Jakob Von Guten investiga. Tem por objecto aquilo que os filósofos contemporâneos puserem em causa e que se pode convencionalmente chamar por "natureza humana".
O que a personagem faz é constituir um friso ao longo do livro sobre a personalidade e a acção dos seus professores e dos seus colegas, e enquanto o faz vai revelando-se a si mesmo. Sabe que todo o movimento de descrição, definição, circunscrição dos outros remete inevitavelmente para a ideia que temos da nossa própria descrição, definição e circunscrição. A questão está que nem sempre nos vemos através do ricochete do nosso olhar sobre os outros: é mais fácil crer que ao defini-los de uma vez para sempre o estamos a encerrar num universo que não nos afecta, de que somos imunes e convenientemente afastados observadores. Como se o fossemos alguma vez… como se não ficássemos quer na sombra que sobre nós projecta o objecto observado quando ele se interpõe entre nós e o foco de luz (a teoria, ou a opinião, ou o hábito à luz dos quais analisamos as coisas), ou quando sem subterfúgios nos prestamos a vermo-nos a nós mesmos com a luz que usamos para ver os outros.
Jakob investiga-se. Faz perguntas sobre si e para si póprio. Não as faz só para saber dos outros à sua volta, para os prender em ideias concebidas. Todo o conhecimento do que o rodeia é um pretexto para profundar o que sabe ou intui acerca de si. Não é uma redução do mundo ao eu, é uma expansão do eu através do mundo.
Não é a firmação do egoísmo solipsista do comentador de filósofo que precisa de interpretar deficientemente a teoria que o precede para não se deixar aprisionar na resposta e produzir ele a sua própria resposta, como a criança malcriada que pensa que só o sendo ganha a autonomia e impõe as suas regras, é a ideia de que ao falar sobre os outros eu estou sobretudo a revelar-me a mim própria, não pelo que eu digo, mas porque o digo, porque me interesso, logo me comprometo com o sentido da inquirição.
"And you know that when you run out of questions, you don't just run out of answers, you run out of hope. You glad you know that? "
Ontem, no episódio de Dr. House, onde me refugiei do desespero intelectual que a parte visionada do programa “Prós e Contras” me estava a provocar, a assistente/colega do médico tem esta conversa com ele:
“/Cut to 13 walking into House's office with an envelope.]
13: What the hell is this? [Puts the envelope on House's desk.]
HOUSE: [Picks it up and looks at it.] Looks like an envelope with the results of the genetic test for Huntington's inside.
13: Did you look?
HOUSE: I thought it'd be fun to find out together.
13: I don't want to know.
HOUSE: No, you're afraid to know.
“13: I might die. So could you, you could get hit by a bus tomorrow. The only difference is you don't have to know about it today, so why should I?
“13: I might die. So could you, you could get hit by a bus tomorrow. The only difference is you don't have to know about it today, so why should I?
HOUSE: I don't have to know the lottery numbers, but if someone offered them to me, I'd take them.
13: You spend your whole life looking for answers. Because you think the next answer will change something, maybe make you a little less miserable. And you know that when you run out of questions, you don't just run out of answers, you run out of hope. You glad you know that?
[13 leaves. House thinks for a few seconds then drops the envelope in the bin unopened.]”
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Texto retirado do site "Clinic duty"
O episódio ontem visionado com legendagem em português é o da 4ª temporada, o nº 408.
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