Hoje, no "Courrier Internacional", o filósofo José Gil tem um artigo sobre a posição que o Irão está a reclamar para o mundo, expondo as suas dúvidas sobre o tipo de resposta que o mundo lhe está a dar. O filósofo termina por escrever o seguinte: "Tudo isto se passa por cima das nossas cabeças, nós que recusamos o duplo impasse desta lógica belecista. Nós que não apoiamos Bush nem Ahmadinejad, seremos esmagados, assassinados, como somos já no Iraque e no Darfur, e ainda acabaremos por crer que o menor dos males é o Bem, como o proclamam os arautos delirantes desta guerra por vir".
Ora o que o filósofo sabe é que não temos absolutamente que apoiar Bush na sua senda belecista, nem Ahmadinejad na sua senda belecista, nem sermos destruídos e mortos. Há uma terceira via para a comunidade internacional, a dos princípios explícitos nos tratados internacionais, que devem pesar mais do que o interesse próprio ou nacional de cada representante de cada Estado.
É verdade que no Iraque e no Darfur, como diz J. Gil, a morte indescriminada de civis parece provar que mesmo sem apoiarmos facções beligerantes, sem tomarmos posições que defendam a supremacia das nossas ideias pela violência, continuamos a morrer e a ficar com deficiências físicas e psicológicas graves. Mas não é um facto absoluto que isto sempre aconteça: nem a história o prova. Acontece, é verdade, que se abata por vezes sobre os povos, uma força militar, policial ou ideológica destrutiva, mas esta é quase sempre passível de se prever e, em muitos casos, passível de se evitar. Assim a comunidade internacional o queira.
Veja-se o caso de Darfur, a merecer uma atenção especial no Courrier desta semana. Já se reparou a multiplicidade de interesses mal explicados que se cruzam para sustentar a atitude de passividade da comunidade internacional? Não é que esta não pudesse ter evitado aquele genocídio, não o quis foi fazer em tempo útil. E porquê? Há causas e explicações, não estamos propriamente no domínio do inexplicável ou do indizível. São essas razões que têm que ser incessantemente questionadas.
Não há uma inevitabilidade na violência humana, em nenhuma escala, como há na força de um cataclismo natural. Como dizia o procurador do Tribunal Internacional Penal, Luís Moreno-Ocampo, e que se pode ler nesta mesma edição do Courrier: "Os genocídios são planeados, não são crimes passionais. Essas pessoas raciocinam em termos de custos".
Há que continuar a defender que nem apoiamos Bush, nem Ahmadinejad e queremos a defesa da vida, pressionando os nossos líderes para intervir nos fóruns internacionais a favor da ideia de que é combatendo com racionalidade a racionalidade dos terroristas, que se poderá minar as suas bases de apoio logístico, económico e ideológico. Eles não são os senhores da destruição, e nós os escravos a ser destruidos. Há que descobrir como obrigá-los a respeitar as regras internacionais para a manutenção da paz.
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