quarta-feira, abril 30, 2008

Churchill: uma leitura 1

Terminado o exercício de leitura da sua biografia por Martin Gilbert a primeira coisa que me ocorre dizer é que ele é um homem para e da Grã-Bretanha, um defensor do império britânico. A grande sorte do mundo foi que o discurso e a acção de defesa desse império cruzou com a defesa de ideias e de formas de vida que estavam do lado da virtude de uma política parlamentar, no seguimento de uma tradição social e política assente na defesa dos valores democráticos, e disso o resto do mundo veio a beneficiar, mas porque aquilo que a Grã-Bretanha tinha a perder com o avanço dos totalitarismos era incomportável antes demais para si própria. Houve ali um momento histórico em que o interesse de uma nação se transfigurou no interesse de todas as nações livres do futuro. As ideias eram as certas, entraram em luta e sairam vitoriosas. Não foi por terem saído vitoriosas que elas se trasformaram em certas, mas foi uma grande ajuda.
Na realidade, a preocupação e a estratégia de Churchill foi sempre, e antes de mais, a preocupação com o seu império, a defesa dos seus territórios e das suas políticas internas, mas por mérito das estruturas históricas que herdou e por mérito da sua própria formação filosófica e política, os interesses internos e externos podiam aqui e ali coincidir no seu todo e refulgir como uma luz de farol a indicar a linha de costa para humanidade. De repente, em nome de ideias como eleições livres, liberdade de expressão, governo dos povos pelos povos, tanto a defesa armada como os conluios diplomáticos para a segurança interna conseguiram fazer eco para valores e defesa de interesses internacionais. É obra.


Penso em Salazar e na sua atrofiante filosofia política e penso-o no lugar errado, com o discurso errado para a história, e lamento que alguém que igualmente defendia o seu país e o seu império, não conseguisse nunca fazer coincidir essa defesa com as ideias que verdadeiramente interessavam à comunidade do futuro e que iriam afirmar-se como as únicas admissíveis, ainda que por aprofundar, na longa história do governo das sociedades no mundo: a democracia, a independência dos povos colonizados, a liberdade com princípio regulador da ordem pública.


Que pena esse raio de influência não ter produzido um outro pensamento e uma outra acção para o governo de Portugal. Que pena continuarmos sem saber conciliar e equilibrar o orgulho interno e a vontade de pertencer de facto a uma comunidade internacional. Que raio de perda de nós.

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