quinta-feira, março 15, 2007

Eu não sou... ou sou?

Ainda sobre a identidade. Desta vez sobre a crise da mesma.
Li no "The New York Times", que recebo via e-mail, do dia 11 de Março, que geneticistas da Universidade de Oxford chegaram à conclusão que escoceses e ingleses têm na realidade em comum os mesmos antepassados, o que vem baralhar os discursos dos nacionalistas escoceses que pretendem ver acentuada a sua já vasta autonomia regional. Não se discute a legitimidade dos mesmos em prosseguirem esse objectivo político, o que se questiona é a fundamentação argumentativa para justificar essa exigência de autonomia. Os escoceses podem basear-se em argumentos que atestem acerca da sua inquestionável singularidade cultural, que a linha histórica oficial do grupo vencedor apostou em negar mas a tradição local manteve viva, mas também no argumento, agora hipotecado, de uma diferença radical quanto à identidade do povo escocês por contraponto à do povo inglês. Por outro lado, estes dados novos da genética vêm baralhar também as políticas e os discursos nacionalistas ou discriminatórios que circulam no mundo, pois tem-se vindo a demonstrar que as semelhanças entre os povos são mais comuns do que as diferenças, sendo então ao nível das estruturas culturais e sociais que podemos encontrar as explicações para as diferenças. E estas são conjunturais.

Importará é agora saber como é que certos princípios éticos ganham universalidade apesar de se manifestarem em contextos históricos concretos. Como defender a universalidade de princípios que nenhuma cultura deve subvalorizar.



“(…) Does the new genetic evidence take the wind out of the sails of the cultural nationalists in Scotland, or those in Ireland? To an extent, it must, because such people are often convinced that the Irish and Scots are a quite different breed, that their ancestors came from somewhere other than wherever it is that the English came from. But if that is shown not to be true, then the differences — however profound and important to cultural identity — are demoted to the incidental variations that flow from living in separate places and developing distinct local cultures.
If the message from these geneticists is accepted, then the whole notion of Britishness and its political embodiment, the United Kingdom, might summon up some of the confidence it needs if the Union is to survive. It may chip away at the sense of separateness upon which the nationalist cause in Scotland relies for its success.
Ultimately, of course, this sort of genetic disclosure could be very helpful for everyone, and at a universal level. The more we are shown to be related, the more our sense of shared humanity must come to the fore. That may be hopelessly idealistic, but it was very much the message that the great poet Robert Burns gave to the world. And he was Scottish. Or was he? (…)”
A Wee Identity Crisis” por ALEXANDER McCALL SMITH
Publicado em 11 Março de 2007

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