sábado, fevereiro 24, 2007

igualdade em liberdade

Esta questão da igualdade. Nunca compreendi os detractores deste valor. Nem nunca compreendi porque há-de este valor entrar em conflito com esse outro da liberdade. Mas eu, tendo uma matriz de pensamento europeia, talvez possa compreender melhor essa conciliação e ver assim com mais facilidade como o argumento dos que identificam a igualdade com uniformidade é falacioso. Esta não é reversível naquela, e criticar a uniformidade não equivale a atacar a igualdade. Todavia, John Rawls, que viveu num país de grandes desigualdades sociais e que privilegia normativamente a liberdade como valor supremo para a acção humana, procurou rejeitar ao mesmo tempo uma imposição do valor de igualdade como objectivo político autoritário, mas também procurou rejeitar o valor da liberdade dos mais favorecidos explorarem aqueles que o são menos do ponto de vista económico, tendo como fim a eficácia económica. Uma tentativa de solucionar o problema da coexistência social destes valores.
A igualdade manifestar-se-ia no “princípio de igualdade de oportunidades” no sentido de criar uma maior justiça social, e, obviamente, segundo um “princípio de igual liberdade”. Se quanto a esta as questões, mais políticas, têm sido conduzidas a bom porto nas sociedades ocidentais, ainda que às vezes haja reservas, como no caso da liberdade de imprensa em Estado de guerra declarada, por exemplo, quanto ao primeiro, que mexe com o dinheirinho, é que as teorias e as práticas têm sofrido grandes ajustamentos e reformulações, pois caberá sempre perguntar pelos critérios do que se entende por igualdade de oportunidades, e como é que precisamente se pode proceder justamente à aplicação de uma política que faça todos os cidadãos beneficiarem igualmente das oportunidades, redistribuindo-as segundo as necessidades. Mas como definir o que é e como se deve fazer essa redistribuição? E como definir o que é equitativo sem cair no autoritarismo de regime?

Se me perguntar a mim mesma se acho que os ricos devem ajudar os pobres, eu respondo que os ricos não devem explorar os pobres. É uma atitude diferente, totalmente diferente.

A história dos sapatos de pele de porco.

Um tio, que não era meu mas podia bem sê-lo, sentou-se a meu lado. Contou-me histórias do Sul, de durante a guerra. A minha ascendência é beirã e do oeste ribatejano, tenho uma memória familiar diferente, porque diferente é a distribuição das terras nestas regiões. A pobreza não era tão avassaladoramente pobre como terá sido mais a sul, de cidadãos sem terras para subsistência, porque região de grandes concentrações de propriedades. O tio contou-me então que calçou os primeiros sapatos aos catorze anos, eram uns soberbos sapatos feitos pelo irmão, já mestre sapateiro, que tinha pedido uns restos de pele de porco para lhos confeccionar. Catita, só os tirava dos pés para dormir…o pior era no Verão, confidenciou-me, é que não havia nem cão nem gato lá na cidade que não lhe andasse ao encalço dos pés. O que nos rimos com a fantástica história. E desta vez nem sequer vou acrescentar nenhuma moral.

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