segunda-feira, setembro 03, 2007

Quando se negoceia o mal

O mal. Esconjurado com palavras. Et voilà! Um país que veio ao redil. Melhor para o mundo, claro. Mas apetece rir com a entrada e a saída do mal da linguagem política americana. É uma variante da esconjura feita com armas. Usa-se o dinheiro. O mal tratado com pragmatismo é sempre um mal dominável, pacífico, apesar dele mesmo.
Dir-se-á que a ameaça, a pressão, de utilização das armas está presente como subtítulo e daí o êxito da palavra negociada. Mas isso é esquecer as análises de todos os que sabem que a guerra dos Estados Unidos no Iraque é um castelo de cartas e que desteceu uma administração até à linha, e no entanto, apesar de se temer esse enfraquecimento... conseguiu ainda com a negociação o que as ameaças não tinham conseguido desde 1987.
Os homens velhos já não se sentem ameaçados pelo excesso de rapazes nos Estados Unidos e podem agora negociar a paz na Coreia do Norte? Vi esta alusão num episódio do Ossos numa dessas tardes de Verão e não resisto a replicar a ideia. É uma razão dita antropológica para o fenómeno da declaração de guerra. Não sei se é uma razão verdadeira, ou científica, mas que é curiosa, é. A propósito, não há série americana que não tenha uma ou outra referência à guerra no Iraque. Para os americanos esse conflito não é só uma questão de cenário político num mundo dito global, é sim uma experiência quotidiana de ansiedade pela segurança dos seus soldados e descrença pelas razões que os fazem estar lá. A ficção di-lo, ao facto propriamente dito.

Claro que à mesa a falar não estiveram só “o negociador norte-americano Christopoher Hill e o seu homólogo norte-coreano Kim Gye-kwan”, mas muitos outros cujo nome não aparecerá, ou só se saberá, por exemplo, aquando da biografia do presidente chinês Hu Jintao.

Sem comentários: