quinta-feira, novembro 16, 2006

Sobre a revolução 2


As ideias, e as palavras que as manifestam, têm uma história. A história das ideias. Isso mesmo é reedito por Arendt quando procura situar no tempo o aparecimento das palavras, e do significado que hoje lhes é atribuído. E isso para palavras como revolução, igualdade ou liberdade. Podiam ser outras.
O termo revolução, por exemplo, viu o seu significado original, usado num contexto astronómico, ser alterado (a revolução “designando o movimento rotativo regular das estrelas que, desde que se soube estar para além da influência do homem e ser por isso irresistível, não era evidentemente caracterizado nem pela novidade nem pela violência.”, p.p. 48 e 49), e essa alteração começou por ocorrer quando no séc. XVII é utilizado como termo político pela primeira vez, significando no entanto ainda o mesmo que “restauração”: “Assim, a palavra começou por ser empregada, não quando aquilo a que chamamos uma revolução rebentou em Inglaterra e Cromwell fez surgir a primeira ditadura revolucionária, mas, pelo contrário, em 1660, após a destituição dos restos do Longo Parlamento e por ocasião da restauração da monarquia. A palavra foi usada, precisamente com o mesmo sentido, em 1688, quando os Stuarts foram expulsos e o poder real foi transferido para William e Mary. A “Gloriosa Revolução”, o acontecimento através do qual, paradoxalmente, o termo encontrou o seu definitivo lugar na linguagem histórica e política, não foi de modo algum uma revolução, mas a restauração do poder monárquico na sua glória e integridades anteriores”. pp. 49 e 50.
Então, quando é que o termo revolução adquire este novo significado agora difundido e aceite de fenómeno criador de uma nova ordem de coisas, mesmo se para isso se fizer uso da violência, e deixou de significar a restauração de uma desejável ordem antiga? Com a revolução americana e francesa?

E se há uma história para a palavra e para a ideia política como a da revolução, por exemplo, e se esse tempo é identificado como o que surge da pré-modernidade em diante, quer isso dizer que a ânsia de alterar radicalmente o estado de coisas onde se vive, mesmo que recorrendo à violência, não era experimentado por povos da antiguidade? Porquê? O que (ou quem) opera esta mudança?
E o que estava a acontecer em Portugal nesse tempo?

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