quinta-feira, agosto 03, 2006

À espera

Do alto da minha capacidade para ler um parágrafo ou dois de um qualquer jornal do dia quando estou na praia, olhei de relance para todas aquelas pessoas estiradas ao sol a lerem o seu livro, com um pensamento trocista: “Está bem, está! A lerem livros na praia…romancezinhos de cordel é o que deve ser! Olha só para eles todos entretidos com o “Simplesmente, Maria” lá da terra.
Passa uma família à minha frente: três crianças, a falarem um alegre alemão entre si, um pai carregado com as parafernais coisas das famílias, e uma mãe distraída a olhar para o mar. Na mão, juntamente com uma toalha dobrada, a mãe transportava um livro. Obriguei-me a olhar para ver se conseguia ler o título. Não consegui, mas o nome do autor, ao invés, sobressaía claramente sobre a dobra da toalha: Samuel Beckett. Samuel Beckett?! Consegue e deseja ler Beckett na praia? Quando é que eu li Beckett pela última vez…deixa cá ver…pois…adiante.
Devem dar uma poção qualquer aos cidadãos ingleses, alemães e aos de demais nacionalidades dos leitores turistas das nossas praias quando estes nascem. Não pode ser genética. Será coincidência? Ou acaso essa poção chamar-se-á educação pública aliada a responsabilidade individual de cada aluno, e dos seus pais, desde o primeiro ano do ensino oficial?
O quê? Responsabilidade individual dos infantes portugueses, qual quê, não querem lá ver a professora a querer fugir à culpa de ser co-responsável pelo mau ensino praticado em Portugal? Olha a calaceira.

Qual é o défice das nossas contas em Portugal?
Como é com os exames em Portugal?
Como se julgam os crimes praticados contra crianças em Portugal?
Como se julgam os crimes praticados por crianças em Portugal?
Qual é o discurso que sobressai para regular os comportamentos sociais em Portugal?
Qual? O do exemplo? Da consistência? Da avaliação isenta e rigorosa, com consequências? O da publicação de listas? ah!

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