quinta-feira, setembro 21, 2006

O que eu ouvi na rádio ou na televisão que me fez ficar a pensar:


Televisão, RTP 1, programa “prós e contras” da passada segunda-feira. Falava-se sobre o estado da educação. Dizia uma senhora professora, Presidente do Conselho Executivo de uma escola: “As creches já não aceitam uma criança logo que ela tem uma pontinha de febre, por isso as mães (professoras da dita escola) têm que faltar muito”.
Nem sinto vontade de comentar. Isto e outras coisas que por lá se disse. Mas vou esforçar-me: Na cabeça desta senhora Presidente, uma criança com uma pontinha de febre (isto não existe, ou se tem febre ou não, logo ou se está doente ou não) não tem nada que ficar no aconchego do lar com a sua mamã ou papá, preferencialmente, a cuidar dela. Não, é ir para a escola que é assim que se faz em Estados em que os indivíduos estão submetidos aos interesses da administração central.

TSF, ontem ao fim da tarde. Falava o Vice-presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis a comentar o anunciado encerramento para o dia seguinte (hoje) de escolas por parte de pais que protestam dessa forma contra a falta de auxiliares nas escolas dos filhos. Que sim senhora, que era verdade que havia falta de auxiliares, mas que os pais têm que compreender que o país não está em condições económicas de dar resposta a estas questões. Realmente há que saber que muitas das escolas públicas só conseguem dinheiro para que se compre material escolar e outro, como o papel higiénico, por exemplo, porque os pais dão um dinheiro extra por mês para satisfazer essas necessidades. As pessoas dão o que podem. Os amigos que me contaram isto contribuiam todos os meses com 20 Euros para a escola que a sua filha frequentava. Logo, o ensino público não é inteiramente gratuito e o ensino público está mal financiado e/ou mal gerido. As câmaras que vejam bem onde andam a gastar o dinheiro e quais as prioridades. O Ministério que não ande doido à procira de contenção de despesas que passe a ficar como o cão que persegue a própria cauda.


Antena 1, hoje de manhã: Nicolau Santos comentava a proposta do documento proposto pelo Think Tank Compromisso Portugal” sobre o tema da Segurança Social, criticando a defesa que António Carrapatoso fazia da ideia de passar a haver uma conta individual, gerida por entidades privadas ou públicas, onde cada trabalhador poria o seu dinheiro a capitalizar para a sua reforma. Aquele seria só o seu dinheiro. Como Nicolau Santos referiu e muito bem, isso iria destruir uma ideia social base para a coesão de um grupo alargado que é o da solidariedade inter-geracional, sendo que a longo prazo os mais pobres iriam ficar ainda mais pobres (os seus descontos iriam ser proporcionalmente muito inferiores o que lhes daria a perspectiva de acabarem na velhice com muito pouco). Ora é na contenção de um tecto a aplicar às reformas, a partir de uma determinada quantia não se pagaria reformas exorbitantes, que pode passar a solução, sendo que estas pessoas, pelo seu próprio percurso económico/profissional, teriam sempre a hipótese de aplicar as suas poupanças em fundos de investimento para a reforma, algo que os trabalhadores com salários mais baixos obviamente não conseguem ao longo de uma vida de descontos.

Sendo eu o mais possível a favor da responsabilização dos indivíduos, não concordo de maneira nenhuma que se deixe fora da esfera dos deveres do Estado as suas responsabilidades sociais com os mais desfavorecidos, e que isso seja feito sem o sentido de solidariedade social que tem formado as sociedades europeias nas últimas décadas. Não são só questões económicas, são questões que se prendem com o tipo de socialização que queremos promover. Se o sistema falir em termos económicos terá que se proceder a um reajustamento das contas, a uma nova ordem de destribuição, mas não a uma fuga das responsabilidades colectivas.
É isto que eu acho que o Ministério da Educação, que está a querer fazer coisas, e a querer resolver pragmaticamente alguns problemas estruturais, se está a esquecer. É que a escola que propuser agora forma a sociedade que vamos ter. Pouco mais terá tanta influência neste momento. Esqueça-se disso e quando as contas estiverem todas certinhas ainda andaremos à procura de quem são e porque o são as nossas crianças e jovens como são.

Sem comentários: