A biografia de Mao, que ando a ler, fez-me pensar na importância da personalidade e do carácter como factor de sobre determinação em relação à ideologia.
É-me mais fácil compreender a vontade de poder, no quadro da intenção de impor um modelo de acção ou de regular a ordem social, segundo um modelo teórico passível de ser identificado nos volumes de pensamento filosófico, ou descoberto nas suas manifestações na história.
A vida de cada um, a história das ambições, das intenções, dos desejos, dos medos e das paixões, a história das suas relações sentimentais ou profissionais, julgo-a dificilmente susceptível de ser apreendida para além do que se entende normalmente ser como um enquadramento fotográfico. È uma perspectiva. Não inteiramente falsa, não inteiramente verdadeira. Sendo que a verosimilhança entre a pessoa e a identidade biografada aumentará com o número de documentos que são evocados para justificar as conclusões sobre os biografados.
Por exemplo, no caso de Mao, apresentado por Jung Chang e Jon Halliday, percebe-se a intenção de os autores nos apresentarem provas sobre a tese que defendem para explicar a ascensão e a manutenção no poder de Mao Tsé-tung. As provas de que Mao era sobretudo um indivíduo interessado em alcançar o poder a todo o custo, independentemente da ideologia que proclamava como fundamento para a sua acção política e militar, parecem-me provas convincentes.
É pelo conjunto de argumentos aduzidos que eu penso até que ponto os indivíduos que lutam pela permanência no poder ou lutam por um lugar de poder, estão realmente convencidos de o estarem a fazer em nome de um projecto político, social ou económico que os transcende e que eles querem, ainda que com abjecções pelo caminho, ver realizado, ou se sujeitam as ideias, quaisquer que sejam, mas sobretudo as que pressentem ser influentes sobre os seus cidadãos, aos seus interesses pessoais de domínio e de exercício de mando. Se é a ideia de bem comum que os rege, ainda que se possa discutir a validade desse conceito, ou se é a ideia de interesse próprio.
Tendo sido sempre nulo o meu interesse por Mao, e tendo tido por ele a mesma antipatia que nutro por qualquer outro ditador da história, incomoda-me no entanto que Chang e Halliday estejam recorrentemente a sublinhar a perversidade do comportamento e do carácter de Mao, como se quisesse explicar o que já estava compreendido. Parece-me demasiado rebarbativo por vezes o comportamento que defino como o “ pegar no cotovelo do leitor” e, beliscando-o, afirmar: Já viu? Reparou bem na acção insidiosa do indivíduo? Vá, não fique com dúvidas.
Percebe-se que os autores querem distinguir os ideais dos comunistas e até a acção dos comunistas ao serviço do aparelho, mesmo que este fosse uma emanação da organização do violento poder soviético, das acções dos oportunistas que circunstancialmente foram de boleia na ideologia comunista, para fazerem valer as suas conveniências, satisfazendo cobiças. Mao é-nos apresentado como um egocêntrico com uma vontade desmesurada de exercer o poder de forma absoluta. E toda a sua vida é uma obra forçada a alcançar esse objectivo. Neste indivíduo, a ideologia perfilhada parece de somenos importância, excepto do que nela se pode reivindicar para impor uma forma unidimensional e violenta de ver o mundo.
É por causa desta biografia que penso na pertinência de se biografar todas as figuras das elites que estão o poder. Em tempo útil de percebermos se o que as move é uma ideia geral para a sociedade que gostariam de ver potenciada, em nome da tradição, ou da inovação, enfim, ou é apenas a satisfação da exibição do seu poder pessoal.
Faz diferença, apesar de tudo, sabermos se Bush ou Bin Laden acreditam realmente nas teses que enunciam, se os enquadramentos ideológicos que reclamam são fundamentais para a criação das suas identidades públicas, ou se essas teses nas actuais circunstâncias históricas, servem para os catapultar para os lugares de exibição de poder que sempre ambicionaram de forma pouco escrutinada. O mesmo para todos os outros líderes mundiais, sobretudo os que estão envolvidos em conflitos.
Os jornalistas políticos saberão disso, porque é a partir das suas visões que se poderá dar ao público um vislumbre da “massa” com que os seus líderes são feitos. Necessariamente parcelar, porém. Biografias apresentadas em modo psicadélico, pouco adaptada ao conhecimento, mais à informação.
É-me mais fácil compreender a vontade de poder, no quadro da intenção de impor um modelo de acção ou de regular a ordem social, segundo um modelo teórico passível de ser identificado nos volumes de pensamento filosófico, ou descoberto nas suas manifestações na história.
A vida de cada um, a história das ambições, das intenções, dos desejos, dos medos e das paixões, a história das suas relações sentimentais ou profissionais, julgo-a dificilmente susceptível de ser apreendida para além do que se entende normalmente ser como um enquadramento fotográfico. È uma perspectiva. Não inteiramente falsa, não inteiramente verdadeira. Sendo que a verosimilhança entre a pessoa e a identidade biografada aumentará com o número de documentos que são evocados para justificar as conclusões sobre os biografados.
Por exemplo, no caso de Mao, apresentado por Jung Chang e Jon Halliday, percebe-se a intenção de os autores nos apresentarem provas sobre a tese que defendem para explicar a ascensão e a manutenção no poder de Mao Tsé-tung. As provas de que Mao era sobretudo um indivíduo interessado em alcançar o poder a todo o custo, independentemente da ideologia que proclamava como fundamento para a sua acção política e militar, parecem-me provas convincentes.
É pelo conjunto de argumentos aduzidos que eu penso até que ponto os indivíduos que lutam pela permanência no poder ou lutam por um lugar de poder, estão realmente convencidos de o estarem a fazer em nome de um projecto político, social ou económico que os transcende e que eles querem, ainda que com abjecções pelo caminho, ver realizado, ou se sujeitam as ideias, quaisquer que sejam, mas sobretudo as que pressentem ser influentes sobre os seus cidadãos, aos seus interesses pessoais de domínio e de exercício de mando. Se é a ideia de bem comum que os rege, ainda que se possa discutir a validade desse conceito, ou se é a ideia de interesse próprio.
Tendo sido sempre nulo o meu interesse por Mao, e tendo tido por ele a mesma antipatia que nutro por qualquer outro ditador da história, incomoda-me no entanto que Chang e Halliday estejam recorrentemente a sublinhar a perversidade do comportamento e do carácter de Mao, como se quisesse explicar o que já estava compreendido. Parece-me demasiado rebarbativo por vezes o comportamento que defino como o “ pegar no cotovelo do leitor” e, beliscando-o, afirmar: Já viu? Reparou bem na acção insidiosa do indivíduo? Vá, não fique com dúvidas.
Percebe-se que os autores querem distinguir os ideais dos comunistas e até a acção dos comunistas ao serviço do aparelho, mesmo que este fosse uma emanação da organização do violento poder soviético, das acções dos oportunistas que circunstancialmente foram de boleia na ideologia comunista, para fazerem valer as suas conveniências, satisfazendo cobiças. Mao é-nos apresentado como um egocêntrico com uma vontade desmesurada de exercer o poder de forma absoluta. E toda a sua vida é uma obra forçada a alcançar esse objectivo. Neste indivíduo, a ideologia perfilhada parece de somenos importância, excepto do que nela se pode reivindicar para impor uma forma unidimensional e violenta de ver o mundo.
É por causa desta biografia que penso na pertinência de se biografar todas as figuras das elites que estão o poder. Em tempo útil de percebermos se o que as move é uma ideia geral para a sociedade que gostariam de ver potenciada, em nome da tradição, ou da inovação, enfim, ou é apenas a satisfação da exibição do seu poder pessoal.
Faz diferença, apesar de tudo, sabermos se Bush ou Bin Laden acreditam realmente nas teses que enunciam, se os enquadramentos ideológicos que reclamam são fundamentais para a criação das suas identidades públicas, ou se essas teses nas actuais circunstâncias históricas, servem para os catapultar para os lugares de exibição de poder que sempre ambicionaram de forma pouco escrutinada. O mesmo para todos os outros líderes mundiais, sobretudo os que estão envolvidos em conflitos.
Os jornalistas políticos saberão disso, porque é a partir das suas visões que se poderá dar ao público um vislumbre da “massa” com que os seus líderes são feitos. Necessariamente parcelar, porém. Biografias apresentadas em modo psicadélico, pouco adaptada ao conhecimento, mais à informação.
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