segunda-feira, março 05, 2007

Identidade 4

Há pessoas que se nunca tivessem ouvido falar de certas ideias nunca as defenderiam ou as tomariam como directrizes dos seus comportamentos ou sistemas de crenças. Se assim não fosse não haveria formas de nos agruparmos sob a representação de uma certa ideia de nós, por contraposição a ideias dos outros, que incluísse exposição directa ou indirecta, institucional ou socialmente informal, a certo ideário que passamos a defender como nosso. A representação presente numa sociedade que defenda a igualdade de géneros, por exemplo. A luta que isto deu. Ou a universalização do voto a indivíduos com mais de 18 anos independentmente das suas habilitações ou condições económicas, ou a a defesa do conceito de democracia representativa, ou... Quantas reuniões, conversas partilhadas, edição de livros e panfletos, discursos inflamados ou nem por isso, pressão física e opressão psicológica, tudo isto não provocou.

A representação de uma sociedade como sendo democrática, por oposição a uma qualquer outra, faz-se, em primeiro lugar, como uma construção mental. Eu defino-me em comparação/contraposição contra outra qualquer definição. A minha identidade, individual ou de grupo contra a identidade de outrem que se me opõe. Daí a importância da pedagogia cívica, da propaganda, da repetição pelo exemplo e pelo seguir o modelo, e da interiorização de hábitos e comportamentos que caracteriza a socialização dos indivíduos em qualquer sociedade. Todas as ideias sobre todos os fenómenos, naturais ou sociais, precisaram de pessoas para as divulgar e explicar até que elas começassem a ser aceites ou recusadas e torná-las parte da estrutura vivencial ou moral de cada um a elas expostas, criando uma identidade social.

Independentemente de sabermos que tipo de recursos estão à disposição dos divulgadores e a forma como os mecanismos de interiorização funcionam (não consigo esquecer por exemplo o estudo[*] que afirma a importância da primeira indicação de voto de um cidadão o qual permitirá predizer com alguma segurança o tipo de comportamento de identificação a um partido político, a sua escolha afectiva e racional futura em política), a que responderão as ciências do comportamento, haverá que saber identificar o/os indivíduos que começam por criar essas ideias e a forma de se apresentarem como defensáveis, legítimas ou seduzíveis junto dos seus concidadãos. Quem cria as ideias que caracterizam o que chamamos a identidade de um povo, com que fundamentos e porquê? Se a pergunta estiver bem feita, e poder ser feita nestes termos, as respostas terão que vir da História das ideias, da teoria política e da filosofia.


Profissionalmente tenho dois problemas que me perseguem: saber qual o fundamento das nossas crenças e saber qual o fundamento das nossas crenças. São dois, são, é uma forma de me persuadir que isto não é uma obsessão mas uma inquiração racional, para dois momentos. Tudo muito rigoroso e nada confuso. Muito científico.


[*] Quando descobrir a referência bibliográfica indicá-la-ei.

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