Na crise económica, ou política, como podemos não desviar os olhos, nós que não sabemos olhar sequer para o que vemos? Sabemos nos entanto que os economistas que temos e os políticos que temos, os que ouvimos pelo menos, não estão a dizer nada que seja confiável, que seja uma linguagem nova, que invente uma solução, ou que exceda uma resolução que não passe pela do tempo que há-de correr. Porquê esperar na resolução que há-de vir com os outros? Deve ser o síndrome da princesa indefesa e aprisionada na torre à espera do seu princípe, alimentado por séculos de governos políticos que premeiam a menorização das gentes.
Não sei explicar o tempo, mas compreendo o que é o tempo, dizia-nos Santo Agostinho. É o sentimento semelhante da população, julgo eu, que não sabe explicar porque não acredita nas explicações e nas soluções dos economistas e dos políticos, mas sabe que não acredita.
Qualquer pessoa reconhece o trabalho infindo, mas eficaz para a estrutura de uma família ou de um indivíduo, que resulta da necessidade de manter uma casa limpa e arrumada, refeições equilibradas, actos sociais de convívio, um sistema qualquer em estado funcional, um ritmo previsível para a existência, pois que entre o caos e a ordem a fronteira é uma linha para o finito, um esforço individual e do grupo para assegurar a coesão, para resistir à indiferença, à frustração, ao desânimo, à impotência.
Al Gore refere os psicólogos que estudam o fenómeno dos vínculos do indivíduo ao grupo, para referenciar como um sistema que não premeia os seus concidadãos com o respeito pela sua perspectiva e/ou participação nas questões fundamentais está a preparar-se para ter como interlocutores indivíduos muito agressivos e violentos que porão em causa o próprio sistema democrático onde os dirigentes procuram encerrar-se.
Desviamos os olhos um segundo e... também nos acontecem coisas boas. O tempo relembramo-nos que não estamos no fim da história, pelo menos da colectiva. E às vezes até sabemos como pairar sobre os acontecimentos: Ai está a acontecer uma crise durante a qual os estupores dos gestores da AIG foram de férias com o dinheiro dos contribuintes americanos? Aí o meu governo continua a insistir num tom e num modo de governo monocórdico e que soa a falso? Ai o meu admirado escritor Baptista-Bastos está a braços com uma situação pouco ética? Ai, sim? É terrível, é, mas eu se calhar vou ali e já volto. Pelo menos uma coisa há-de acontecer entretanto: lá fora o tempo passou, cá dentro, só eu sei. Depois essa coisa de inscrição nos acontecimentos... bom, na prática como é?
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José Gil na semana passada e António Lobo Antunes esta semana escrevem textos memoráveis na revista Visão.
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