O meu professor de ontologia, salvo o erro chamava-se António Rosas, chamava-nos a atenção para a necessidade de ponderarmos, nas especulações que iniciássemos sobre o problema do ser, no tipo e o grau de influência do estado de nutrição do indivíduo, em paralelismo com a história alimentar da espécie a que ele pertencesse, e sobre as novas causas de morte do indivíduo no nosso tempo.
Segundo julgo ter compreendido, a história da fome que marcaria os nossos genes, e o registo exponencial de mortes violentas fora do quadro das mortes assistidas, clinicamente ou não, em meio familiar, determinariam a nossa acção no presente. Isto é, o passado intuído e o futuro temido, poderiam estar a ser as causas para a manifestação do ser nas forma recorrentes de distúrbios comportamentais nas diferentes esferas da acção humana: do indivíduo consigo próprio e de si com os outros, na família, na profissão, no lazer, no exercício do poder.
Confesso que não tenho nenhuma tendência para idealizar o passado, não o faço com as estórias que construí a partir do meu, nem com as da espécie, e reajo intelectualmente à ideia que defende a existência de um estado na história em que, na sua extensiva maioria, os seres humanos não tivessem tido muita fome, não sofressem da violência mais absurda sobre os seus corpos e não se sentissem o mais desprotegidos em relação às doenças.
Essa absoluta privação no passado, e esse estado de incerteza quanto ao nosso futuro, assim bem como a deficiente socialização dos indivíduos numa sociedade com regras democráticas a serem bem interiorizadas, explicará o fenómeno de tantas pessoas em Portugal parecerem absolutamente incapazes de assumir as suas responsabilidades, e de porem os seus lugares à disposição sempre que são confrontadas com questões que se prendem com a sua incompetência para o exercício do mando?
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