quinta-feira, outubro 19, 2006

Coisas que eu ouvi 6. Doutor João Almeida Santos evocando as análises de Zaki Laidi

A candidatura de Ségolène Royal ao Eliseu foi pensada como fazendo parte de um fenómeno que os especialistas denominaram de efeito “bolha mediática”. Passando a ideia de que ela era o tipo de candidato que através da imagem simula a existência de uma ideia, e que tal como aparecera o fenómeno Royal também desapareceria.
A deputada socialista francesa viu-se em confronto com o discurso tradicional dos seus pares socialistas tanto quanto com os discursos dos candidatos da oposição. Isto mesmo é analisado por Zaki Laidi.
Ségolène estará a fazer um discurso político enquadrado pela sua mundivivência no seguimento do que é entendido ser a filosofia dos blogues (meio mediático que ela privilegiou no primeiro contacto com os seus eleitores), abandonando nos seus discursos os grandes conceitos da teoria política clássica, mais programática, chamando à discussão temas do mundo da vida.
A candidata à presidência francesa está a levar a uma nova vaga de inscrições no partido socialista francês mesmo tendo contra ela figuras importantes dentro do partido. Logo, há estudos a fazer relativamente ao tipo de escolhas das narrativas que as pessoas em geral parecem estar interessadas em ouvir.
Recorde-se, e isto sublinho eu, que o facto de a maioria das pessoas parecer estar a preferir essas narrativas políticas da senhora Royal, isso não as torna por si mais verdadeiras. Indica apenas que as pessoas as preferem. Diz alguma coisa acerca da acção comunicacional em política, não diz tudo acerca da realidade discursiva política.

Tive pena que Almeida Santos não falasse na questão do discurso orientado para o género, como se torna evidente quando os jornalistas perguntam à candidata: “Quem vai tomar conta da sua família?”.
Alguém ouviu alguma vez perguntar coisa semelhante a um homem que tenha filhos e se candidate?

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