terça-feira, abril 25, 2006

Um cravo é um cravo é um cravo

Em Estados democráticos procura-se combater todas as pequenas tiranias. Há procedimentos gerais, regras a seguir, deveres a cumprir, mas não se quer tiranias. Daí que o cravo, o mesmo cravo que na canção da minha infância um desconsolado alguém atirava ao poço fechado para logo ele cair aberto, não se imponha qual tirano na lapela a florir.
Dir-me-ão que quem não ostenta o símbolo não quer fazer a reunião com os que o ostentam, que fora do uso do símbolo ficam os que nele se não reconhecem. E porque não? Não significa o cravo precisamente a liberdade de (lhe) dizer não?
O que eu quero é que os pensamentos e os actos dos nossos políticos celebrem os valores da democracia que principiou então. Queria que em Portugal não houvesse, trinta e dois anos depois da queda do regime autoritário, proibições de celebração oficial, de negação da expressão de um reconhecimento público no espaço público, de uma data significativa para a história deste povo e desta República. Isso é que é procurar excluir, neste caso os madeirenses, de uma acção que os una aos seus concidadãos, procurando deserdá-los de uma memória comum.

Valha-nos hoje também a decisão do Conselho de Segurança em aplicar sanções a meia dúzia de energúmenos que em Darfur resolveram aplacar a sua ira sobre os corpos de milhares de pessoas. É pouco, mas menos era bem pior.
Valha-nos o filme "Capitães de Abril" de Maria de Medeiros e o comovente filme de Nani Moretti, "Abril".
Valha-nos a paciência das oposições que no mundo muçulmano se devem estar a sentir como se deitadas sobre uma cama de estilhaços de vidro, e a dos ocidentais que não devem esquecê-los, sempre que algum aprendiz do terror resolve falar em seu nome.
Um vinte e cinco de abril para esses cidadãos reféns do terror é o que lhes desejo. A nós ocidentais, e portugueses em particular, cabe-nos continuar a defender os valores que, desta feita em Abril, se materializaram.

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