Nesta tarde de chuva tiro uma hora para ler os meus blogues favoritos. E no fim apetece-me transcrever:
“No dia seguinte Minnie devolve o livro a Theodora Bosanquet.
- Gostou? – pergunta Theodora.
- Bem, Miss Bosanquet, está muito bem escrito, isso deu para ver, mas…
- Mas?- Os grandes olhos castanhos de Theodora estão quase cintilantes.
- Bem, para ser franca, é um bocadinho de mais para mim.
- Pois é, Mr James é de facto um escritor difícil ao primeiro contacto. Exige muito dos leitores. Mas o esforço é compensador.
- Ah, sim, certamente, Miss Bosanquet. Mas p`ra isso é preciso ser culta.
- O que é que achou mais difícil de entender? - Theodora abre o livro e começa a folheá-lo.
Minnie hesita, tentada a responder: “Tudo!” Mas o que diz é:
- Bem, eu julgava que ia ser acerca da selva…
- Ah. A fera na selva é apenas uma metáfora. Um símbolo.
- Ah… – Minnie fitou-a boquiaberta.
- Marcher teve toda a vida um pressentimento…uma sensação…de que alguma coisa terrível e extraordinária lhe ia acontecer, e compara essa coisa a um animal selvagem à espera para saltar sobre a presa.
- Ah, estou a ver. - E Minnie está mesmo a começar a ver.
- E então ele conversa com May sobre o que poderá ser… interminavelmente, obsessivamente, egocentricamente, encontro após encontro, ano após ano. Até que ela morre e só então ele compreende, tarde de mais, que ela o amava. E compreende que nada jamais irá acontecer-lhe, porque ele é incapaz de amar.
- Ah, então é isso que a história quer dizer – murmurou Minnie, quase em êxtase, com o olhar desfocado.
Theodora salta para a última página da história e lê em voz alta: - ”Ela tinha vivido, quem poderia dizer agora com que paixão?, pois tinha-o amado pelo que ele era; ao passo que ele nunca tinha pensado nela (ah, como a verdade o fita acusadora) senão no gelo do seu próprio egoísmo e à luz da utilidade dela.” Percebe?
- Agora sim. Obrigada, Miss Bosanquet.”
David Lodge, Autor, Autor, pp. 32-33.
“No dia seguinte Minnie devolve o livro a Theodora Bosanquet.
- Gostou? – pergunta Theodora.
- Bem, Miss Bosanquet, está muito bem escrito, isso deu para ver, mas…
- Mas?- Os grandes olhos castanhos de Theodora estão quase cintilantes.
- Bem, para ser franca, é um bocadinho de mais para mim.
- Pois é, Mr James é de facto um escritor difícil ao primeiro contacto. Exige muito dos leitores. Mas o esforço é compensador.
- Ah, sim, certamente, Miss Bosanquet. Mas p`ra isso é preciso ser culta.
- O que é que achou mais difícil de entender? - Theodora abre o livro e começa a folheá-lo.
Minnie hesita, tentada a responder: “Tudo!” Mas o que diz é:
- Bem, eu julgava que ia ser acerca da selva…
- Ah. A fera na selva é apenas uma metáfora. Um símbolo.
- Ah… – Minnie fitou-a boquiaberta.
- Marcher teve toda a vida um pressentimento…uma sensação…de que alguma coisa terrível e extraordinária lhe ia acontecer, e compara essa coisa a um animal selvagem à espera para saltar sobre a presa.
- Ah, estou a ver. - E Minnie está mesmo a começar a ver.
- E então ele conversa com May sobre o que poderá ser… interminavelmente, obsessivamente, egocentricamente, encontro após encontro, ano após ano. Até que ela morre e só então ele compreende, tarde de mais, que ela o amava. E compreende que nada jamais irá acontecer-lhe, porque ele é incapaz de amar.
- Ah, então é isso que a história quer dizer – murmurou Minnie, quase em êxtase, com o olhar desfocado.
Theodora salta para a última página da história e lê em voz alta: - ”Ela tinha vivido, quem poderia dizer agora com que paixão?, pois tinha-o amado pelo que ele era; ao passo que ele nunca tinha pensado nela (ah, como a verdade o fita acusadora) senão no gelo do seu próprio egoísmo e à luz da utilidade dela.” Percebe?
- Agora sim. Obrigada, Miss Bosanquet.”
David Lodge, Autor, Autor, pp. 32-33.
Sem comentários:
Enviar um comentário