Este texto parecerá muito afastado do tema anterior. Mas eu julgo que não é. Vejamos bem como funcionam os processos de entrada e progressão nos sistemas de poder, num artigo escrito por Elísio Estanque e que pode ser lido na íntegra no blogue BoaSociedade.
"Como afirmou recentemente o conhecido sociólogo Ralf Dahrendorf, mesmo aqueles (poucos) que chegam às elites pelo seu talento fecham as portas atrás de si logo que tenham alcançado o seu status. «os que lá chegaram por 'mérito’ passam a querer ter tudo o resto – não apenas poder e dinheiro, mas também a oportunidade de decidir quem entra e quem fica de fora». Assim, pode dizer-se que a retórica da «meritocracia» não passa, regra geral, disso mesmo, nomeadamente no acesso ao emprego de um jovem recém formado. Em vez disso, parecem cada vez mais fortes as redes informais e o «capital social», o que remete directamente para a questão das influências que a família de origem possui. Muito embora a formação superior e o diploma avançado seja um requisito fundamental, ele exige como complemento decisivo, não apenas o mérito e o conhecimento, mas sim conhecer quem vai abrir a porta. Como dizem os ingleses «the important is not what you know, but who you know». E isto é também uma questão «de classe»."
Sobre o autor Ralf Dahrendorf.
Uma entrevista com o mesmo, intitulada "Justiça Social não é feita em tribunais".
Excerto da obra Class and Class conflict in Industrial Society
Hoje mesmo se poder ler no Jornal Público uma carta de uma leitora que fazendo parte do Conselho Executivo de uma Escola Secundária de Lisboa nos conta como se tornou perverso o novo sistema de contratação livre de docentes por parte da escola. A ausência de critérios pré-definidos que, em tempo útil, permitam a uma escola avaliar sobre a entrada de um professor para leccionar, com as consequentes pressões para escolher este ou aquele candidato, por motivos alheios aos da sua avaliação por comparação de mérito, está a dar a confusão que pessoas experientes ha´muito previam. Claro que uma lista ordenada nacionalmente por classificações e números de anos de trabalho perturbava as almas. Que almas?
Atente-se na citação de Joaquim Manuel Magalhães feita no Almocreve das Petas, num post intitulado "O Ministério da Educação":
"Mais do que o TLEBS ser bem ou mal em si, o que importa é quem tentou implementar isso. Se o Ministério da Educação fosse um lugar credível para os professores, estes, os principais envolvidos em todo o processo, seriam capazes de dialogar e de intervir de modo a que se modificasse muita aresta mais incómoda. Os professores não precisam de interventores culturais a falarem por eles. São gente, na sua maioria, informada, dedicada e habituada ao diálogo transformador. O problema está em que desacreditaram de tudo o que possa vir de um ministério que os apoucou, aviltou e desautorizou. Um ministério que elegeu como inimigo a abater, diga o que disser na sua demagogia, aqueles a quem devia servir. Sobre este assunto já o Padre António Vieira se pronunciou, como talvez nos ministérios se não saiba. Quotidianamente, a escola serve ao ministério para abater a autonomia do professor: nos horários em que o rouba, nas avaliações em que o conspurca, nas portarias em que o desumaniza. Perante esta situação de abate sistemático, esta via de desprezo pela vontade continua de aprendizagem e actualização, mesmo sem ter apoios económicos de lado nenhum, a que o professor geralmente gosta de se dedicar, esta espoliação do tempo para pensar e informar-se e ler e ir ao teatro e ao cinema e às exposições onde o melhor de si pode apreender o melhor dos outros, esta transformação do professor de educador e amigo dos seus alunos em criado de servir e bode expiatório do inevitável insucesso escolar: como há-de alguém querer interessar-se por qualquer proposta que surja de um declarado inimigo assim? TLEBS e outras situações existentes não perderam por causa das opiniões abalizadas que as atacam - e que eu estou longe de discutir aqui, tanto mais que em muitos casos concordo com essas opiniões. Perderam porque ninguém respeita nem pode respeitar um ministério como este que lhes caiu em sorte"[Joaquim Manuel Magalhães, in Algumas Palavras, Expresso-Actual, 9/02/2007]
A pensar é também o que nos convidam a fazer os artigos "Boicotes" do prof. Alberto Castro e "Histórias com final feliz" do Jornalista Sérgio Andrade no Jornal de Notícias.
E é de sublinhar a consciência de Pedro Correia no post "O dia seguinte" do blogue Corta-fitas que nos alerta para o que é agora verdadeiramente importante questionar no pós-referendo.
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