domingo, maio 20, 2007

Percepções

Não é necessário, nem será suficiente, que a minha percepção pessoal da pessoa candidata a um cargo político me faça decidir o meu voto. Perscruto a minha decisão. Julgo-me uma votante racional. A que toma decisões com base numa análise da argumentação apresentada. Mas sei que isso não é totalmente verdade. Já votei por tradição, porque sim, porque fora naquele partido que depositara a minha primeira confiança. Já votei por solidariedade para com quem vai perder. Já votei em pessoas e não nas ideologias com que essas pessoas habitualmente se identificam. Já votei em projectos e em ideias.
Mas ainda não sei totalmente, e antes de uma campanha, em quem vou votar e porquê. Ou pelo menos gosto de pensar que não sei. Como se a liberdade se materializasse nessa possibilidade do "se ...então".
Dos candidatos à Câmara de Lisboa só troquei, no passado, meia dúzia de palavras com a arquitecta Helena Roseta por duas ocasiões diferentes e das duas por conveniência minha. Foi sempre o mais prestável e interessada possível na formalíssima questão então tratada. Isso não faz dela a minha candidata a presidente da Câmara. Mas faz dela a minha candidata a seguir com uma atenção particular. Comentava isso mesmo com uma amiga e colega minha. Respondeu-me que tem da candidata exactamente uma ideia oposta à minha. O que podia eu dizer? A verdade da má imagem que a minha amiga reteve de Roseta é tão verdadeira quanto a boa imagem que eu tenho de Roseta.
Mas eu não quero votar em imagens (demasiado previsível o fenómeno de criação de imagem pública para cidadão ver e votar), quero votar em alguém que me convença da credibilidade do seu projecto. E para isso é preciso que eu esteja convencida que sou capaz de distinguir os critérios de credibilidade dos que o não são. Mais, é preciso que eu possa provar como é que chego a essa fase do meu convencimento. Isto dá um trabalhão. E nada garante que seja verdade. Ou que o consiga. Haveria então que sopesar o passado, o presente e uma proposta de futuro. Que esforço. Que canseira. E que inutilidade no que a uma certeza na previsão dos actos.

Dizer mal de alguém ainda dá mais trabalho. O esforço que é necessário para não gostar de alguém extenua-me. Na vertigem da maledicência, que aprendi como quem aprende a fazer croché para passar um tempo e arranjar mais um quadrado para uma mortalha, rebenta-se de fel a minha alma. E tudo isto com a etiqueta de que é preciso não gostar muito para saber como gostar muito. Pois sim. Mas também, o gosto de quem gosta com indiferença é o quê? O gosto pela indiferença ou pela diferença indiferentemente? Nem quero saber.

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