"-Olha o que eu ando a ler" - deu-me para as mãos um livro de Paul Mercier, Nachtzug nach Lissabon (O comboio da noite para Lisboa)
Não conhecia Paul Mercier. Não conheço o livro.
Perguntei-lhe sobre o livro e sobre o autor. Fiquei a saber que Mercier (pseudónimo de Chant Gregorius) é professor de Filosofia em Berlim, este é o seu terceiro romance, nasceu na Suiça. O livro conta a história de um professor que um dia abandona tudo na Alemanha e inicia uma viagem para Lisboa. A minha amiga ainda está no princípio do livro, não sabe muito mais.
"Lá na empresa andam quase todos a lê-lo e estão a gostar muito. " - disse-me.
A Eunice é bióloga e está a trabalhar na indústria farmacêutica alemã. Abriu-me o livro numa página e indicou-me: - "Olha como o romance está pontuado de frases em português". Li a que me mostrou, e que passo a citar de memória: "Quando há uma ditadura, temos o dever de fazer uma revolução".
Sei que estremeci. Isso de certeza. Há palavras assim, fazem-me balançar.
Perguntei-lhe: " - A que propósito surge esta frase no romance?". A Eunice releu o parágrafo e disse-me que era uma inscrição lida pela personagem na pedra de um túmulo de um sujeito de sobrenome Prado, e isto numa ida a um cemitério de Lisboa em busca de pistas sobre uma tal de família Prado.
Em Portugal sim. A última revolução assumiu-se contra a ditadura sem cair na tentação de criar uma outra em seu nome. Mas pensei: Sabemos todos o que é uma ditadura, mas nem todos saberemos como fazer revoluções não ditatoriais. Os portugueses souberam-no. Isso conforta-me. Hoje. Amanhã também. Passe o exagero.
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