quarta-feira, maio 23, 2007

sublimada democracia

Ultimamente não consigo deixar de pensar: escolho o lírio ou o pão?
Geralmente sento-me a ver televisão e não escolho nada.

Um colega, quando eu ontem dizia que não tardava nada éramos todos sujeitos a processos disciplinares pelas horas que passámos a brincar sobre o processo de licenciatura, quando não das atitudes, do nosso primeiro-ministro, olhou-me calmamente e disse: "Cada um de nós é responsável por aquilo que faz. Pelas escolhas que fez, pelas decisões que tomou. No país, ou em Lisboa, os governantes são o nosso retrato. Brincar com o primeiro-ministro é brincar connosco mesmos, com o nosso reflexo na sua acção, com o nosso reflexo nas suas atitudes, assim como brincamos com o nosso reflexo que visualizamos nas ruas porcas, prédios velhos e carros em cima do passeio. Ele e tudo o mais somos nós ainda". Passou-me logo a vontade de brincar. Fui sentar-me ao computador por não querer pensar em escolhas públicas.
Há alturas em que a democracia nos dói de forma particularmente intensa, como se perdêssemos alguém próximo. É a dor da realidade por contraponto à sublimada teoria.

2 comentários:

Anónimo disse...

A verdade é que democracia e liberdade são termos cujo significado se perde e dilui cada vez mais nas teias do tempo que passa...
Estamos num tempo que, ou passa depressa, ou então, deixaremos de saber quem somos, o que queremos e para onde vamos...

Por acaso sabem que em Leiria, no dia 22 de Maio foi dia de feriado municipal, mas como estavam marcadas, a nível nacional, provas de aferição de Lingua Portuguesa, alunos e professores foram obrigados a comparecer nos respectivos estabelecimentos de ensino!

Quando me contaram custou-me a acreditar...

...mas a cada dia que passa o hábito sobrepõe-se à surpresa espontânea... e esse é que é o cerne do problema:

O que é fantasticamente inacreditável e inconcebível por se tornar um hábito passa a ser indiferente e já não surpreende ninguém, gerando a indiferença colectiva...

Vamos bem... vamos...E se nos convencerem que a culpa até é nossa, ainda melhor estamos...

Quando era menina de escola havia um jogo que no recreio fascinava a pequenada: o jogo da cabra-cega.

Nos dias de hoje, esse jogo teria, decerto, outras regras: um vendaria os olhos a todos os outros e, assistiria, sorrindo, à brincadeira de o tentarem apanhar...

Pois,hoje, continuando a ser menina-de-escola, neste jogo de cabra-cega, além da venda que nos cega, parece-me que a mordaça passou a fazer parte do jogo democrático...

E se eu acreditar que nasci assim, será que vou pensar que a cegueira colectiva faz parte da humanidade?

Citando Saramago em "Ensaio sobre a cegueira":
"É assim que os homens verdadeiramente são? É preciso cegarem-se todos para que enxerguemos a essência de cada um?"

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." ; ou ainda: "Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos, que, vendo, não vêem"(p.310)

Isabel Salema Morgado disse...

OlÁ Teresa!

Não me queres enviar o teu e-mail? Não porque tudo o que te possa dizer não possa ser feito em público, e através deste meio, mas é que as vezes tenho umas informações que eu penso que tu terás especial gosto em saber e que não são de interesse público.

Um abraço,

isabel