sexta-feira, julho 03, 2009

Todos os políticos...

deviam pensar muito bem na seguinte questão, antes até de começarem a pensar em questões económicas: a do habitus. O "habitus" é uma "espécie de programa" historicamente montado para orientar cada indivíduo a comportar-se em grupo e na sociedade de uma maneira ao invés de outra. O seu teórico recente é Pierre Bordieu.
O "habitus" orienta as próprias acções e decisões em economia.


É no tipo de habitus que cada um de nós como indivíduo do mundo em particular, e de português em geral (parece uma contradição mas não me parece que o seja ), se pode definir como pessoa, e mais, se pode ver a agir no futuro. Não é sempre bela a imagem que esse "habitus" nos dá de nós, e em alguns casos pode ser mesmo anti narcísica, mas quanto melhor conhecermos a lei social que temos incorporada, mais lúcidos seremos em relação ao nosso comportamento privado , e mais capazes estaremos de tomar decisões públicas que sejam conscientes.
Cada vez tenho mais a certeza que o político que se será, deriva do "habitus" que o criou como indivíduo. A questão do carácter vem daqui. A marca de água da democracia precisa de contextos onde o habitus democrático esteja enraizado: veja-se os estudos biográficos dos maiores defensores das democracias representativas, e responsabilizantes dessa representação. O que indicam? Aprendizagem do ser (-se) democrático em contexto familiar ou institucional (com a escola à cabeça).
Ex. Paulo Rangel tem um bela mente discursiva e assente em princípios universais de direito e de justiça, mas teve ainda assim um deslize que representou o seu "habitus" comunicacional de forma redutora (flagrantemente um sinal de educação familiar e social).
Reparei que na entrevista que deu ao jornal Sol no dia 12 de Junho (a informação a que me refiro não está disponível on-line), cometeu um erro comunicacional que, do meu ponto de vista, obscurece a sua imagem de grande e novo democrata português. Perguntado sobre a influência da mãe na sua vida, respondeu que não falava da vida privada. Ora, para quê aquela negativa gritante? Não seria melhor ter respondido qualquer coisa geral, tipo senso comum, como "uma mãe tem sempre um papel importante na vida de um filho e a minha não é excepção?" Ou qualquer coisa vaga no mesmo sentido? Ou então, ainda, porque não ser frontal e dizer mesmo qual o lugar da mãe/pai ou periquito na sua formação. Há algum mal?
Mas não, veio com aquela coisa que vem muito ao de cima nos portugueses dados à reserva, e que lembra um movimento escuso de esconder o pão na gaveta. Para quem conhece o mundo comunicacional anglo-saxónico, tal gesto indica pouca frontalidade no modo de falar da vida comum, mesmo que não dissesse nada da sua vida íntima (como tem o direito).
Outros exemplos: a ministra da educação a gritar, rabugenta, aos jornalistas, "Saiam-me da frente." Ou um dos Secretários de Estado a comparar os professores a ratos. Ou agora, na ordem do dia, o ministro Pinho a fazer "corninhos" na Assembleia. Enfim, não se chega a estes gestos por acaso (josé Gil disse-o muito bem), e todos eles retratam os "habitus" das personagens.
Conclusão: diz-me o teu "habitus" e eu dir-te-ei quem és.
Esta lei não é socialmente justa. Eu, e o meu habitus, que o digamos.
Nós, portugueses, que o comprovemos nos nossos líderes políticos. Ele há cada um!

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