quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Pragmatismo político

Estava aqui a pensar nas reacções ao documento entregue pelo MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Antifascista) junto da Assembleia Geral das Nações Unidas a 8 de Dezembro de 1948, intitulado “Portugal e a ONU”. Na altura, a imprensa mais afecta ao regime do Estado Novo caustica o documento pelo seu carácter antipatriótico (argumento pífio do ponto de vista racional mas que emocionalmente deve ter deixado a sua mossa, não sei) e por nem sequer estar assinado. Pudera... Ironiza-se, na dita imprensa, com o tipo de apoio procurado, e encontrado, junto de países representados nas Nações Unidas e que impedissem a entrada de Portugal, evocando-se para o efeito o carácter ditatorial do nosso regime. Na realidade esse apoio foi dado pela união Soviética que vetou a entrada de Portugal na Organização.

Penso nos autores do documento e na sua vitória, que lhes deve ter dado um sabor amargo na boca, pois se realmente eram opositores de governos ditatoriais o que não lhes deve ter constrangido estar em semelhante companhia. Deve ser o tipo de situação de se estar entre a espada e a parede. Do ponto de vista pragmático a vitória assim conseguida contra o Estado Novo foi importantíssima, o governo sofreu uma derrota pesada no plano internacional, mas do ponto de vista da justificação da sua acção, o facto de a União Soviética estar a apoiar as suas exigências não lhes deve ter dado muito descanso.
Mas que diabo… estávamos entre nações democráticas, a pedir-lhes a sua atenção e apoio para pressionarem o nosso Estado, e todas elas aceitavam o nosso regime fascista, caucionando-o, nessa votação? E depois há uma nação que de democrática nem tinha sequer o nome e que apoia as alegações da oposição portuguesa? Não há aqui nenhuma contradição?
Bom, mas também de vitórias morais está a teoria cheia. Ou talvez não.

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