Muitas das pessoas que eu conheço afirmam estar acima do ressentimento, porque nã0 querem ser identificadas com os escravos, seres servis, da filosofia de Nietzsche. Mas essas pessoas se evitam a afirmação do sentimento, não evitam a prática do ressentimento. E também não estão preparadas para assumir a radicalidade das consequências que a definição de um homem anti-ressentimento pressupõe no contexto filosófico apresentado.
Conhecer a teoria do anti-ressentimento, e afirmá-la, não é o mesmo que praticá-la, até poque ela exige pessoas ou muito distraídas de si e dos outros (como eu digo), ou pessoas cruéis (como o diz Nietzsche).
F. Nietzsche exaltou a moral do "Sim", do homem de acção, e contrapô-la ao do homem da reacção, no que subentende ser o ressentimento a "vingança do impotente". Mas o homem de acção não é apenas a incarnação de um tipo, é uma identificação precisa de um certo tipo de homem real que ele quer ver como senhor. O homem histórico,"assustadoramente brutal", que a aristocracia grega deu ao mundo, e que se opõe ao homem do ressentimento, é o exemplo de humanidade preferida. A outra, o povo passivo e sumisso, só produz pessoas temerosas, que defendem, por cobardia de assumirem os seus intintos, formas de diluição das forças de domínio e de subjugação.
Mas até que ponto os que sabem evitar a palavra ressentimento conseguem evitar a sua natureza de ser ressentidos? Seres que, anémicos, debatem assuntos ou pessoas que se lhes opõem, ou que escolheram o seu destino fora da esfera de influência dessas personalidades, como se fossem fantoches manuseados pela maledicência, espreitando, frouxamente, sobre o "ombro" de uma teoria que gostariam que lhes dissesse respeito, que os dissesse o super-homem poderoso de Nietzsche que sente o sabor doce da vingança na boca e o afirma exaltamente.
Eu confesso-me como o menos seduzida possível pela teoria moral de Nietzsche, pese embora reconheça a necessidade de uma investigação contínua sobre esse tipo de previsibilidade da acção moral que julgamos ser a que define a nossa sociedade. E que a investigação de uma genealogia da moral não sirva para defender uma ideologia social, mas nos faça pensar: "Como é que se faz uma memória dentro do homem-animal?", Como se cria uma consciência? Nietzsche diz-nos que só com terror e dor isso se consegue. Explica assim a história da consciência moral como uma "total hipnotização do sistema nervoso intelectual".
Sem comentários:
Enviar um comentário