terça-feira, junho 24, 2008

insustentável/sustentável

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Acresce que a polemologia do milénio não conta apenas com o uso da força militar.

De facto o globalismo económico destacou a agressão económica como um instrumento estratégico da maior importância e perigosidade. Neste caso, a Europa está numa situação de vulnerabilidade aguda, como subitamente se tornou evidente com a crise dos combustíveis.

A expansão colonial do século XIX foi justificada pelas democracias europeias da frente atlântica, nos respectivos parlamentos, pela necessidade de dominar as fontes de matérias-primas e garantir mercados de produtos acabados. Destruído esse império, a realidade, demonstrada pelas manifestações que desfilam pelas capitais europeias, é que a Europa é um espaço com debilidades, carente de matérias-primas, carente de energia, carente de mão-de-obra, e começa a dar sinais de carência de confiança.

A globalização implica sistemas abertos que sofrem as intervenções cuja origem a lei da reflexividade situa nas antigas dependências coloniais, e os sinais de que a capacidade europeia de reformular e reanimar o sistema está em dificuldades são eloquentes. A falta actual de lideranças poderosas e confiáveis também não ajuda a inverter a tendência.

Os noticiários parecem mais empenhados em abordar os debates sobre as mudanças dos modelos de comportamento social, ou sobre os vários circos de entretenimento dos tempos livres, incluindo a agenda de tempos livres de líderes políticos, do que os debates cívicos e políticos sobre a relação da Europa com a circunstância que a envolve de maus augúrios e de más notícias.

A crise que traz multidões para a rua em protesto pelas dificuldades de vida causadas pela disfunção do sistema económico globalista, que foi instalado com oferecida abonação científica e pouca governança, não é amenizada pelo recurso a semânticas paliativas porque a pobreza crescente, o desemprego, e a fome, incitam ao exercício de direitos naturais pouco condescendentes. Esses direitos naturais exigem uma sociedade de confiança para que a contenção recíproca, necessária para assegurar a coexistência efectiva de todos, seja um regulador natural. A pouco amiga circunstância externa, exige uma sólida mobilização cívica a que a UNESCO de longe apela, para que a política retome o comando confiável e oriente o rumo para horizontes menos inquietantes. Por isso, a busca de um projecto de governança confiável não pode ser fixada e dramatizada na rejeição de uma proposta de Tratado, como se apenas houvesse para cada futuro uma visão de método sem alternativa. Também não é o prestígio dos proponentes do método de Lisboa que está em causa: continua a ser o futuro, muito mais difícil de prospectivar e harmonizar do que encontrar depois o método apropriado.

Uma escolha de método que, para respeitar a comunidade europeia de direito, e não agravar a fragilidade, também não pode aceitar transpor a avaliação do exercício do direito da Irlanda para o plano dos imperativos de uma coligação política maioritária."

A FRAGILIDADE EUROPEIA in DN
Adriano Moreira, professor universitário

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