Ontem ouvi o discurso do nosso Presidente da República na Antena 1. Vinha no carro, o sol a bater no vidro, meio amodorrada. O discurso era bonito, correcto. Não empolgava, mas a normalidade, nos discursos como na História, não costumam empolgar. E a data, excepto para os defensores da República para Olivença já, para os monárquicos, para os filósofos que discutem a passagem da ética republicana à ética deliberativa em democracia, ou para os realizadores de eventos que discutem a importância de uma varanda relativamente a uma praça e vice-versa, é de normalidade. Os defensores da causa Olivença têm razão, a diplomacia portuguesa à época andou mal ao não reivindicar o território. Mas não sei se em termos de direito internacional o caso não terá já prescrito, não havendo qualquer hipótese de reclamação. Quem deve ficar feliz é o director do semanário “Sol” que de quando em vez lá descobre meia dúzia de portugueses que gostariam, tanto quanto ele, de ter por dieta principal uns carapaus com molho à espanhola, e que tem ali em Olivença uma antecâmara de acesso ao imaginado paraíso. Como eu e as minhas amigas dizíamos na adolescência, sem pensarmos muito no dramatismo da expressão, “isso só sobre o meu cadáver”.
Estava tudo a correr muito bem. Não havia muito povo, mas o povo também tem que passear, limpar as casas, dormir até mais tarde. Enfim, as coisas que o povo faz quando não anda preocupado com revoluções (sorte a do Eng.º Sócrates). Havia música e, presumo, porque só ouvi, não vi, devia haver flores. Mas de repente a jornalista da Antena 1, terminado o discurso presidencial, resolveu saber a opinião dos que estavam à volta. Falou um senhor, depois a jornalista queria que uma senhora falasse e…está bem está…a jornalista explicava-nos: “Geralmente as senhoras recusam-se sempre a falar”. Eu encolhia-me conforme a repórter nos ía indicando as senhoras que se recusavam a falar, e eram muitas. E ela lá se virou para mais um senhor que, esses, parecem que têm sempre qualquer coisa para dizer.
Razão tem a professora João Silveirinha que investiga o modo como os géneros se manifestam de forma distinta na esfera pública em geral e na política em particular. E eu, que até sou muito reticente, não posso deixar de pensar que a recusa em falar por parte das mulheres portuguesas precisa de ser explicado.
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