver agricultura biológica tal como nos querem fazer crer. A bicharada dá cabo de tudo.”
Entre a experiência dos antigos e o meu saber livresco o meu pai não tem hesitado. Eu por mim continuo a ler Gonçalo Ribeiro Teles e a deixar aberto o capítulo sobre “como se deve podar” do livro que este escreveu há muitos anos com Francisco Caldeira Cabral A Árvore em Portugal, reeditado pela Assírio & Alvim em 1999.

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