Como é que se pode continuar a ser crítico sem que isso represente uma traição? Tende-se a confundir a crítica com maledicência. Porque nos sentimos tão agastados com a primeira? É como se a alternativa fosse entre a perpétua mentira e a perpétua mágoa.
Nas famílias isso dá episódios caricatos. Há quem defenda os seus contra tudo e contra todos não importa as acções ou as circunstâncias, e se assanhe com algo que um estranho ou um familiar menos aceite possa realizar. Sendo que esse espírito de clã, tão sublinhado nos filmes americanos de 1 mas também nos de 5 estrelas, revela de princípio de unidade e de protecção do indivíduo pelo grupo mas também de falsidade. Mas se não fosse a história de família, que se confunde na nossa mente com os dias solarengos da infância, e esta falsidade cortesã, o que seria dela na maior parte do tempo?
Em relação aos países ocorre fenómenos semelhantes. Há quem os atraiçoe de forma imponderada debitando misérias pátrias em terras de outros, ou generalizando erros em terras próprias, e há quem esconda, por detrás de uma adesão emocional sem reservas, qualquer crítica ao seu torrão. E no entanto, há ainda os proscritos de um lado e do outro, os que dizem que preferir é conhecer. E conhecer é conhecer a coisa amada, mas também em perspectiva com todos os outros, e os outros perspectivados pelo amor à coisa. Não é melhor, nem tem que ser pior. É mais desconfortável e mais dura esta lucidez. E será ela verdadeira ou simplesmente malcriada, ou, então, apenas isso, lucidez?
É muito difícil quando não se tem um livrinho com regras aceite universalmente, e ter que pensar autonomamente. Como todos os filósofos o souberam e Kant tão bem explicou.
Nas famílias isso dá episódios caricatos. Há quem defenda os seus contra tudo e contra todos não importa as acções ou as circunstâncias, e se assanhe com algo que um estranho ou um familiar menos aceite possa realizar. Sendo que esse espírito de clã, tão sublinhado nos filmes americanos de 1 mas também nos de 5 estrelas, revela de princípio de unidade e de protecção do indivíduo pelo grupo mas também de falsidade. Mas se não fosse a história de família, que se confunde na nossa mente com os dias solarengos da infância, e esta falsidade cortesã, o que seria dela na maior parte do tempo?
Em relação aos países ocorre fenómenos semelhantes. Há quem os atraiçoe de forma imponderada debitando misérias pátrias em terras de outros, ou generalizando erros em terras próprias, e há quem esconda, por detrás de uma adesão emocional sem reservas, qualquer crítica ao seu torrão. E no entanto, há ainda os proscritos de um lado e do outro, os que dizem que preferir é conhecer. E conhecer é conhecer a coisa amada, mas também em perspectiva com todos os outros, e os outros perspectivados pelo amor à coisa. Não é melhor, nem tem que ser pior. É mais desconfortável e mais dura esta lucidez. E será ela verdadeira ou simplesmente malcriada, ou, então, apenas isso, lucidez?
É muito difícil quando não se tem um livrinho com regras aceite universalmente, e ter que pensar autonomamente. Como todos os filósofos o souberam e Kant tão bem explicou.
"Semear preconceitos é muito pernicioso, porque acabam por se vingar dos que pessoalmente, ou os seus predecessores, foram os seus autores. Por conseguinte, um público só muito lentamente pode chegar à ilustração. Por meio de uma revolução poderá talvez levar-se a cabo a queda do despotismo pessoal e da opressão gananciosa ou dominadora, mas nunca uma verdadeira reforma do modo de pensar. Novos preconceitos, justamente como os antigos, servirão de rédeas à grande massa destituída de pensamento."
Kant, "Resposta à pergunta o que é o iluminismo?", in A Paz perpétua e outros opúsculos
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