"Admitiu, no entanto, que os professores terão de ser avaliados, desde que exista 'disciplina nas aulas, o professor tiver autoridade, programas feitos por gente inteligente e manuais capazes',"
Medina Carreira fez falta no último programa "Plano inclinado", para clarificar alguns dos discursos de culpabilização do ensino secundário e de vitimazação do ensino superior. Nuno Crato ainda tentou responder a Mário Crespo que os interpelava sobre as notícias que davam conta da ineficiência da Universidade portuguesa, contra Fátima Bonifácio que argumentou sempre que a responsabilidade da má preparação dos alunos se devia aos professores do secundário, e que por isso os professores do superior nada podiam fazer, recusando-se a admitir que a pedagogia fosse uma vertente a salvaguardar no ensino superior. João Duque, normalmente tão bem fundamentado nas suas razões, entrou em despite intelectual e sublinhou que não se importava nada de ter aulas de Física, por exemplo, com um prémio Nobel que não fosse pedagógico; que nunca se virasse para os seus alunos enquanto escrevesse no quadro durante as aulas, por exemplo.
Eu também não tenho nada contra aulas dadas por prémios Nobel anti-pedagógicos na universidade portuguesa, mas, que eu saiba, o único prémio Nobel português não dá aulas, nem consta que algum prémio Nobel queira vir exercer esse mister para Portugal, pelo menos não antes de ser atacado por uma doença neurológica qualquer. Assim, ou os professores do ensino superior se julgam prémios Nobel (numa alucinação da sua importância) e João Duque investe numa ideia errada (porque julgar ser não é ser, como qualquer aluno do primeiro ano de Filosofia ou Física podem explicar tão bem), ou não se julgam prémios Nobel de facto, têm por isso consciência dos seus limites intelectuais e científicos, mas continuam a comportar-se como se o fossem ou pudessem, por direito natural do cargo, vir a ser (o que é fazer impor a pose sobre a competência não provada).
Insistia ainda Mário Crespo em saber o que se podia fazer para melhorar o ensino superior, e aqueles três professores universitários a insistirem sempre na avaliação dos professores do secundário (nunca se referindo às debilidades das avaliações endogâmicas do superior), apontando deficiências no processo de selecção dos professores do básico e do secundário que , imagine-se, são escolhidos em concursos públicos nacionais segundo as classificações obtidas em licenciatura e estágio integrado, e não, porque será?, nas suas próprias classificações e nos convites que são feitos pelos seus mestres, como aconteceu aos professores que estão hoje no superior.
Eu agradeço profundamente a todos os que me convidaram e acreditaram em mim.
Assim, o critério das classificações mais altas serve para seleccionar professores do ensino superior, mas não serve para seleccionar os dos outros níveis. Mais, sendo que os professores saem de universidades e de escolas superiores avaliados por professores que podem então vir a ser os nossos professores do Nobel, esses mesmos professores não atestam a qualidade das suas classificações! Eu percebo, é a luta dos vários institutos superiores de ensino entre si, que leva a estes desvarios, mas a responsabilidade da multiplicação dessas escolas é responsabilidade dos docentes de outros níveis?
Este menosprezo que todos temos em Portugal uns pelos outros, umas profissões contra outras profissões, um estatuto contra o de qualquer outro, leva à ignorância sobre o estado de coisas e a este ressentimento social generalizado de uns em relação aos outros sobre os quais fazemos umas parcas ideias gerais, menosprezando a sua palavra e precavendo sempre, em auto-defesa, o nosso discurso como o mais verdadeiro (ou a dos poucos que fazem parte dos nosso círculo). Se juntarmos a isso uma pose de "ponto final parágrafo", tão em voga em certa elite política e intelectual, temos uma discrição das corporações portuguesas: surdas e cegas perante as outras, mas nada mudas.
Sempre pensei que o governo de maioria absoluta de Sócrates estivesse a ser o modelo de um tipo de análise e intervenção social ancoradas numa ideia de presciência governativa, mas agora vou descobrindo que ele esteve sempre a reagir àquilo que uma certa opinião publicada (quem sabe até a opinião pública) lhe exigia. Portanto, que éramos nós que lhe estávamos a dar estrutura para a atitude autoritária com que nos tratava, correspondendo ao desejado. Logo, a sua equipa de marketing político era excepcional, porque ganhou de forma absoluta não pela imposição da atitude, mas pelo saber que atitude era a que os portugueses estavam a pedir (e continua a ler bem o comportamento popular, daí as oscilações negociais e ideológicas deste governo). Mas a cultura política do povo português (e das elites, Deus meu!) é aflitiva. Essa sim é que é preocupante, porque os governos... esses mudam.
Ora, há que olhar para a nossa casa primeiro, e não fugir às críticas. Se as nossas universidades estão a ser classificadas como estabelecimentos pouco recomendáveis, então há que enfrentar essa crítica e perceber onde se está a falhar: será na leitura dos dados ou de facto há no sistema falhas?
Este menosprezo que todos temos em Portugal uns pelos outros, umas profissões contra outras profissões, um estatuto contra o de qualquer outro, leva à ignorância sobre o estado de coisas e a este ressentimento social generalizado de uns em relação aos outros sobre os quais fazemos umas parcas ideias gerais, menosprezando a sua palavra e precavendo sempre, em auto-defesa, o nosso discurso como o mais verdadeiro (ou a dos poucos que fazem parte dos nosso círculo). Se juntarmos a isso uma pose de "ponto final parágrafo", tão em voga em certa elite política e intelectual, temos uma discrição das corporações portuguesas: surdas e cegas perante as outras, mas nada mudas.
Sempre pensei que o governo de maioria absoluta de Sócrates estivesse a ser o modelo de um tipo de análise e intervenção social ancoradas numa ideia de presciência governativa, mas agora vou descobrindo que ele esteve sempre a reagir àquilo que uma certa opinião publicada (quem sabe até a opinião pública) lhe exigia. Portanto, que éramos nós que lhe estávamos a dar estrutura para a atitude autoritária com que nos tratava, correspondendo ao desejado. Logo, a sua equipa de marketing político era excepcional, porque ganhou de forma absoluta não pela imposição da atitude, mas pelo saber que atitude era a que os portugueses estavam a pedir (e continua a ler bem o comportamento popular, daí as oscilações negociais e ideológicas deste governo). Mas a cultura política do povo português (e das elites, Deus meu!) é aflitiva. Essa sim é que é preocupante, porque os governos... esses mudam.
Ora, há que olhar para a nossa casa primeiro, e não fugir às críticas. Se as nossas universidades estão a ser classificadas como estabelecimentos pouco recomendáveis, então há que enfrentar essa crítica e perceber onde se está a falhar: será na leitura dos dados ou de facto há no sistema falhas?
Fugir à pergunta evocando outros bodes que hã-de expiar as culpas é que não abona nada a favor da racionalidade.
Professora universitária ocasional que eu sou, do secundário a maior parte do tempo e investigadora nos intervalos.
Professora universitária ocasional que eu sou, do secundário a maior parte do tempo e investigadora nos intervalos.
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