domingo, outubro 05, 2008

Este país não precisa de heróis

e como não precisa, arrasa a memória daqueles que procuraram ser uma espécie de heróis, mesmo se por procuração viciada por outrem.
Uma guerra não é motivo de orgulho para ninguém, não o é para os vencidos, mas não o deve ser também para os vencedores. Sobretudo para estes. É um saber feito de cumprimento de ordens, penso eu, de sacrifício por uma ideia que muitas vezes lhes é tão estranha como a realidade contada por uma língua que não se conhece. É um sentido ultra construído do cumprimento de um dever. Mas um cumprimento de dever, assim mesmo. E isto é um feito.
Mas se uma guerra não deve orgulhar ninguém, e se os combatentes não são na era moderna senão uma espécie de heróis, pela debilidade dos princípios ou das intenções que mascaram esses princípios pelos quais são levados a combater, todos e todas os que nela combatem não devem deixar de ser honrados pelos seus concidadãos.
Os cemitérios por essas pequenas cidades e vilas fora tinham os seus talhões de combatentes resguardados em eira de terreno assinalado com símbolos que os irmanava a todos uma vez mais, formando uma companhia de homens da terra que tinham representado Portugal em conflitos que este achara por bem resolver com armas, e que ao morrerem, em combate, ou mais tarde já civis na vida do dia-a-dia, ali encontravam um espaço de reserva e de excepção, um sinal de memória e de apreço. Um sinal vão, e ainda que fútil, eu sei, se tivermos em conta final os séculos, mas um sinal ainda assim.
Mas agora que se embandeirou o espírito do lucro e da posse como forma suprema de representar e assim se entender a forma legítima do governo da coisa pública, esses espaços vão sendo abolidos em nome da democratização do espaço.
O que se perde socialmente com essa realidade não se ganha em consciência pacifista, ou em valores democráticos por se escolher subalternizar os defensores de práticas bélicas na resolução de conflitos, como forma de destacar outras formas da civilidade responder às agressões. Era bom era.
Não, é tudo feito em nome dos interesses imediatos da desocupação dos terrenos, da contenção dos custos de manutenção, da ligeireza no passar um pano sobre as tradições e os costumes que provaram ser úteis para uma identificação das pessoas com o seu passado, com os seus conterrâneos, e com uma sabedoria acrescida para enfrentarem os seus projectos de futuro. Senão somos só virados para o presente. Sacos de plástico vazios a esvoaçar no vento das circunstâncias familiares, sociais, económicas e políticas do presente.
Enfunamos, esvaziamos, serpenteamos, enrolamo-nos, subimos, pairamos, retesamos, caímos e encolhemos. E quando acabar o vento? Onde ficamos nós? Ao lado de quem? E com quem pelo nosso lado?

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