quinta-feira, abril 20, 2006

A circulação de conhecimento

Nos países anglo-saxónicos, devido à grande tradição na divulgação da informação quer em termos editoriais quer académicos, e, com certeza, por terem um grande mercado pelo qual fazer circular os livros, publica-se um género de obras, os “reader”, que nos mais diversos temas apresentam, de forma sistemática e simples, uma selecção dos mais determinantes textos que ao longo da história enquadram o assunto. Há selecções para todos os gostos, e mesmo dentro do mesmo tema podemos encontrar vários “reader”, mas eu destaco um livro que comprei recentemente, embora o livro seja de 1997, e que julgo ser de interesse geral, no que ao tema Direitos Humanos diz respeito: The Human Rights Reader: Major Political Essays, Speeches, and Documents From the Bible to the Present. O livro foi editado por Micheline R. Ishay, na Routledge.
Outro livro da mesma autora, editado mais recentemente, em 2003, volta a dar conta dessa preocupação em contextualizar historicamente o tema dos direitos humanos, desta feita uma explanação de Ishay acerca dos textos que fizeram história nesta área específica. Publicado pela University California Press temos o The History of Human Rights: from ancient times to the globalization era.
Os “reader” representam a consideração do mundo académico pelo público em geral, pela forma directa e sem pedantismo com que passam a mensagem: “Se não conhecer os textos na íntegra, porque não possui essa informação ou porque não tem tempo ou vontade para procurar por si próprio, aqui lhe propomos de forma rigorosa mas acessível o acesso aos textos originais que destacamos como os mais importantes na história do problema”. Este é o mundo de conhecimento partilhado.
O livro é interessante até para permitir perspectivar um tema que, em Portugal, é tratado quase exclusivamente pelo universo dos estudos em direito, o que é uma limitação na análise e na abordagem dos problemas. É verdade que Norberto Bobbio, um magnífico autor italiano, enquanto professor de Filosofia do Direito, escreveu que mais importante do que discutir os fundamentos dos Direitos Humanos é providenciar os meios jurídicos e políticos para os fazer cumprir (A Era dos Direitos, traduzidos para português do Brasil pela editora Campus). Mas eu returco, perguntando: “Como fazer cumprir uma regra cuja legitimação é questionada?”

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