sexta-feira, julho 10, 2009

Situações que me deixam apopléctica

1. Um colega: "Sabes que no outro dia, numa grande cidade de Portugal, num jantar de homenagem à eleição de um director de Escola, já estavam presentes líderes da política local e líderes de clubes, a dar-lhe palmadinhas na escola?"
Não me admira. As escolas tornaram-se, a par dos clubes de futebol e das empresas camarárias, montras apeticidas e possíveis para políticos e seus apaniguados se mostrarem. Politizar ainda mais o ensino, para quebrar, pensam eles, o poder dos professores nas escolas. Que bela decisão deste governo PS!
2. Um velho senhor sindicalista:" A Isabel é sindicalizada? Não é?! Então, procure tornar-se rapidamente. Escolha um sindicato qualquer e deixe-se desses argumentos batidos de que eles não passam de um instrumento dos partidos políticos. Ouça, um sindicato existe para garantir os direitos dos trabalhadores, e pode ter a certeza que todos os trabalhadores portugueses, e a Isabel, no seu mundo, não vai ser uma excepção, vão necessitar de defesas fortes. No seu caso, atente que o caos ainda só agora está chegar às escolas, pois quando começar a fazer-se sentir o poder das arbitrariedades das chefias entregues à satisfação dos seus interesses políticos e pessoais é que se compreenderá a necessidade de um bom conhecimento da lei e de uma boa defesa pública. E não me venha dizer que já está habituada às politiquices das universidades. Garanto-lhe que nada a prepara para o que irá acontecer com estas gestões unipessoais à solta."
3. Um colega: "A minha escola acabou de fazer obras onerosas para instalarem cabelagens para a colocação de quadros electrónicos e de data shows (que nunca chegámos de facto a ver), e já sabemos que ela vai para obras de remodelação total no próximo ano. Imagina o desperdício."
4. Um representante de uma instituição ministerial: "O concurso para directores de escola demonstrou o que de pior as pessoas tinham em si. Temos testemunhos que atropelam todos os princípios éticos. Tenho a certeza que o legislador nunca tal previu."
..
Pergunto-me: não previu, como? Então o legislador faz uma colagem dos processos finlandenses para a realidade portuguesa, sem tempo para analisar resultados e avaliar o processo de forma faseada, empurrou a legislação com a barriga para as escolas, ameaçou-as no caso de não cumprimento do propósito final (porque quanto à legitimidade do processo em si está-se nas tintas), estabeleceu um poder imenso das instituições exteriores à escola sobre a gestão da mesma, ao ponto de começar já a tê-los por interlocutores quando quer dirigir-se aos dirigentes da escola, permitindo negociatas políticas de toda o género entre o ministérios, as freguesias, as câmaras, e depois ainda diz que não previu? A única coisa que não previu foi manter a consideração pública pela função de professor, tal como ela existe institucionalmente na Finlândia. Isso é que não previu.
Quem defende o papel do Director/a da escola, para além de estar agarrado a um vocábulo serôdio da gestão, ignora que: 1. Na sua grande maioria serão as mesmas pessoas que estavam a assegurar as gestões das escolas desde sempre, e antes eleitas democraticamente por toda a comunidade escolar, só que agora vão ganhar muito mais para fazer o mesmo (ora, fecham-se escolas no interior, não se colocam professores a tempo e a horas para se pouparem uns meses de vencimento, já que os outros asseguram essas aulas, à conta de fórmula de aulas de substituição, mas existe dinheiro para para pagar muito mais às futuras equipas, para fazerem... exactamente a mesma função e serviço!); 2. A responsabilidade de uma gestão não nasce de ser esta unipessoal. É um argumento falso, porque bastava implicar cada presidente com essa responsabilidade legal; 3. O processo de selecção permite todas as manipulações, porque se restringe ao número de votos de um conselho de vinte e dois indivíduos que, na sua grande maioria, nem sequer lêem, discutem ou se interessam pelos projectos dos candidatos que concorrem à sua Escola, pelos documentos que são produzidos, e mantêm tudo ao nível da negociata eleitoral e das relações de poder pessoal, quando não da ignorância e no clássico "fazer-se de morto", que garanta uma paz podre, sem se preocuparem com a qualidade das propostas apresentadas.
À excepção do sempre invocado, e de facto milenar, respeito de muitos alunos pelos seus professores, que eu tenho visto em tantas celebrações públicas pelas escolas deste país, tudo o mais no ensino, e na gestão do ensino público, é uma farsa.

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