quarta-feira, outubro 04, 2006

E depois da pausa...as eleições brasileiras como os investigadores as vêem

Lula da Silva não quis deixar de ser presidente mesmo naquelas alturas em que necessariamente tinha que se tornar candidato à presidência, por via das regras e dos ciclos da democracia que obrigam cada governante a apresentar-se a eleições. Escudou-se numa pose de Estado que julgou ser suficiente para justificar a sua ausência dos debates públicos, separando-se dos outros concorrentes ao lugar. Escrutinado pelas urnas, mas também por grupos académicos que estudam a actuação comunicacional dos políticos em geral, e dos candidatos a eleições em particular, o discurso de Lula não está a convencer e vai ter que mudar.

Repare-se neste trabalho de uma equipa de investigadores brasileiros sobre as eleições presidenciais no Brasil. Os brasileiros têm uma escola de análise da comunicação política, de influência americana nos métodos utilizados, verdadeiramente interessante. Quando vêm fazer conferências a Portugal conseguem sempre surpreender-nos com o trabalho de investigação empírico que habilitadamente reunem e apresentam. A tradição nesta área é muito consistente.
Veja-se por exemplo a análise de um anúncio televisivo da campanha de Lula de 2002, quando foi eleito presidente pela primeira vez, conduzida por Sérgio Roberto Trein, arquivado e apresentado pelo Laboratório de comunicação on-line.

Em Portugal só se pensa sobre Comunicação Política (ou em Comunicação e Política, o que é diferente, mesmo assim), há muito pouco tempo, sendo esse campo ocupado pelas agências de comunicação que desenvolvem a sua prática de assessoria aos candidatos ou aos governantes na área da comunicação política. A monitorização da quantidade e qualidade das notícias políticas, o estudo das imagens e dos discursos, a reflexão sobre a influência das agendas políticas sobre as mediáticas, assim bem como a inversa, ainda está numa fase incipiente, sendo normalmente encarada pela nossa academia clássica como uma excrescência da Ciência política e/ou das Ciências da Comunicação. Falta andar esse caminho.

2 comentários:

Vitor Oliveira disse...

Isto lembra-me os tempos da primeira candidatura do Mario Soares à presidência.

Na campanha da 1ª volta ( e eu falo com conhecimento de causa porque quando as sondagens lhe davam apenas 7 a 8%, estivemos 10 pessoas numa "pseudo conferência" no Hotel Tuela na Boavista com ele ...... depois o maralhal só apareceu quando as sondagens subiram .... ), a "comunicação" eleitoral tinha um público alvo: os Socialistas !

Depois de ele passar à segunda volta, naqueles 1ºs minutos todos chegamos à conclusão de que o "Marocas" só lá iria com o apoio da APU ( era a CDU da época ).... e toca a por as rotativas a trabalhar e em poucas horas Porto e Lisboa estavam inundadas de cartazes com a foto do Soares e o slogan " O Voto do POVO " ....

Atenção: a palavra escolhida foi "POVO" ...... obvia e unicamente dirigida aos comunistas !

..... e resultou !

Agora o Lula se quiser continuar no Palácio da Planalto terá de se virar de novo para os seus "correlegionários" pobres, miseráveis, faveleiros e .... sem botox ! Senão ...... não vai lá !

VO

Isabel Salema Morgado disse...

Muito obrigada Vo por me dar esse exemplo. Um exemplo particularmente feliz.