quarta-feira, novembro 22, 2006

Revolução francesa e Portugal 1

Bonito sarilho. Não que não tivesse pensado na resposta. Mas não me apetece nada discorrer sobre este assunto. Poderia deixar a pergunta de um post anterior suspensa. Na realidade ando a adiar. Mas não consigo avançar na questão do que é a Revolução, por isso lá vou ter que pensar numa solução para esta questão que agora me persegue. Solução insatisfatória, pois que tanto sei eu que possa fechar de alguma forma esta questão de saber porque razão a Revolução francesa que rastilhou muitas sociedades europeias, não teve repercussão imediata na nossa? Não quero fechá-la, procuro saber.


A Gazeta de Lisboa” edita a última notícia sobre os acontecimentos revolucionários em França a 5 de Setembro de 1789. A partir desta data só volta a fazer referência à França no dia 15 de Dezembro de 1789 e com uma notícia, ocorrida e datada de 24 de Novembro, acerca de uma discussão tida na “Academia Real das Ciências” de Paris sobre … astronomia.
Quer dizer, no dia 5 de Setembro ainda há a oportunidade do correspondente em França ver publicado um longo extracto da sua carta escrita em 11 de Agosto, relativa ao que se passou na “Assembleia Nacional Francesa”. No artigo impresso pode-se ler:
A 5 d` Agosto teve principio a sessão da Assemblea Nacional pela leitura do processo Verbal da Sessão do dia precedente: sessão, que será sempre assinalada nos Annaes da França

E a sessão de 4 de Agosto ficaria nos Anais de França, porquê? Porque nesse dia se discutiu “(…) a questão dos direitos do Homem e do Cidadão.”, conforme noticiou a gazeta publicada a 3 de Setembro em Lisboa.

Mas a partir de 5 de Setembro de 1789 estabelece-se o silêncio, em edições impressas com autorização real, sobre os acontecimentos revolucionários em curso. Auto-censura por parte do editor, com temor de uma suspensão da licença de imprimir (privilégio régio)?
Na realidade eu não encontrei provas de que o redactor ou o correspondente da “Gazeta de Lisboa” tivessem sofrido quaisquer pressões oficiais registadas. Não encontrei parágrafos, textos ou ideias censuradas nos manuscritos. Onde procurei, não encontei sinal de censura directa e explicita.

Sabe-se que em Portugal se discutiu a questão dos direitos do homem e do cidadão, mas não se encontra uma publicação com a Declaração propriamente dita. Como é que os leitores saberão então do que se está a escrever, quando se escreve no jornal oficial que há uma discussão relacionada com os direitos na Assembleia Nacional? Onde é que os portugueses tinham ido buscar essa informação?
A sociedade está consciente das ideias e dos actos revolucionárias franceses, porque, como nos diz Tengarrinha no seu livro História da Imprensa Portuguesa, editado pela Caminho e esgotadíssimo há anos:
”No púlpito, frades e padres trovejavam contra os novos ideais subversivos; no seio das famílias nobres ou abastadas reinava o terror contra os ímpios assassinos de Luís XVI. No entanto, sub-repticiamente, insidiosamente, nos botequins, cafés, bilhares, às esquinas onde apareciam pasquins alusivos aos acontecimentos de França, as ideias revolucionárias eram discutidas com voz prudente, mas cada vez mais amplificada.” pp.78-79
Então se eram os "pasquins", folhas volantes ou outras edições proibidas que entravam e circulavam ilegalmente em Portugal a informarem o povo, porque não juntou este a sua acção à acção revolucionária dos outros povos? Afinal estava informado sobre o que se passava.

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