quinta-feira, fevereiro 26, 2009

cidadania?

Ontem desafiaram-me a responder a algo que resumidamente enuncio aqui:
1. Existe espaço público em Portugal?
2.Existe jornalismo cívico?
3. Que exemplos de participação cívica têm influência na vida social?

Hoje respondi à flor do pensamento:

1.Existe expressão pública de grupos de interesses mais ou menos estruturados (associações, sindicatos, grupos de cidadãos com intuitos profissioanis, recriativos, culturais, entre outros, fundações, empresas, ordens profissionais, em particular, e assembleias mais ou menos formais em geral, etc.).
A esfera pública é uma concepção volátil: tão depressa é consensual que se identifica o seu uso com o aparecimento dos media, como se declara ser ela um encontro de vontades que se universaliza num só movimento ou voz (manifestações, comícios, reuniões gerais com moção aprovada, etc).
O espaço público parece-me uma metáfora para um desejo social e político de uma realidade que nunca aconteceu na história. E porquê? Porque deliberar dá um trabalho imenso e, no nosso tempo, implica uma multiplicidade de escolhas que só os mais especializados ou mais infatigáveis cidadãos de entre nós está preparado para suportar.
2. Existe uma ideia de jornalismo cívico; mas como os valores parecem ferro fundido na nossa actual sociedade, o que hoje se entende por cívico amanhã pode mudar, em nome de uma relativo superior interesse da liberdade de definição, ou algo que o valha.
A indicar um jornalismo cívico eu diria o que se pratica com os espaços utilizados para recriminação pública (cidadão jornalista-polícia e advogado), como é por exemplo o programa "Nós por cá" da SIC. Não funcionando a justiça, o cidadão identifica o jornalismo como instituição que ajuda não só a promover como a defender os seus direitos.
Os blogues, muitos deles, têm o mesmo papel: servirem como espaço de publicitação/discussão de certos temas que agrupam diferentes pessoas sob o mesmo interesse e com conveniência em tornar públicas as suas posições.
3.Para quem ouve os espaços de intervenção do cidadão, com discursos pejados de lugares comuns (os fóruns na rádio e na TV), até parece que não houve evolução efectiva na nossa participação como cidadãos, mas de facto como comentadores em esfera pública os portugueses fizeram uma evolução considerável desde há trinta e cinco anos, pois são mais articulados e desembaraçados ao falarem em público, e conseguem manifestar-se sobre um número considerável de temas que não só sobre futebol.
Não fizeram evolução idêntica foi em produção de ideias/acções decorrente do associativismo cívico, ou em movimentos colectivos de reforma social dos costumes. Isto dá de facto muito trabalho e exige dedicação e empenho que o comum dos trabalhadores não consegue, ou quer, disponibilizar. Estes espaços foram sempre dirigidos pelo Estado através de leis coercivas (veja-se as leis do trânsito, dos fumadores, da ASAE, etc., tudo medidas a endurecerem os correctivos disciplinares sobre um povo que não busca para si a harmonia ou auto-controlo).
Demasiado Estado sobre o comportamento civil porque, penso eu, as esferas sociais de socialização como a família, o grupo de pares ou a escola o deixaram de fazer de forma contínua e integrada. A autoridade do Estado contra a autoridade do cidadão consciente dos seus direitos e dos seus deveres.

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