Enredada em auto contradições.
Acabei de ler a biografia de Mao. Atentamente segui as indicações bibliográficas, as fontes, os nomes das pessoas entrevistadas. Não posso deixar de pensar como me é mais fácil defender Heidegger ou Gräss como autores, apesar dos seus actos políticos, do que defender Mao. Poderei dizer, para me desculpar, que os primeiros com as suas opções deploráveis não foram decisivamente causa de morte e infortúnio de tantos milhares de seres humanos. Mas incomoda-me, de qualquer modo, que tenha para com aqueles intelectuais um tipo de respeito para com a sua obra que não tenho para com a de Mao. Vamos lá a ver, não que eu me recuse a ler os seus escritos. A falta de interesse que revelei até agora não significa rejeitar essa leitura. Mas recuso-me a pensar que um homem que praticou o poder como ele o entendeu, e como de uma forma geral a revolução assente em pressupostos sociais marxistas o entendeu, possa ter um pensamento que evolua acima dessa contingência histórica que representou o seu governo.
Tal como não aceito o estafado aforismo atribuído a um general romano sobre os portugueses, qualquer coisa que tem a ver com o facto de que os “portugueses não se sabem governar, nem se deixam governar”, como se, na realidade, nos interessasse muito aquilo que um ocupante da nossa terra tem para dizer acerca dos povos que quer dominar…também passo a não aceitar o aforismo de Mao de que “Se vires um homem com fome não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar.” Como se interessasse muito o que diz um homem que deixou morrer de fome milhares dos seus compatriotas e que nem a pescar os ensinou.
O mais que fica é o comum na história das relações que se tecem no poder, para manter o poder. Da incompetência dos líderes ou dos seus conselheiros, sejam eles de ditaduras ou governem em democracia. Pese embora os erros de uns e outros não terem o mesmo preço a nível pessoal em ditadura ou em Democracia. Nixon que o diga.
Tal como não aceito o estafado aforismo atribuído a um general romano sobre os portugueses, qualquer coisa que tem a ver com o facto de que os “portugueses não se sabem governar, nem se deixam governar”, como se, na realidade, nos interessasse muito aquilo que um ocupante da nossa terra tem para dizer acerca dos povos que quer dominar…também passo a não aceitar o aforismo de Mao de que “Se vires um homem com fome não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar.” Como se interessasse muito o que diz um homem que deixou morrer de fome milhares dos seus compatriotas e que nem a pescar os ensinou.
O mais que fica é o comum na história das relações que se tecem no poder, para manter o poder. Da incompetência dos líderes ou dos seus conselheiros, sejam eles de ditaduras ou governem em democracia. Pese embora os erros de uns e outros não terem o mesmo preço a nível pessoal em ditadura ou em Democracia. Nixon que o diga.
É interessante ver como os autores interpretam o papel de George Marshall no desfecho, a favor de Mao, da guerra civil chinesa, e do papel de Nixon e Kissinger na entrada da China na ONU em 1971. Interessante também a relação entendida como de atracção/repulsa de Mao por Estaline, e do confronto motivado pela vontade de hegemonia do poder comunista no mundo entre Mao e Kruschev. Relações de interesse.
Tudo o mais é avassalador. A ideologia de uma engenharia social que trata o indivíduo, a família, o grupo, os valores culturais e religiosos tradicionais, como meros elementos ao serviço de uma ideia de estado absolutamente adversa à liberdade, à responsabilização, à crítica e ao respeito pela vontade da pessoa e centrada no culto de personalidade de um líder.
A figura é odiosa, mas julgo que os autores poderiam distanciar-se dessa aversão e justificarem pelas palavras de outrem a caracterização da figura, com testemunhos ou registos, ao invés de consecutivamente utilizarem um discurso próprio valorativo que, a mim, me incomoda. Eu advogava um maior distanciamento.
Mas, fora a questão emocional relativamente à figura, há umas questões que o livro não resolve: explica porque é que Mao não recuperou à Inglaterra o território de Hong-Kong, mas não explica qual o interesse em não ter recuperado Macau tirando-o do governo de Portugal. Ambos os territórios eram governados por potências coloniais, inclusive Portugal perdeu os seus territórios na Índia em 1961, então porque deixar Macau em mãos portuguesas? Os autores não avançam com explicações para este caso.
Tudo o mais é avassalador. A ideologia de uma engenharia social que trata o indivíduo, a família, o grupo, os valores culturais e religiosos tradicionais, como meros elementos ao serviço de uma ideia de estado absolutamente adversa à liberdade, à responsabilização, à crítica e ao respeito pela vontade da pessoa e centrada no culto de personalidade de um líder.
A figura é odiosa, mas julgo que os autores poderiam distanciar-se dessa aversão e justificarem pelas palavras de outrem a caracterização da figura, com testemunhos ou registos, ao invés de consecutivamente utilizarem um discurso próprio valorativo que, a mim, me incomoda. Eu advogava um maior distanciamento.
Mas, fora a questão emocional relativamente à figura, há umas questões que o livro não resolve: explica porque é que Mao não recuperou à Inglaterra o território de Hong-Kong, mas não explica qual o interesse em não ter recuperado Macau tirando-o do governo de Portugal. Ambos os territórios eram governados por potências coloniais, inclusive Portugal perdeu os seus territórios na Índia em 1961, então porque deixar Macau em mãos portuguesas? Os autores não avançam com explicações para este caso.
Algo que também fica por esclarecer é a importância do que os autores consideram ser o maior partido maoísta no ocidente: o de Portugal.
No final não há indicação a nenhuma consulta de arquivo português. Seria importante sabermos como se processava a ajuda da China ao partido, sendo que esta devia ser substancial tendo por comparação as ajudas que eram dadas a outros partidos e apoiantes pelo mundo inteiro. O que fizeram os membros portugueses com esse dinheiro? E qual a sua importância na função de divulgadores do pensamento maoísta no mundo?
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