domingo, outubro 15, 2006

Coisas que eu ouvi 1 - Lakoff e um “think tank” para a esquerda


Georges Lakoff no lançamento de um dos seus últimos livros terá discursado sobre a necessidade dos liberais americanos concentrarem os seus recursos económicos na criação de grupos que se dediquem à análise e produção de ideias novas em política (“think tanks”) à semelhança do que é já tradição para os conservadores. Para Lakafoff a esquerda estaria a perder no campo da interpretação da realidade política (incapaz de produzir novas metáforas representativas), tanto quanto na capacidade de criar argumentos para propor novas visões políticas do mundo.

Não sabia que Lakoff era um liberal. Nem sabia que ele se preocupava com a produção de novas ideias liberais para analisar a realidade. Também não tinha a percepção tão aguda de que fossem os conservadores a potenciarem com as suas contribuições financeiras os maiores, melhores e mais efectivos grupos de estudo na área da política. Sempre julguei que isso era indiferente e que, de um ponto de vista da investigação, seria mesmo necessário ultrapassar a necessidade pessoal de identificação ideológica por parte dos que se dedicavam ao trabalho de análise política nacional e internacional.
O livro Think Tank Traditions, Policy Research and the Politics of Ideas não me tinha aliás preparado para outra visão. Sendo no entanto um livro exaustivo sobre a identificação dessas instituições no mundo.

Perguntei ao meu interlocutor se acaso Lakoff não teria interpretado a ausência de um discurso de esquerda no facto de essa esquerda ter tido Marx como o grande dínamo ideológico, sob a energia do qual dezenas de governos pareceram pôr-se em movimento, deixando exauridos todos os outros ideólogos de esquerda que não cabiam no sistema do comunista astro rei, e que não tinham tido a hipótese de se manifestar, pelo efeito do argumento de autoridade que, neste campo, lhes retirava a palavra e submetia a vontade. Mas, segundo julgo ter compreendido, a interpretação de Lakoff prendia-se mais com o tipo de opção financeira, distinta entre si, dos conservadores e liberais, sendo que os primeiros tendem a concentrar esforços na criação desses centros de investigação, e a dispersar menos o dinheiro em miríades de outras causas causas sociais.


Quem me contava este e outros episódios era o professor Tito Cardoso e Cunha. Fora meu professor no curso de mestrado em Ciências da Comunicação na Universidade Nova e agora, no jantar que reuniu a maioria dos oradores das III Jornadas de Comunicação e Política, organizadas pelo prof. João carlos Correia da Universidade da Beira Interior, eu tinha a sorte de o ter sentado à minha frente. O tom pausado, baixo e comedido do professor fá-lo um orador mais atractivo numa conversa com um grupo pequeno de interlocutores, que se calam reflectidamente para o ouvir.

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