terça-feira, maio 23, 2006

Comunicação política no Prós e Contras

Prós:
Possibilidade de se discutir o fenómeno da comunicação política em Portugal, sendo que o tema foi olimpicamente ignorado nas academias portuguesas até há poucos anos.

Contras:
Discussão que não acrescentou um argumento sequer à tese de saber se existem, e como se apresentam, os mecanismos de distorção da mensagem política, no domínio da manipulação indirecta da comunicação, por parte de quem quer que seja.

Não podemos ignorar também que a teoria que sustentou a discussão de ontem assenta no pressuposto de que existem efeitos perversos na comunicação, no que a um acesso e tratamento desigual dos recursos da comunicação aos políticos diz respeito, o que motivaria uma distribuição, igualmente desigual, do poder político. Ora esta teoria baseia-se em pesquisas socio-linguisticas que não cobrem na totalidade o campo da investigação nesta área, já que há igualmente teorias, como as da Escola estruturalista-funcionalista , que avançam com a ideia de que a importância da comunicação em política não é suficiente para dar a compreender, de forma determinante, os aspectos políticos da representação, da formação da opinião pública e da escolha.

Se aceitarmos porém o princípio de que a comunicação política é o lugar de confronto dos discursos de todos os que procuram conquistar e dominar o poder político, será fácil perceber que os conflitos surgirão sempre que as pessoas sentirem que não são representadas ou que o são de forma distorcida, porque crêem que essa sub representação as impedirá de aceder a uma disputa pelo poder em condições equiparadas com todos os outros candidatos.

As sensações de se estar condicionado a poderes de influência pouco democráticos têm que ser justificadas, ou com raciocínios válidos, ou com a apresentação de provas concretas da existência de um tratamento desigual por parte dos media enquanto meios de comunicação, pois só então poderão ser tema de reflexão. Enquanto meras percepções de um indivíduo, sem uma análise exaustiva dos recursos utilizados para manipular as mensagem, e uma compreensão do processo comunicacional, estas de pouco valem para a discussão acerca da efectiva capacidade dos media condicionarem a agenda política.

Hoje tem-se vindo a provar que os media controlam efectivamente os recursos humanos na política, mas através da influência da opinião pública sobre os próprios media (porque perceberam que os votantes, como nos disse Simmel, têm mais facilidade em avaliar pessoas e relações, do que os seus programas ou realizações), daí que os media se centrem sobretudo num entendimento da política como um jogo de competição, mais proximo da noção que o público tem da discussão em política, hiperbolizando a imagem do candidato, os conflitos, os confrontos.

Mas os políticos controlam, também efectivamente, os recursos normativos dos media. Porque são estes que legislam e regulamentam a actividade dos media em todas as suas fases, do licenciamento à emissão. É por isso que o deputado Manuel Maria Carrilho ontem não me convenceu no seu papel de cidadão que reivindica um tratamento justo por parte dos media, mas convenceu-me como um actor político que quer continuar a discutir na praça pública o verdadeiro grau do seu poder de influência em face do dos media. Como projecto político não me parece muito promissor, como discussão teórica parece-me de uma pobreza conceptual e argumentatativa confrangedora.

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