sábado, março 03, 2007

Identidade 2

Vou buscar o livro de Roland Barthes e nele ando para trás e para a frente, folheando-o, à procura da citação certa para um pensamento que sei de cor, mas que há muitos anos não releio. Canso-me de procurar e deixo-me ficar a ler um ou outro capítulo. Já me parece que passou um século entre o tempo de o ter lido pela primeira vez e o tempo presente.

Levei muito tempo agora, o que me desconcentrou para tudo o mais senão para o que nele tivesse escrito. Sinto a vertigem de falar como ele fala. Agora já não sei sobre o que queria escrever. Leio Barthes e faço um esforço para pensar no que tinha pensado quando abri o livro à procura da frase. Recito arduamente: Ora bem, se eu substituir a palavra “apaixonado” na frase de La Rouchefoucauld pela palavra patriotismo, ou defesa da democracia, ou proclamação da Declaração dos direitos humanos, por exemplo, estarei ao mesmo nível de significação mitológica?
Mas já não consigo argumentar mais.

La Rochefoucauld: “Pessoas há que nunca se teriam apaixonado se nunca tivessem ouvido falar de amor” (máxima 36),

em Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso, trad. Isabel Pascoal, Lisboa, Ed. 70, p. 175

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