terça-feira, novembro 07, 2006

Movimento revolucionário


“Chamaríamos então revolucionário aquele movimento que, independentemente dos meios invocados ou usados, predominantemente pacíficos, violentos ou mistos, visa a um tipo de ordenamento social, talvez não claramente especificado em sua articulação concreta, mas declaradamente antitético em todos os campo – económico, político, cultural e civil – em relação ao ordenamento capitalista democrático. E é precisamente em razão da oposição radical entre cidade do futuro e cidade do presente que predomina em tal movimento a tendência a julgar indispensável, mesmo que se creia doloroso, o recurso à violência. (…)
A sociedade que têm em vista nem é mais verdadeiramente democrática e liberal, nem o é em mais alto grau que a presente; é anárquica, isto é, baseada no total autogoverno dos indivíduos. Sobre o que isto possa significar e sobre como chegar lá, se de golpe, mediante a palingenesia apocalíptica da revolução, como sustentam os verdadeiros e autênticos anarquistas, ou através de um período transitório de ditadura do proletariado, como pensam, em vez disso, os socialistas de estampa blanquista ou marxista, os revolucionários podem discordar duramente entre si; mas o que os caracteriza em relação aos reformistas de qualquer tendência é a convicção de que o ponto de chegada será, sem sombra de comparação, melhor que a democracia e a liberdade “burguesas”, que podem, portanto, ser e são bastante sacrificadas. (…)
(…) Os revolucionários começam por desprezar o liberalismo, a democracia, e o capitalismo, por estarem sempre unidos a profundas injustiças e misérias. Mas, até aqui, nada os distingue ainda dos reformistas. Quando surge porém, a possibilidade de solução, pelo menos em parte, para tais misérias e injustiças, enquanto o reformista põe mãos à obra, convencido de que, no mais (o socialismo) está, de alguma maneira, o menos (as reformas), o revolucionário, em vez disso, se desespera, temendo que diminua assim a força do descontentamento de que é mister tirar partido para estabelecer um mundo melhor, diante do qual empalidecem, a seus olhos, todos os melhoramentos que se possam alcançar no âmbito da democracia, com a prática sindical e política. Para eles, o menos impede o caminho do mais.” pp. 1076 a 1078.
Domenico Stembrini, in Dicionário de Política 2 vol.


Qual é a matriz ideológica de todos os nossos governantes? E da nossa sociedade? Que tipo de socialização política foi a nossa? E como racionalizamos hoje a nossa política?

As perguntas fazem sentido, julgo, sabendo nós que o nosso modelo de implantação da democracia nasceu de uma revolução e não de uma reforma do sistema. Mesmo sem ser uma revolução declaradamente marxista, o seu cariz é de fundo marxista. Há que pensar pois, como é que este tipo de integração do cidadão na sociedade afecta a nossa perspectiva/acção política hoje em dia.
Como fomos racionalizando então a política, como começamos a pensar hoje em termos de reformas e não de revolução? Penso que a conhecida expressão de Mário Soares quando chegou ao governo, de que havia que “meter o socialismo na gaveta”, foi o sinal de mudança na política partidária, e também nos espíritos da maioria dos seus eleitores. Leia-se esse enunciado como: “Há que meter o socialismo de matriz marxista na gaveta”.
O partido trabalhista inglês, por exemplo, não teve esta influência marxista, daí que haja quem olhe para Blair como uma “anomalia da esquerda”, quando na realidade a esquerda inglesa trabalhista não tem equivalência ideológica com a base que sustentou ideologicamente a maioria dos partidos de esquerda do continente.
O partido socialista português também encontrou a sua via sem precisar da alavanca marxista, mas este constituiu o seu primeiro ambiente ideológico, e isso é indelével. Como aliás o foi para grande maioria dos dirigentes deste país, muitos de partidos ditos de direita. Não há qualquer motivo para esta mudança ser encarada como uma perturbação social ou política, são mudanças de paradigmas ideológicos que acontecem normalmente, mas eles precisam de ser assumidos, compreendidos e explicados.
E o que querem os portugueses? Continuar a viver cada vez melhor, reformando o que está mal, ou uma revolução, para alterar radicalmente o estado de coisas? E não, os resultados das eleições não permitem responder a esta questão. Este é um estudo para a sociologia, para se investigar que impulsos políticos profundos estão registados no comportamento público dos portugueses e dos seus políticos. QUANDO NOS CONHECERMOS MELHOR. E isto também de um ponto de vista filosófico.

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