quarta-feira, setembro 06, 2006

Filosofia


El Greco, pormenor do quadro Madalena de 1576-78.












Fiquei a pensar no seguinte por estes dias (2):

Como é que alguém consegue falar de religião como se soubesse em absoluto que essa é a resposta para todas as inquirições humanas, sem que lhe tremam profundamente as palavras quando são proferidas? De que modo César das Neves assume a sua competência em distinguir as manifestações do que diz não passarem de deuses terrenos da manifestção verdadeira, do que é? Onde aprendeu a adoptar este tom prosélito, esquecendo como essa questão poderá ser deveras angustiante, deveras íntima, deveras pessoal, e deveras sofrivelmente passível de ser respondida a não ser no domínio convicção que nasce de uma crença? Como é possível que se continue a arredar com desdém os esforços dos profanos que procuram os princípios racionais universais que possam ser evocados pela sociedade humana como guias de acção justa? Em nome de uma ideia de sagrado que, para ser ideia, terá que ser pelo menos uma expressão do conceito de Deus reflectida nas palavras dos seus representantes, dos que falam em seu nome? Que testemunhos têm essas pessoas para dar que não a graça pessoal da sua fé, e poderá esta ser pouco mais que murmurada, e aflitivamente vivida como uma excepção, não sendo esta uma prova de excumunhão de todos os que negam, ou de todos os que não sabem?
Não compreendo a arrogância de quem quer que seja, nem dos que evocam a autoridade indiscutível das leis humanas, nem dos que usam o dinheiro, este ou qualquer outro poder de influência para humilhar, nem o dos ignorantes e dos maus, nem dos que evocam a subordinação da criatura a uma qualquer ideia de um criador, ou de um seu profeta.
Em homens de fé, religiosa ou política, só reconheço o valor da inquietação, e o percurso dos que perguntam, mesmo que sejam pessoas de convicção, mesmo que saibam por onde querem conduzir a sua existência na terra, mesmo nos que a perspectivam tendo o transcendente como guia.

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