Para o passeante incauto, citadino ou não, que tem a ventura de passar perto de um laranjal, depois das seis da tarde destes dias, e se no seu sobressalto olfactivo se desequilibra e toca na erva-cidreira que bordeja o seu caminho, nada menos fará sentido do que afirmar-lhe que o "ar da cidade torna as pessoas mais livres”. E no entanto, durante séculos assim foi. Nem sequer estou a pensar no conceito de participação do cidadão na vida pública que regia os destinos comuns das Cidades Estado gregas, estou mesmo a pensar na Idade Média e no quanto as corporações profissionais das cidades representavam uma actividade que libertava os indivíduos e as suas famílias das arbitrariedades dos mandos dos senhores da terra, libertando também os pequenos proprietários do fardo do tempo e do peso da enxada, que pouco mais deixava que a hipótese de ir sobrevivendo.
Ainda há umas duas décadas atrás, uma anciã, viúva, proprietária das que mais “teres” possuía lá numa daquelas pequenas aldeias da Beira, decidiu emigrar para os Estados Unidos com a filha. De passagem, e feita a visita de cortesia, o silêncio, embora não pesaroso, caiu sobre a minha família. A filha da senhora trabalhava numa fábrica de conservas de peixe, e aos fins-de-semana fazia limpezas em casa de famílias. A mãe ficava num apartamento minúsculo a aguardar a sua chegada. Sentada à janela espreitava quem passava na rua anódina. Perguntámos-lhe, sem a querer magoar, se não tinha saudades da sua grande casa rural, dos seus campos. Respondia que não, nem pensar. A filha, igualmente feliz, respondia que escravidão era a que a tinha sujeitado ao campo na pequena aldeia em Portugal, que ali podia ver o seu dinheiro crescer e ver pessoas a circular.
No dia 1 de Maio comemora-se a acção que visava unir todos os trabalhadores do mundo à volta de um objectivo comum, a saber, o de se manifestarem a favor de uma redução do horário de trabalho diário para as 8 horas, isto em 1890. Esta acção comum foi coordenada por uma das primeiras organizações internacionais (a Segunda Internacional, 1889/1914, que sucedera à Primeira Internacional de 1864/1876).
Não vou agora deter-me na descrição das ideologias que dominavam então estas organizações, sendo que estas eram predominantemente de cariz socialista, registo apenas o esforço teórico e prático de universalizar uma acção social, de a tornar comum a um conjunto de cidadãos de forma supra-nacional, de propor, inclusive, directivas para regular as políticas internas de cada Estado, com diferentes graus nas consequências a nível de política internacional, que não impediram, porém, o deflagrar da primeira Guerra mundial.
Nessa tentativa de sobrepor o poder de uma organização internacional ao poder de cada Estado, vejo eu o esboço para uma forma de poder como eu entendo que é hoje o das Nações Unidas.
No dia 1 de Maio registo os esforços dos liberais do século XVIII e dos socialistas democráticos e marxistas que no século XIX se esforçaram por conciliar esforços na tentativa de abolir o trabalho infantil, de regulamentar o trabalho dos adultos, de promover a educação entre os trabalhadores para que também eles pudessem tornar-se eleitores, de promover a igualdade entre os sexos, no que a uma participação na vida política dizia respeito. Estes direitos sociais e políticos que são os que queremos indiscutivelmente dar como adquiridos.
Ainda há umas duas décadas atrás, uma anciã, viúva, proprietária das que mais “teres” possuía lá numa daquelas pequenas aldeias da Beira, decidiu emigrar para os Estados Unidos com a filha. De passagem, e feita a visita de cortesia, o silêncio, embora não pesaroso, caiu sobre a minha família. A filha da senhora trabalhava numa fábrica de conservas de peixe, e aos fins-de-semana fazia limpezas em casa de famílias. A mãe ficava num apartamento minúsculo a aguardar a sua chegada. Sentada à janela espreitava quem passava na rua anódina. Perguntámos-lhe, sem a querer magoar, se não tinha saudades da sua grande casa rural, dos seus campos. Respondia que não, nem pensar. A filha, igualmente feliz, respondia que escravidão era a que a tinha sujeitado ao campo na pequena aldeia em Portugal, que ali podia ver o seu dinheiro crescer e ver pessoas a circular.
No dia 1 de Maio comemora-se a acção que visava unir todos os trabalhadores do mundo à volta de um objectivo comum, a saber, o de se manifestarem a favor de uma redução do horário de trabalho diário para as 8 horas, isto em 1890. Esta acção comum foi coordenada por uma das primeiras organizações internacionais (a Segunda Internacional, 1889/1914, que sucedera à Primeira Internacional de 1864/1876).
Não vou agora deter-me na descrição das ideologias que dominavam então estas organizações, sendo que estas eram predominantemente de cariz socialista, registo apenas o esforço teórico e prático de universalizar uma acção social, de a tornar comum a um conjunto de cidadãos de forma supra-nacional, de propor, inclusive, directivas para regular as políticas internas de cada Estado, com diferentes graus nas consequências a nível de política internacional, que não impediram, porém, o deflagrar da primeira Guerra mundial.
Nessa tentativa de sobrepor o poder de uma organização internacional ao poder de cada Estado, vejo eu o esboço para uma forma de poder como eu entendo que é hoje o das Nações Unidas.
No dia 1 de Maio registo os esforços dos liberais do século XVIII e dos socialistas democráticos e marxistas que no século XIX se esforçaram por conciliar esforços na tentativa de abolir o trabalho infantil, de regulamentar o trabalho dos adultos, de promover a educação entre os trabalhadores para que também eles pudessem tornar-se eleitores, de promover a igualdade entre os sexos, no que a uma participação na vida política dizia respeito. Estes direitos sociais e políticos que são os que queremos indiscutivelmente dar como adquiridos.
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